“Esta escola já acabou” e é preciso “um pensamento diferente”, defende Sampaio da Nóvoa

No debate organizado pela candidatura cidadã Livre/Tempo de Avançar, houve críticas a Nuno Crato e ao actual estado da educação

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Sampaio da Nóvoa diz não serem "os jovens que precisam de Portugal, é Portugal que precisa das oportunidades que só os jovens podem dar”. Miguel Manso

O ex-reitor da Universidade de Lisboa, Sampaio da Nóvoa, defendeu que “esta escola” que existe agora “já acabou”, “não faz sentido no século XXI”.

Aquilo em que Sampaio da Nóvoa, que tem sido apontado como possível candidato às presidenciais, acredita é numa escola que permita a cada aluno construir o seu próprio percurso educativo, modelos que já estão a ser postos em prática em alguns estabelecimentos, mas, lamentou, com menos expressão na escola pública. Sampaio da Nóvoa foi apenas um dos oradores do debate Educação, Democracia e Desigualdades, promovido pela candidatura cidadã Livre/Tempo de Avançar, que decorreu neste sábado em Lisboa.

O ex-reitor lamentou as “práticas selectivas” baseadas em exames, as “políticas de privatização do ensino”, as “estratégias de desvalorização da formação docente”. E usou várias vezes a palavra liberdade - liberdade “de uma escola que tem de abrir novos mundos e não fechar a criança nos mundos que já conhece”. Neste aspecto, não poupou críticas nem à direita, nem à esquerda, acusando ambas de, por vezes, não “abrirem novos mundos à criança”.

Criticou “esta escola que se construiu de uma forma uniforme” e “que serviu para um tempo que já não é o nosso”. Para Sampaio da Nóvoa, “o ponto central desta revolução que está em curso é conseguir que cada criança tenha o seu próprio percurso” educativo: “Só assim poderemos atacar o insucesso e o abandono escolar”, afirmou, frisando que este tipo de alternativas já está a ser posta prática em “muitos lugares, mas de forma limitada nas escolas públicas”.

 O ex-reitor refere-se ao facto de a escola apresentar hoje um modelo para um universo de alunos heterogéneo, embora já haja estabelecimentos com projectos educativos em que os alunos podem, por exemplo, escolher as matérias que vão estudar e quando querem ser avaliados.

Sampaio da Nóvoa não fugiu à questão da formação docente ou do acesso à profissão, mas defendeu que essas “mudanças têm de ser feitas com os professores”, numa “lógica de política de debate e participação constante”. De uma forma geral, insistiu que é preciso um “pensamento diferente” e não repetir “sempre as mesmas coisas”. “Sem educação não há independência nem liberdade”, disse, frisando que esse compromisso tem de começar na escola pública.

Mas o que quer o Livre/Tempo de Avançar para a Educação? No debate foi distribuído um documento que expressa já várias propostas: reforço orçamental para a educação; reduzir o número de alunos por turma; garantir ofertas educativas para adultos, entre muitas outras ideias. É apenas um primeiro documento. O debate serviu, explicou também o coordenador do grupo de educação da candidatura, Pedro Abrantes, para trazer novas ideias para o programa eleitoral. 

Ana Drago, membro da comissão coordenadora do Tempo de Avançar, também sublinhou a preocupação com o abandono e o insucesso escolar. Lembrou a turbulência no arranque deste ano lectivo, a falta de auxiliares educativos. Quer uma escola que integre de igual forma alunos de diferentes estratos socioeconómicos. Não quer uma escola como a que preconiza o ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, que defende, entre outros aspectos e reduzindo “o projecto educativo”, que “o fundamental é a escola ensinar a ler, escrever e contar”. Mas também teceu críticas à ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues, que seguiu um caminho “de somar coisas à escolas”: introduziu mais “burocracia na vida dos professores” e “a vida dos alunos foi inundada de novas disciplinas, novas áreas curriculares”. 

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