O Vento Levar-nos-á

Trata-se porventura do mais belo filme de Abbas Kiarostami, sem necessidade de se refugiar nos artificialismos do "filme no filme", antes tocando a essência da arte das imagens com a secura da simplicidade. É cinema em estado de graça, filmando maçãs, searas e rostos com o rigor e a ternura de quem entende que a narrativa, mesmo nos grandes filmes narrativos de Hawks ou de Ford, pode não passar de um pretexto para olhar, simplesmento olhar. Por isso a metáfora do osso que se deita fora, sem nunca se desvendar o mistério das escavações, contamina a obra, tornando-a tão-só um acto mais-que-imperfeito de ver o mundo, semelhante à bola de estrume que o escaravelho desloca ou à maçã que rebola ante os nossos olhos. E pensamos no poema de William Carlos Williams, chamado "Perfeição", em que a beleza dos contornos de uma maçã e a sua bela cor acastanhada resultam do facto, desinteressante para o poeta, de ter apodrecido.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Trata-se porventura do mais belo filme de Abbas Kiarostami, sem necessidade de se refugiar nos artificialismos do "filme no filme", antes tocando a essência da arte das imagens com a secura da simplicidade. É cinema em estado de graça, filmando maçãs, searas e rostos com o rigor e a ternura de quem entende que a narrativa, mesmo nos grandes filmes narrativos de Hawks ou de Ford, pode não passar de um pretexto para olhar, simplesmento olhar. Por isso a metáfora do osso que se deita fora, sem nunca se desvendar o mistério das escavações, contamina a obra, tornando-a tão-só um acto mais-que-imperfeito de ver o mundo, semelhante à bola de estrume que o escaravelho desloca ou à maçã que rebola ante os nossos olhos. E pensamos no poema de William Carlos Williams, chamado "Perfeição", em que a beleza dos contornos de uma maçã e a sua bela cor acastanhada resultam do facto, desinteressante para o poeta, de ter apodrecido.