Raelitas anunciam nascimento de novo clone

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Brigitte Boisselier anunciou ontem o nascimento de nova criança clonada EPA

O pretexto para o abandono dos testes que comprovariam se Eva é de facto uma gêmea genética da sua mãe foi a apresentação de uma queixa num tribunal da Florida por um advogado norte-americano, Bernard Siegal, que pede que a tutela da criança seja retirada aos pais. Se for de facto um clone, a menina "é uma criança vítima de abusos, que está a ser explorada pela Clonaid", e "corre o risco de sofrer de danos, mutações e imperfeições genéticas", afirma o advogado.

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O pretexto para o abandono dos testes que comprovariam se Eva é de facto uma gêmea genética da sua mãe foi a apresentação de uma queixa num tribunal da Florida por um advogado norte-americano, Bernard Siegal, que pede que a tutela da criança seja retirada aos pais. Se for de facto um clone, a menina "é uma criança vítima de abusos, que está a ser explorada pela Clonaid", e "corre o risco de sofrer de danos, mutações e imperfeições genéticas", afirma o advogado.

Foi já marcada uma primeira audiência para 22 de Janeiro, para a qual estão convocados Brigitte Boisselier e Rael, que serão intimados a revelar a identidade dos pais de Eva. Como os raelitas dizem querer proteger a identidade do casal, não se querem arriscar a envolver mais alguém no processo - o cientista independente que deveria confirmar se Eva é ou não um clone. Boisselier, antes de sair de Bruxelas, disse que os pais tinham 48 horas para decidir se querem ou não fazer os testes de ADN.

Mas, de qualquer forma, o processo de verificação independente da clonagem já estava ontem em perigo. É que a credibilidade do jornalista convidado pelos raelitas a observar as análises, afinal, é muito reduzida.

Michael Guillen, que já foi editor de ciência na cadeia de televisão norte-americana ABC, disse que aceitava o convite, em nome de toda a comunidade científica, desde que não tivesse restrições à liberdade em informar. Mas Robert Park, um físico da Universidade do Maryland que se tornou famoso por desmascarar a pseudociência - ou seja, temas como a astrologia ou a telepatia, que se apresentam como se usassem métodos científicos mas na verdade são apenas charlatanice -, chamou a atenção para o currículo pouco invejável de Guillen.

O jornalista, que agora é "free-lancer" e do qual a ABC faz questão de se distanciar, fez uma série de reportagens sob o título "Marginalidade ou Fronteira", no qual cobriu um conjunto de temas de pseudociência de uma forma que fazia pender a balança para a veracidade das afirmações de astrólogos, pessoas que diziam ter a capacidade de prever o futuro ou mover objectos à distância, ou até mesmo a fusão fria e fotografias da aura magnética que algumas pessoas dizem que todos temos.

"Guillen diz coisas como 'temos de suspender o julgamento racional', 'é preciso levar estas pessoas a sério' ou 'estas tipos não são aldrabões'", relata Robert Park, na "newsletter" que distribui semanalmente por correio electrónico. Guillen tem um doutoramento em física, mas isso não garante que seja uma fonte de confiança para destrinçar a charlatanice da verdade, diz Park: "Guillen tem as credenciais de que a Clonaid precisa. "Um doutoramento em física, afinal de contas, não é uma vacina contra o disparate."

A polémica promete continuar, bem como o receio pela saúde de outras crianças - Rael diz que tem 2000 interessados em clonar bebés. Por isso, as autoridades da Coreia do Sul fizeram buscas nas instalações dos raelitas, e o mesmo aconteceu nos Estados Unidos. Mas, apesar destas acções, os receios relativos à saúde de crianças eventualmente clonadas - noutros mamíferos, a taxa de sucesso da clonagem é muito baixa, e nascem muitos animais com sérios defeitos genéticos e problemas de saúde - continuam elevados. A Associação Americana para o Avanço da Ciência divulgou um parecer em que não só condena os raelitas como apela à sociedade para que não leve as suas afirmações muito a sério.