Depressão: o regresso da alegria de viver

A medicina tradicional tem-se muitas vezes “esquecido” de abordar o fenómeno da depressão.

A depressão é um estado psicológico caracterizado por nove sintomas característicos:

– tristeza quase permanente;

– perda de interesse ou de prazer por qualquer atividade;

– perturbação do apetite e do peso;

– alteração do sono (insónia ou hipersónia);

– agitação ou torpor;

– sensação de fadiga;

– sentimento despropositado de culpabilidade;

– dificuldade de concentração;

– “ideias negras” como pensamentos de morte e de suicídio.

Quando uma pessoa apresenta pelo menos cinco destes sintomas, todos os dias, durante pelo menos duas semanas, pode-se falar de depressão.

Sendo também uma condição multifatorial, o seu alívio requer que se encarem com eficiência um conjunto de desequilíbrios que lhe podem estar subjacentes.

Assim a depressão tem na sua génese fatores psicológicos, sociais e biológicos que podem influenciar o estado da mente em determinado momento. Tanto pode ser causada por um acontecimento devastador como a doença grave ou perda de alguém próximo, como pode ser devida à acumulação de acontecimentos vários. Há acontecimentos na vida, difíceis e perturbantes, como um stress permanente, a perda da estima em si, os conflitos morais ou o sentimento de solidão ou de vergonha, que se tiverem a sua origem na infância, podem conduzir mais tarde à depressão.

Sobre o plano bioquímico, a depressão é caracterizada por uma perturbação do funcionamento dos mensageiros químicos do cérebro – os neurotransmissores – em particular a serotonina e a noradrenalina. Uma alteração da síntese da serotonina e da noradrenalina (e talvez doutros neurotransmissores) mas também da sua libertação, do seu transporte ou da ligação aos seus recetores, jogam um papel importante na depressão.

Investigação recente liga a depressão a vários fenómenos metabólicos, incluindo a inflamação, a resistência à insulina, ao stress oxidativo e, intrigantemente, também, a um disfuncionamente da mitocôndria.

Além disso, o papel das hormonas na depressão é considerável, incluindo as hormonas do stress – glucocorticóides, e as hormonas sexuais – testosterona, progesterona e estrogéneo.

Muitas pessoas afetadas pela depressão podem assim estar a sofrer de desequilíbrios hormonais que podem estar a contribuir significativamente para os seus sintomas.

A medicina corrente, tem apostado fortemente nas drogas psicoativas que manipulam a química cerebral, como tratamento preferencial. Infelizmente a taxa de sucesso das intervenções farmacológicas para a depressão muitas vezes é inferior a 50%, sendo uma realidade que estes medicamentos estão a maioria das vezes carregados de efeitos secundários, incluindo uma preocupante propensão para um aumento de ideação suicida com alguns deles.

A depressão deve ser encarada na sua natureza complexa, devendo-se, para lhe fazer frente, optar por uma estratégia de gestão global que inclui alterações de estilo de vida proativas, terapia comportamental/sintónica de gestão do stress interno, restauração hormonal, além dum suporte nutricional adequado e personalizado que possa complementar, substituindo em alguns casos o tratamento antidepressivo convencional, de forma a balancear de forma holística a química cerebral.

Por falar de química cerebral, todos nós sabemos da importância gritante que o exercício físico, se efetuado com a devida carga, tem na produção das chamadas endorfinas, não só antidepressivas, como também ansiolíticas, analgésicas e euforizantes.

Resumindo, a medicina tradicional tem-se muitas vezes “esquecido” de abordar o fenómeno da depressão, nos seguintes parâmetros:

desequilíbrio hormonal, a exigir uma modulação bio-idêntica adequada às necessidades e insuficiência ou deficiência nutricional, a exigir a utilização de:

– probióticos - que modulam a flora intestinal,

– curcumina – que controla a eventual inflamação crónica por detrás do fenómeno depressivo, revelada por níveis excessivos de citoquinas no sangue;

– ómega-3 – ácidos gordos polinsaturados de cadeia longa, EPA e DHA, com resultados significativos na redução da sintomatologia anti-depressiva;

aminoácidos como o triptofano - precursor do 5HTP e da serotonina, e tirosina – precursor da dopamina e noradrenalina;

– vitamina D – a nossa principal hormona, com propriedades antidepressivas notórias;

– erva de São João – planta bem tolerada, sem efeitos secundários;

– vitaminas do grupo B – a sua baixa de concentração sanguínea está relacionada com um risco mais elevado de sintomas depressivos;

– zinco – influenciando os níveis de serotonina e a atividade cerebral;

– stress oxidativo e disfunção mitocondrial, a exigir a utilização de anti-oxidantes como a vitamina C, E e Selénium e de suportes da mitocôndria como a acetil-L-carnitina e o Co Q10;

resistência à insulina, a exigir por vezes a utilização de metformina.

Uma vez estas situações corrigidas, caso a caso, e sempre com supervisão do médico assistente (não se automedique!), sempre particularmente atento a uma eventual sobreposição com a medicação convencional principalmente inibidores da recaptação de serotonina e norepinefrina, inibidores da monoaminooxidase e antidepressivos tricíclicos não se duvide que o prognóstico melhorará substancialmente.

Saúde!

Médico, doutorado em Ciências da Educação e diplomado em medicina anti-envelhecimento

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