Bruce Springsteen iniciou digressão em New Jersey em frente às Torres Gémeas

Foto
Bruce Springsteen evoca a memória do 11 de Setembro DR

Qualquer concerto de Bruce Springsteen constitui um festival de emoções, mas raramente o músico americano terá conseguido gerar um efeito semelhante como na noite de arranque da sua digressão americana. O espectáculo decorreu, simbolicamente, em East Rutherford, New Jersey, na margem oposta ao rio onde as Torres Gémeas do World Trade Center tombaram há onzes meses atrás.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Qualquer concerto de Bruce Springsteen constitui um festival de emoções, mas raramente o músico americano terá conseguido gerar um efeito semelhante como na noite de arranque da sua digressão americana. O espectáculo decorreu, simbolicamente, em East Rutherford, New Jersey, na margem oposta ao rio onde as Torres Gémeas do World Trade Center tombaram há onzes meses atrás.

O último álbum de Springsteen, "The Rising", recentemente editado, é uma reflexão sobre a capacidade de recuperação da nação americana depois do ataque terrorista. Em palco, o músico, nascido precisamente em New Jersey, não perdeu tempo a dar à audiência canções que expressam aquilo que muitos viram e sentiram naquela data.

Com o suporte da E Street Band, o cantor abriu o concerto na Arena Continental Airlines com o tema-título do álbum, naquele que constitui um testamento de optimismo e fé, construído à volta de refrões como: "come on up for the rising/come on up for the rising tonight". A maior parte das pessoas estava de pé, e depois do refrão começou a cantar em voz alta. Mais tarde, no entanto, quando o cantor e compositor americano começou a interpretar os temas mais melancólicos do álbum como "Empty sky" ou "You're missing" - ambas as canções, expressões de perda - viam-se lágrimas na face de alguns fãs.

No entanto, a noite, não foi apenas feita de sombras. Durante o luminoso "Waitin' on a sunny day" as luzes do espaço baixaram ligeiramente para a audiência cantar em uníssono. Springsteen sorriu pela primeira vez e disse: "estou impressionado!". A localização do concerto contribuiu para a criação de um clima especial. Muitas das cerca de 3000 pessoas mortas a 11 de Setembro eram de New Jersey, incluindo 150 de Monmouth County, onde Springsteen possui uma quinta.

O sentimento da noite foi mudando, com a maior parte das 11 canções novas a serem ouvidas de forma atenta e respeitosa, mas temas antigos como "Thunder road" de 1975 ou "Glory days" de 1984 foram ouvidos de forma descontraída, fazendo recordar os tempos em que assistir a um concerto a meio da semana com uma cerveja na mão não significava nada de especial. Quando estava a ser tocado "Glory days", as luzes subiram e as pessoas olharam umas para as outras, aparentemente sem constrangimentos por estarem a cantar letras com muito sentimento.

Max Cripe, 51 anos, com uma t-shirt do Liceu de Boston, agarrou na sua mulher durante a interpretação de "Glory Days" e começou a andar à roda com ela. Antes de começar a cantar "Mary's place" do novo álbum, Springsteen, explicou que era inspirado pelas suas memórias de 12 anos, quando vivia em New Jersey com a sua família. Por sua vez, Charlton Bulkin, que veio de Atalanta, disse que tinha que estar em New Jersey para experimentar a música e as palavras num local não muito distante onde tudo aconteceu a 11 de Setembro. "Springsteen tem a rara qualidade de pintar um grande quadro, um mural, com apenas algumas palavras" disse Bulkin de 29 anos. "Estas canções enriquecem-me, ajudaram-me a perceber o que sentia".

Springsteen, que cantou outros temas antigos como "Born to run", "Prove it all night", "American skin" e "Badlands", serviu-se de "Mary's place" para apresentar os outros membros da banda, brincando com cada um deles. Na apresentação da cantora e sua mulher, Patti Scialfa, chegou a introduzir uma piada sobre Viagra.

O novo álbum do cantor marca um novo recorde na sua carreira pelas vendas conseguidas na primeira semana - 525 mil exemplares - desde que a empresa Nielsen SoundScan começou a produzir as tabelas americanas há dez anos. Depois de se ter separado da E Street Band, na primeira metade dos anos 80, as vendas de discos de Springsteen caíram e a sua relevância no universo rock foi colocada em causa. Mas, quando se voltou a reunir com a E Street Band, em 1999, a digressão foi triunfante e a maior parte dos bilhetes foram vendidos rapidamente. Com o novo álbum, a posição de Springsteen sai reforçada, apesar dos cuidados colocados na promoção do álbum. A editora Columbia chegou a recear que Springsteen fosse acusado de estar a aproveitar-se de uma temática, o 11 de Setembro, de grande sensibilidade. Mas afinal parece que nada disso sucedeu e o disco figura nos principais tops. Neste momento, por exemplo, é 1 lugar do top inglês.

Exclusivo "The Los Angeles Times"/PÚBLICO