O que Portugal não precisa

Os portugueses, como o pobre país que são, preferem acima de tudo a segurança.

Parece que houve uma grande surpresa com a sondagem da Universidade Católica sobre o voto nas próximas legislativas. Sem razão.

Os portugueses, como o pobre país que são, preferem acima de tudo a segurança. Os partidos do governo vieram à frente não porque tivessem governado bem (governaram mal) ou porque tivessem resolvido os problemas do défice e da dívida (não resolveram) ou porque tivessem atenuado a miséria que a crise provocou (não atenuaram). O que eles fizeram ao fim de quatro anos foi dar ao homem da rua um certo sentimento de rotina e de paz. Como dizia Saint-Simon, durante a desastrosa guerra da sucessão espanhola, acabou por ser simplesmente dar a um povo exausto de miséria e de convulsões uma pequena esperança de paz.

Com erros pelo meio, o governo conseguiu instalar os portugueses numa resignação triste, em si mesma absolutamente inaceitável, mas que, pelo menos, não punha dia a dia o mundo de pantanas. Claro que o melodrama do Syriza ajudou bastante a este regresso à ordem do antigo regime. A irrupção na cena europeia de uma dezena de putativos revolucionários, que se manifestavam tirando a gravata e pedindo aos gritos coisas que toda a gente lhes recusava e a que de qualquer maneira não podiam apresentar o mais vago direito, dividiu Portugal em milhares de causas (muitas manifestamente justas), sem criar um movimento colectivo com objectivos claros, mas pelo contrário levando a suspeita lógica e sensata de que a realidade estabelecia ao desejo limites firmes.

Depois da catástrofe por que passou, o país não quer ser sujeito a uma nova experiência de engenharia financeira ou social, que nada lhe garante que possa emendar (se correr mal) ou parar a tempo (se não lhe convier). A oposição jura pelos planos que nos pretende aplicar. Só que esses planos são vastos demais, pormenorizados demais, dependentes demais de factores que a oposição não controla: e Portugal, embora frustrado e pobre, não precisa de aventuras. O PS talvez consiga ainda alguma gravidade burguesa e juntar à volta de Costa um grupo de indivíduos com um verdadeiro currículo de eficácia e prudência. Como hoje se exibe, nem lhe falta tirar a gravata ou armar um espalhafato por essas televisões. Já se percebeu do que a casa gasta.

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