Associação critica consultor de comunicação que ajudou Passos a liderar PSD

Empresas de comunicação e relações públicas demarcam-se de “más práticas e falta de ética” de consultor do PSD

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Passos Coelho foi eleito líder do PSD em 2010 Miguel Manso

Fernando Moreira de Sá, consultor de comunicação desde 2008, defendeu em Julho, na Universidade de Vigo, a sua dissertação de mestrado intitulada A comunicação política digital nas eleições directas de 2010 no PSD pelo candidato Pedro Passos Coelho. Na passada semana, deu uma entrevista à Visão, onde admitia ter participado, com outros bloggers e elementos do PSD, numa espécie de “braço armado” de Passos na blogosfera, sobretudo em situações de condicionamento dos fóruns das rádios e televisões, comentários de notícias nos sites de jornais, e também nas redes sociais Twitter e Facebook. Esse condicionamento foi feito na corrida de Passos pela liderança do PSD, contra Paulo Rangel e José Pedro Aguiar-Branco.

O autor descreve que, entre os mais influentes blogues políticos em 2010, encontravam-se, à direita, o Blasfémias (liberal), Insurgente (liberal), 31 de Armada (misto) e Albergue Espanhol (o “espaço de bloggers apoiantes do candidato a líder do PSD, Passos Coelho”); na esquerda, eram reconhecidos o Jugular (PS), Causa Nossa (PS), Corporações (PS), 5Dias (PCP/BE) e Arrastão (BE). Somavam-se o Delito de Opinião e o Aventar, com “elementos que vão da extrema-esquerda à direita, assim como monárquicos, republicanos, ateus, agnósticos, católicos”, segundo Moreira de Sá.

Na entrevista, Moreira de Sá apenas tornou público o que já admitia nas 26 páginas da sua dissertação. Mas somou-lhe informação: nomeou jornalistas, gestores e nomes ligados ao PSD e CDS-PP que hoje estão em cargos políticos aparentemente devido à contribuição que deram a Passos Coelho no seu caminho para o poder. E também fez críticas aos media e à falta de estratégia de comunicação do actual Governo.

A Apecom afirma que as práticas contadas pelo “alegado” consultor de comunicação “não estão alinhadas com os princípios éticos que devem pautar a actividade de comunicação e relações públicas”. E as revelações “denotam desrespeito pelas regras de confidencialidade que devem marcar esta actividade”.

José Quintela, presidente da associação, disse ao PÚBLICO recear que se façam “generalizações” a partir deste caso. “Muitas vezes, confunde-se a árvore com a floresta”, lamenta. Entre as duas dezenas de membros da associação, encontram-se as maiores empresas de assessoria de comunicação do mercado português, como é o caso da Central de Informação, Cunha Vaz & Associados, Emirec, Inforpress, Ipsis, Lift Consulting, Midlandcom, Porter Novelli, Unimagem, Weber Shandwick ou YoungNetwork. As duas empresas de Moreira de Sá não são associadas.

“O cenário descrito na referida entrevista não representa, de forma alguma, o panorama da comunicação em Portugal, marcado pela actuação de várias dezenas de empresas há vários anos no mercado e cumpridoras das regras do Código de Estocolmo, que reúne as melhores práticas internacionais deste sector de actividade, nomeadamente em termos de confidencialidade e integridade da informação”, vinca a direcção.

José Quintela realça que este é “um sector sério com profissionais de qualidade”, que trabalham segundo “princípios, valores e normas de conduta e códigos éticos aprovados e respeitados internacionalmente”. Por isso, quer distância das “más práticas” citadas por Fernando Moreira de Sá. “A actividade da comunicação deve contribuir para o aperfeiçoamento da democracia e nunca para a beliscar”, defende o presidente da Apecom.

O PÚBLICO tentou contactar Fernando Moreira de Sá, mas não conseguiu obter um comentário.
 

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