Seguro acusa primeiro-ministro de persistir em enganar os portugueses

Líder socialista insiste na mutualização da dívida e diz que Governo anda às ordens da chanceler Angela Merkel

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Seguro: as novas medidas anunciadas pelo Governo só “conduzem à pobreza” Miguel Madeira

O secretário-geral do PS acusou este sábado o primeiro-ministro de persistir em enganar os portugueses, preparando-se agora para transformar os cortes provisórios em definitivos.

"Temos um primeiro-ministro que persiste numa coisa: em enganar os portugueses", afirmou o líder socialista, António José Seguro, no encerramento da conferência "Novo Desenvolvimento", organizada pelo partido num hotel em Lisboa.

Recordando que precisamente há uma semana avisou os portugueses para o facto de o Governo ter "uma agenda escondida" e de que "vinham aí mais cortes na ordem dos dois mil milhões de euros", António José Seguro fez alusão ao "corrupio de asneiras" que aconteceu desde então, numa referência indirecta à informação transmitida por fonte do ministério das Finanças de que o executivo pondera criar um mecanismo permanente para substituir a Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES) nas pensões.

"Entre membros do Governo e dirigentes do PSD todos a tentarem dizer que não vinham mais cortes ou se vinham mais cortes era para substituir os actuais e até houve um membro do Governo que em segredo chamou os jornalistas para dizer 'nós vamos fazer mais cortes, mas por favor não digam quem vos disse que vai acontecer e que vai haver mais cortes no nosso país'", ironizou. No final, continuou, a partir de Moçambique, o primeiro-ministro teve de "pedir contenção aos membros do seu Governo".

Classificando a situação como "grave", o líder socialista disse, contudo, ser ainda mais grave que o primeiro-ministro persista em "enganar os portugueses". António José Seguro recuou depois três anos, para lembrar que no dia 1 de Abril faz precisamente três anos que Pedro Passos Coelho disse que tinha feito as contas e que não seria necessário cortar nos salários ou nos subsídios de férias ou de Natal.

Contudo, continuou o líder socialista, assim que chegou ao Governo o líder do PSD fez precisamente o contrário e "enganou os portugueses". "Quando disse que ia fazer esses cortes, o que disse? 'Atenção não são definitivos, são só provisórios, só vai durar o tempo do programa de ajustamento'. O que se está a verificar? Que ele de novo se prepara para enganar os portugueses e que, infelizmente, se prepara para transformar cortes provisórios em cortes definitivos", sublinhou, acusando Passos Coelho de criar "incerteza junto dos portugueses" e de ter apenas "uma perspectiva contabilista, no pior sentido do termo" da sociedade, em vez de uma perspectiva reformista.

Passos, o aliado de Angela Merkel
"Temos um Governo que nem tem ideias, nem tem estratégia, porque não tem vontade política, nem vontade para ir à procura de aliados. O Governo português só tem um aliado: a agenda neoliberal da senhora Merkel", apontou o secretário-geral socialista.

Recuperando a questão da mutualização da dívida, António José Seguro recusou a ideia de que sejam os europeus a pagar a dívida portuguesa. Contudo, sublinhou, é importante ter em conta que 15 dos 18 países que fazem parte da união económica e monetária têm uma dívida pública superior a 60 por cento, o limite definido pelos tratados.

"Essa é uma razão suficiente para dar uma resposta europeia ao problema das dívidas públicas, não apenas por causa desse rácio, mas também porque é necessário dar um sinal aos mercados e combater a especulação", defendeu, preconizando que o Banco Central Europeu financie directamente os Estados, emprestando dinheiro ao mecanismo europeu de estabilidade.

O que acontece agora, explicou, é que o Banco Central Europeu empresta dinheiro aos bancos comerciais, que por sua vez emprestam dinheiro aos Estados, mas a uma taxa de juro muito mais elevada. "Isto não é aceitável", vincou, considerando que se a Europa se encarregar de gerir a parte superior aos 60 por cento da dívida de todos os 15 países, "a taxa de financiamento dessa dívida será mais baixa do que se for cada um por si".

"Compreendo que os países que não têm este problema sejam menos sensíveis, o que eu não aceito é que o primeiro-ministro do nosso país não seja sensível e se tenha recusado a combater ao lado do PS para que essa proposta possa ser aceite no seio da União Europeia", acrescentou o líder socialista.
 

   


 

   

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