Basílio Horta pede "esperança" num futuro Governo PS

Intervenção do ex-ministro e ex-dirigente do CDS gera protestos no Parlamento.

Foto
Basílio Horta diz que a câmara tem os 2,5 milhões de euros necessários à construção dos novos centros de saúde Miguel Manso/Arquivo

O vice-presidente da bancada socialista Basílio Horta pediu nesta quinta-feira “esperança” num futuro Governo liderado pelo PS, dizendo que o actual executivo de coligação PSD/CDS apenas sabe conjugar os verbos “cortar e despedir”.

“Não temos ilusões que o actual Governo, que tanto fala em consenso, venha a considerar as propostas [alternativas] do PS, apostado que está numa política que apenas conjuga os verbos cortar e despedir. Tenhamos esperança num novo Governo escolhido pelos portugueses”, declarou Basílio Horta no período de declarações políticas do plenário da Assembleia da República.

A intervenção de Basílio Horta foi muito aplaudida pela bancada socialista, mas motivou protestos entre os deputados do PSD e do CDS.

 


O deputado do CDS-PP Hélder Amaral fez mesmo uma advertência ao fundador do seu partido e actual deputado independente do PS.

 


“O senhor deputado [Basílio Horta] mostrou um grande entusiasmo e uma grande vontade de pertencer a um novo Governo. Mas tem de ter calma, porque não sei se isso vai acontecer tão cedo”, observou com ironia Hélder Amaral (CDS), cuja recomendação acabou por receber resposta directa da parte do Bloco de Esquerda.

 


“Hoje é dia par, parece que o CDS está solidário com o Governo. Ontem [quarta-feira] foi dia ímpar e vários dirigentes do CDS ameaçaram romper com este Governo, que está em completa desagregação”, sustentou Ana Drago.

 


Basílio Horta, na sua intervenção de fundo, criticou o progressivo aumento do défice e da dívida pública, lamentou o recente “aumento marginal” das exportações e avisou que o investimento directo estrangeiro “não tem parado de descer”.

 


“O dr. Carlos Amorim [vice-presidente da bancada do PSD] disse que a política do ministro das Finanças [Vítor Gaspar] estava esgotada. Em nosso entender e no de muitos membros da coligação, é todo o Governo que está esgotado e a prosseguir uma política que destrói a economia e o emprego, pondo gravemente em causa a coesão nacional”, disse.

 


Entre as propostas que defendeu na sua intervenção, Basílio Horta exigiu o fim imediato da “austeridade cega”, o que pouco depois motivou uma dura resposta por parte do vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD Luís Menezes.

 


“Acabar com a austeridade, mas que raio de proposta é essa da parte do PS”, exclamou Luís Menezes, considerando que os socialistas esperam mais do maior partido da oposição.

 


Luís Menezes contrapôs também que o aumento da dívida pública é em parte resultado direto do empréstimo de 78 mil milhões de euros contraído pelo Estado português no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira e acusou o PS de demagogia “ao vender facilidades” aos portugueses.

 


“O PS está num beco sem saída, porque o Governo está coeso. O PS, por isso, vai passar dois anos a pedir eleições. Estou para ver como o PS aguenta esse barco”, declarou Luís Menezes.

 


Pela parte do PCP, João Ramos desafiou o PS a romper com o memorando da troika (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia) e a bater-se pela renegociação da dívida, enquanto a dirigente do Bloco de Esquerda Ana Drago questionou Basílio Horta sobre se os representantes do PS no Conselho de Estado vão defender o derrube do actual Governo e a convocação de eleições antecipadas.

 


Basílio Horta alegou não ter mandato para falar por António José Seguro, mas referiu que o secretário-geral do PS “é coerente” do ponto de vista político e que o PS apresentou uma moção de censura ao Governo.
 

Sugerir correcção
Comentar