Cavaco Silva enviou condolências em privado pela morte dos bombeiros

Presidente apresentou condolências através de um assessor, na altura de cada uma das mortes. No Facebook, eleitores indignaram-se com Cavaco.

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Daniel Rocha

O Presidente da República (PR), Cavaco Silva, enviou, através do assessor para a Segurança Nacional, as condolências aos comandantes das corporações a que pertenciam os bombeiros que perderam a vida a combater incêndios. As diferentes mensagens foram entregues na altura das mortes e também seguiram para os familiares das vítimas.

O esclarecimento, feito esta manhã ao PÚBLICO por fonte oficial de Belém, vem na sequência de milhares de mensagens (mais de 4000 no momento da publicação desta notícia), colocadas na página de Facebook da Presidência da República, criticando a alegada falta de reconhecimento de Cavaco Silva aos bombeiros que perderam a vida. As críticas são uma resposta a um texto dando conta de que Cavaco Silva “enviou uma mensagem de condolências à família do economista Prof. António Borges”, a quem considera “um dos economistas mais brilhantes da sua geração”.

Fonte de Belém esclarece que “o PR, como sempre aconteceu, tem acompanhado de perto os incêndios em Portugal”. “Por ocasião de cada um dos falecimentos [este ano, já morreram três bombeiros em combate], o Presidente, através da sua assessoria para a Segurança Nacional, contactou os comandantes das três corporações de bombeiros em causa, para apresentar as condolências às famílias e respectivas corporações”, refere a mesma fonte. Fê-lo também “para se inteirar das situações dos feridos”.

“A Presidência da República entende que esta é a forma correcta de proceder, com a discrição e a seriedade que a situação humanitária reclama”, acrescenta.

Contactada pelo PÚBLICO, a responsável pelo gabinete de comunicação da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Alcabideche, Rita Rodrigues, confirmou o contacto, a propósito da morte de Ana Rita Pereira, a voluntária de 24 anos que morreu na quinta-feira no fogo de Tondela (Viseu). “O assessor tentou falar connosco várias vezes. Inicialmente não foi possível passar a chamada, mas ele não descansou enquanto não falou directamente com o comando, e foram entregues as condolências”, afirmou.

A indignação contra o facto de Cavaco Silva não se ter manifestado publicamente – ao contrário do que fez com a morte de António Borges – é partilhada pelo presidente da Associação de Bombeiros Profissionais, Fernando Curto, que considerou ter havido “um descuido” do PR. “De facto, após a morte do Dr. António Borges, houve logo esse procedimento, não estamos contra as acções e as condolências que o Sr. Presidente da República endereça, os bombeiros portugueses estão é contra o facto de não terem visto nenhuma referência aos camaradas que morreram, nomeadamente à Rita [Pereira], e aos que ainda estão no hospital entre a vida e a morte”, disse à Lusa.

“Temos também solicitado que se solidarizem com esta indignação que é uma indignação justa perante os bombeiros que já cá não estão”, frisou. “Já que somos tão mal apoiados noutras áreas, temos dificuldades no terreno, temos prejuízos humanos e materiais, pelo menos que sentíssemos do nosso PR esse simples acto de condolências e de referência aos bombeiros portugueses”, acrescentou.

Os comentários de indignação face ao silêncio de Cavaco Silva têm quase sempre o mesmo texto: “As minhas sinceras condolências aos familiares dos bombeiros falecidos.”

Desde o início do ano, três bombeiros morreram e mais de 30 ficaram feridos no combate a incêndios. Além de Ana Rita Pereira, morreu Pedro Rodrigues, de 41 anos, a combater um fogo na Covilhã, a 15 de Agosto, e António Ferreira, de 45 anos, que não resistiu às queimaduras sofridas num incêndio a 1 de Agosto, em Miranda do Douro.

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