Eduardo Lourenço acredita que uma revolução "eufórica e democrática" ajudaria a sair da crise

O ensaísta, pensador e filósofo português acredita que Portugal vai ser capaz de sair da "situação humilhante" em que se encontra mas ainda não sabe como.

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Eduardo Lourenço e Vasco Lourenço em mais um Animado Almoço Ânimo Rui Gaudêncio

O quotidiano esteve à mesa e foi precisamente o quotidiano das pessoas o motor para a conversa que se seguia com Eduardo Lourenço, convidado de honra desta quarta-feira de mais um AAA (Animado Almoço Ânimo), na associação 25 de Abril. Um almoço promovido e mediado por António Colaço. 

Sobre o momento de crise que o país atravessa, Eduardo Lourenço sublinhou que Portugal não está sozinho e que a crise é do sistema global". Apesar de o fim do regime autoritário ter tido muitos aspectos positivos e de ter recuperado “um certo número de atrasos que as pessoas não se dão conta”, estamos hoje, e mais uma vez, numa “situação humilhante, que ainda não sabemos como sair dela”, salientou o pensador.

“Apesar das desilusões daqueles que supostamente nos iam resolver a crise [a troika] ”, Eduardo Lourenço acredita que o país vai conseguir resolver os seus problemas porque Portugal já conseguiu arranjar anteriormente “esquemas de sobrevivência”, fazendo referência ao “milagre português” patente na esperança eterna do regresso de D. Sebastião. “O homem é naturalmente religioso (…) não há nada mais supersticioso que os políticos, até mesmo os ateus, que vão à bruxa em vez de ir a Fátima”, explicou Eduardo Lourenço.

Para solucionar a crise, acredita numa revolução "democrática e eufórica" – “uma revolução que, democraticamente, ponha fim à humilhação nacional que nos diminui e nos torna indignados, por nos terem imposto a tutela da ordem económica para pagar dívidas”. E ironiza: “Dívidas para pagar compras que pessoalmente não pedi para fazerem ”.

O desejo de Eduardo Lourenço centra-se sobretudo na capacidade que a democracia – "a mais difícil das utopias que se inventou" – tenha de cumprir a sua missão. “A democracia tem de se aguentar, não pode excluir ninguém, nem aqueles que efectivamente não concordam com ela”, disse.

O ensaísta falou da questão da identidade portuguesa e da forma como os portugueses se vêem a si mesmos, exemplificando com os recentes momentos de glória nacional – a distinção de Cristiano Ronaldo como melhor jogador de futebol do mundo e a morte de Eusébio, encarada como símbolo do clubismo benfiquista e de idolatria nacional.

O filósofo sublinhou ainda que “Portugal sofre de hiperidentidade”: “É difícil conceber uma orgia identitária como aquela que verificámos com a distinção de Cristiano Ronaldo como o melhor jogador do mundo”, apontou. Momentos de glória distintos dos da época das cruzadas (Descobrimentos), mas que na prática correspondem a sentimentos de compensação, pelo facto de sermos um país pequeno.  

Segundo Vasco Lourenço, presidente da associação 25 de Abril,  Eduardo Lourenço é uma figura necessária à defesa dos ideais e valores democráticos da revolução dos cravos. “A certa altura já não sabemos o que comemorar”, desabafou o tenente-coronel Vasco Lourenço.

“É preciso subverter a população portuguesa, que precisa de líderes de opinião que tenham influência”, frisou o antigo capitão de Abril, para quem Eduardo Lourenço, ao longo dos 40 anos de liberdade, contribuiu de “forma sábia e eficiente” para a defesa desses ideais.

Eduardo Lourenço, que não se considera um homem de Abril no “sentido autêntico da palavra” - não estava em Portugal -, confessou que viveu a sua adolescência com a esperança da mudança. “Esperava que triunfasse no nosso país um modelo de sociedade verdadeiramente democrático”, que significaria a aproximação a uma ordem histórica e ideológica diferente da que se vivia na altura.  ....

 

Segundo Vasco Lourenço, o pensador, filósofo e ensaísta Eduardo Lourenço é uma figura necessária para a defesa dos ideais e valores democráticos da revolução dos cravos. “A certa altura já não sabemos o que comemorar”, desabafou o tenente-coronel Vasco Lourenço. “É preciso subverter a população portuguesa, que precisa de líderes de opinião que tenham influência”. Eduardo Lourenço, ao longo dos 40 anos de liberdade, contribuiu de “forma sábia e eficiente” para a defesa desses ideais, destacou o presidente da associação.

Eduardo Lourenço que não se considera um homem de Abril, no “sentido autêntico da palavra” - não estava em Portugal - confessou que viveu a sua adolescência com a esperança da mudança. “Esperava que triunfasse no nosso país um modelo de sociedade verdadeiramente democrático”, que significaria a aproximação a uma ordem histórica e ideológica diferente da que se vivia na altura 

 
 
 
 
 
 

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