"O seu smartphone diz-me: 'Piorou da diabetes e sugiro que marque consulta'"

Deloitte traçou cenários do que pode ser o futuro da Saúde nos países desenvolvidos, já em 2020. Ficção científica para Portugal? Consultora assegura que há espaço no país e que isso pode permitir poupanças financeiras.

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Os dispositivos móveis podem tornar os contactos com os profissionais de saúde mais fáceis e regulares DR

O trabalho Healthcare and Life Sciences Predictions 2020 – A bold future? foi coordenado pela directora do Centre for Health Solutions da Deloitte no Reino Unido, Karen Taylor, e apresentado nesta terça-feira em Lisboa perante uma plateia de gestores hospitalares, médicos e representantes da indústria farmacêutica. A reacção teve uma tónica comum: algum cepticismo perante uma evolução tão rápida, sobretudo quando a realidade portuguesa foi agravada pela crise. “É de facto um período curto, mas, se virmos a forma como as pessoas começaram a utilizar as aplicações nos smartphones, também percebemos que foi tudo num período rápido. O futuro vai depender muito da iniciativa dos consumidores, que vão cada vez mais deixar de ser meros destinatários finais dos produtos e soluções”, contrapõe ao PÚBLICO Karen Taylor.

O documento da Deloitte destaca dez áreas, que vão do consumidor aos prestadores, reguladores, indústria farmacêutica, modelos de negócio, dispositivos móveis e bases de dados. Do lado dos prestadores de cuidados de saúde, a especialista antevê algumas das principais mudanças. Um doente com cancro poderá apenas ir ao hospital para fazer a sua cirurgia e depois fazer a quimioterapia no domicílio. As consultas através de telefone também serão frequentes, com o médico especialista a contactar de forma interactiva e fácil os outros profissionais, como o médico de família ou o farmacêutico. Já os laboratórios vão ter de apostar mais na qualidade dos medicamentos, passando a haver mais partilha de risco consoante os resultados – de que é exemplo o acordo para a hepatite C feito em Portugal.

Toda esta evolução em apenas cinco anos? Margarida Bajanca, responsável pela indústria da Saúde da Deloitte Portugal, admite que nem todos os países vão caminhar à mesma velocidade, mas assegura que em Portugal há projectos-piloto que comprovam que há espaço para alguma desta inovação. “Há dois temas mais relevantes e que se interligam, o tema do big data – que tem sido bastante falado e o próprio Ministério da Saúde criou um grupo de trabalho que já produziu um relatório sobre como se poderia fazer melhor uso da informação em saúde – e a organização dos sistemas de saúde”, explica Margarida Bajanca, que defende que o processo clínico electrónico é fundamental, sobretudo em tempos de crise. “Ao termos mais dados e uma melhor análise, temos uma melhor decisão. Isso permite mudar a forma como se prestam cuidados de saúde”, acrescenta.

Como exemplos de boas experiências, a responsável da Deloitte Portugal lembra o caso da Linha Saúde 24, que há um ano criou um serviço que acompanha idosos com mais de 70 anos a quem liga quinzenalmente. Para Margarida Bajanca este serviço podia evoluir para mais monitorização do estado de saúde que permitisse detectar as doenças ainda em fases mais precoces. Quanto à falta de orçamento, tanto Taylor como Bajanca asseguram que o custo-efectividade que se pode retirar é maior, nomeadamente se passarmos a ver mais os enfermeiros como figuras centrais e com quem se trocam mensagens de telemóvel como as de Maria.

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