Agência europeia recomenda medicamento para prevenir VIH

O Truvada já é usado para tratar a infecção por VIH-1. Mas agora passa a ser também recomendado para preveni-la. “Era um passo que era necessário dar”, diz ex-director do Programa Nacional para a Infecção VIH/sida.

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Nos Estados Unidos, foi em 2012 que o Truvada passou a ser indicado para prevenir a infecção Justin Sullivan/Getty Images/AFP

A Agência Europeia do Medicamento recomendou nesta sexta-feira que o Truvada passe a ser comercializado como medicamento de prevenção da infecção pelo vírus da sida. É “o primeiro medicamento recomendado na União Europeia para redução do risco de infecção por VIH”, diz em comunicado.

Este medicamento já é vendido na Europa desde 2005, para ajudar a tratar adultos infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) do tipo 1, mas só agora a sua utilização com fins profilácticos — combinada com práticas sexuais mais seguras, frisa a Agência Europeia do Medicamento — passou a ser aconselhada na Europa.

O Truvada contém emtricitabina e tenofovir, dois antivirais que impedem a replicação do VIH nas células humanas. Mas pelo menos dois estudos citados no comunicado da agência europeia demonstram que ele é também um método eficaz de profilaxia pré-exposição (PrEP, sigla em inglês para “pre-exposure prophylaxis”).

A profilaxia pré-exposição é, de acordo com a agência, “uma forma de as pessoas que não estão infectadas com VIH, mas que estão sujeitas a um alto risco de infecção, reduzirem as hipóteses de ficarem infectadas se expostas ao vírus”.

A posição do Comité de Medicamentos de Uso Humano da agência será agora enviada para a Comissão Europeia para que esta adopte uma decisão de alteração da autorização de comercialização do Truvada — de modo a passar a prever o seu uso profiláctico. Depois, acrescenta ainda comunicado, cabe aos Estados-membros tomar uma decisão sobre o preço e a comparticipação do mesmo, tendo em conta o potencial do medicamento no contexto dos diferentes sistemas nacionais de saúde.

Num dos estudos citados pela agência observou-se “uma redução do risco de infecção por VIH em 42%”. O estudo envolveu 2499 adultos não infectados, “homens ou mulheres transgénero, que têm sexo com homens, e que se considerava que estavam expostos a um alto risco de infecção” por não usarem preservativo ou usarem de forma inconsistente.

Um segundo estudo, que envolveu 4758 casais heterossexuais onde um dos parceiros estava infectado, revelou uma redução de 75% do risco de infecção. Em ambos os estudos, pessoas que tomaram Truvada foram comparadas com outras que usaram um placebo.

"Um passo necessário"

A agência europeia refere que, até agora, a prevenção da infecção por VIH tem-se baseado sobretudo no aconselhamento, nos testes que permitem às pessoas saber se estão infectadas e na promoção do uso de preservativo. Contudo, diz, é preciso “intensificar” a estratégia.

É também essa a opinião de António Diniz, ex-director do Programa Nacional para a Infecção VIH/sida. “Era um passo que era necessário dar”, diz ao PÚBLICO. “Estamos com mais de 30 anos de conhecimento da infecção e ainda não conseguimos controlar a transmissão de forma efectiva”, nota o especialista.

António Diniz sublinha, contudo, que a profilaxia pré-exposição “não deve implicar uma substituição da utilização de preservativo”, é “apenas um instrumento adicional”. E sublinha que ela não se destina a toda a gente. Está recomendada para grupos com determinadas características, que pelos seus comportamentos, por exemplo, “estão expostos a um especial risco de adquirir a infecção”. Por isso, os países onde o Truvada já é utilizado para estes fins, caso dos Estados Unidos, “definiram critérios” sobre quais os grupos que devem utilizá-lo.

Nos Estados Unidos, foi em 2012 que o Truvada passou a ser indicado para prevenir a infecção. “Quando tomado todos os dias, a PrEP pode dar um alto nível de protecção contra o VIH, e é ainda mais eficaz quando combinado com o uso de preservativo e de outros métodos de protecção”, lê-se no site do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, a agência pública de saúde dos Estados Unidos.

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