“Faz todo o sentido” ter Guterres como secretário-geral da ONU

Nuno Severiano Teixeira considera que o antigo primeiro-ministro e Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados tem o perfil ideal para subir ao topo da ONU e que Portugal deveria apoiar a candidatura.

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Tories não gostaram das críticas de António Guterres REUTERS/Denis Balibouse

Seria a conjugação perfeita: ter um secretário-geral da Organização das Nações Unidas português com ampla experiência na questão dos refugiados, o assunto mais premente no panorama internacional europeu. António Guterres preenche todos os requisitos para o cargo que fica vago no próximo ano, admite Nuno Severiano Teixeira, antigo ministro da Defesa Nacional do PS. Falta aferir da disponibilidade de próprio.

António Guterres viu prolongado por mais seis meses o seu mandato como Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, terminando no fim deste ano. Há cinco meses garantiu, numa entrevista à Euronews, que não é “candidato a candidato” à Presidência da República. E esta semana, questionado sobre uma candidatura a secretário-geral da ONU limitou-se a dizer que “seu tempo se verá o que faz sentido” pensar nisso.

Por seu lado, Severiano Teixeira não poupa nos argumentos. “Portugal tem, no período da democracia, uma relação com as Nações Unidas que justifica um cargo dessa natureza.” E enumera: “participou em três presidências com um exercício de sucesso, tem uma participação constante em missões de paz das Nações Unidas muito acima da dimensão do país, e deu um grande caso de sucesso de uma transição internacional monitorizada pelas Nações Unidas que é Timor”.

Por isso, para o também director do IPRI – Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, “do ponto de vista político faz sentido e do ponto de vista das competências faz todo o sentido que, se essa questão se puser, Portugal tenha um secretário-geral das Nações Unidas”. “O engenheiro António Guterres preenche todas as condições: é um alto quadro das Nações Unidas, neste momento a questão dos refugiados é uma questão candente e, portanto, um secretário-geral que vem de Alto Comissário para os Refugiados faz sentido até do ponto de vista da actualidade”, reforça.

Para Nuno Severiano Teixeira, ter Guterres no mais alto cargo da ONU “seria do interesse nacional e Portugal deveria apoiá-lo”. Falta saber se há uma “disposição individual do engenheiro Guterres para se candidatar. Eu gostava muito”, acentua.

No colóquio que assinalou os 70 anos da ONU e os 60 da participação de Portugal naquela organização, tanto Severiano Teixeira como o ministro Rui Machete salientaram o papel das Nações Unidas na libertação e independência de Timor-Leste. E o antigo ministro da Defesa salientou os benefícios da presença portuguesa em operações militares de paz e missões humanitárias, reflectidos na “profissionalização, internacionalização e modernização das Forças Armadas nacionais, assim como no prestígio internacional e na credibilidade externa de Portugal”.

O antigo governante socialista não resistiu a deixar uma crítica ao referir que a actual participação de Portugal em missões de paz “atingiu os mínimos históricos da democracia portuguesa”. Severiano Teixeira diz que os valores da “produção de segurança internacional, a defesa da diplomacia e dos direitos humanos, assim como a credibilidade e o prestígio” estão a ser “atropelados em nome de interesses e de uma chamada diplomacia económica. Escuso-me de dar os exemplos.”

E deixou um aviso: “Não sou ingénuo. Sei que a política externa é feita de interesses, mas também sei que a política externa de Estados democráticos não pode ignorar os valores em que assenta. Porque se o fizer, a médio prazo acaba por ferir os seus próprios interesses.”

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