Metade dos alunos do 3º ciclo entra em conflito com os colegas

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Estes são os dados preliminares de um estudo que abrange 11 escolas da região de Lisboa e que hoje vai ser apresentado nas jornadas de educação sobre violência escolar e saúde infantil, promovidas pela Organização Mundial de Educação Pré-Escolar (OMEP), em Lisboa.

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Estes são os dados preliminares de um estudo que abrange 11 escolas da região de Lisboa e que hoje vai ser apresentado nas jornadas de educação sobre violência escolar e saúde infantil, promovidas pela Organização Mundial de Educação Pré-Escolar (OMEP), em Lisboa.

O objectivo do estudo, coordenado pela Escola Superior de Educação João de Deus, é conhecer melhor o fenómeno de violência escolar e estabelecer os perfis dos alunos envolvidos - agressores e vítimas. Sónia Seixas, da Escola Superior de Educação de Santarém, e José António Carochinho, da Universidade Lusíada do Porto, estão a desenvolver esta investigação e pretendem ainda comparar os miúdos agressivos e as vítimas com os que não se envolvem nos conflitos.

Ao todo foram inquiridos 680 alunos de 11 escolas da Grande Lisboa (Sintra, Almada, Odivelas, Loures e Lisboa), de 33 turmas (uma de cada ano escolar do 3º ciclo), dos 12 aos 17 anos de idade. Sónia Seixas diz que há uma tendência para a violência decrescer à medida que a escolaridade aumenta, ou seja, no 7º ano há 38 por cento de incidentes, mas no 9º são já 27 por cento. Por isso, a investigadora acredita que as percentagens de agressões, físicas ou verbais, no secundário serão muito baixas e que a incidência no 3º ciclo tem relação com a entrada na adolescência.

Eles agridem mais do que elas

Os rapazes - sete em cada dez - são os principais agressores e estão em maioria mesmo entre as chamadas "vítimas agressivas" (80 por cento). Entre os que sofrem a violência, a diferença de géneros está equilibrada - 55 por cento são rapazes e os restantes 45 por cento raparigas. A maioria (70 por cento) do universo que não se envolve em conflitos é composta por raparigas.


Isso não significa no entanto, refere Sónia Seixas, que as adolescentes não sejam agressoras. "Elas fazem, mas de forma menos visível." Em vez de usarem os pulsos ou os pés, as raparigas optam por outros meios, como chamar nomes ou espalhar boatos.

Apesar de os investigadores ainda não terem dissecado os dados sobre o sucesso escolar, é possível afirmar que os agressores chumbam mais do que as vítimas e que têm uma má imagem da escola, que consideram aborrecida. Por seu lado, os que são agredidos gostam de estar na escola, têm bom comportamento e não chumbam tanto.

Os agressores têm perfeita noção do que fazem, aponta Sónia Seixas - "eles sabem que se portam mal". São ainda muito autoconfiantes, têm uma boa imagem de si próprios. Por vezes são populares e têm um elevado grau de aceitação entre os pares: "Dificilmente são rejeitados porque são agressores", realça a professora de Santarém.

Já os estudantes que são agredidos têm, regra geral, baixa auto-estima, são isolados e rejeitados pelos outros, o que os torna um alvo mais fácil. "É como se fossem transparentes."

Em termos da saúde dos alunos - porque o estudo, que ainda não está concluído, procura também perceber quais são as repercussões da violência escolar na saúde dos jovens -, muitos agressores têm comportamentos aditivos, ou seja, consomem álcool (cerveja e bebidas espirituosas) e fumam haxixe. Nalguns casos, o consumo de drogas faz parte da integração no grupo, explica José António Carochinho.

"Apesar de tudo, metade dos inquiridos não se envolve em situações de violência escolar", sublinha Sónia Seixas, acrescentando que as escolas têm optado por programas de sensibilização dos alunos, que têm tido algum sucesso.

Estudos semelhantes estão a ser desenvolvidos em Espanha e em França, coordenados por Gustave Fischer, da Universidade de Metz, que hoje estará também no encontro de Lisboa. No futuro, pretende-se cruzar os dados dos três países, adianta António Ponces de Carvalho, director da Escola Superior de Educação João de Deus.