"No dia em que os jornais acabarem, acaba o jornalismo", adverte Miguel Sousa Tavares

Rui Rio diz que "a comunicação social não cumpre o seu papel da forma como devia cumprir e [por isso] contribui para a degradação do sistema politico”.

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Miguel Sousa Tavares Bárbara Raquel Moreira
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Pacheco Pereira e Rui Rio Bárbara Raquel Moreira

As comemorações dos 40 anos do jornal Expresso encerraram nesta quarta-feira, no Porto, com um debate que abordou algumas das principais questões que se colocam hoje ao jornalismo, numa altura em que as plataformas digitais concorrem directamente com os jornais em papel

Uma dessas questões foi suscitada pelo comentador político Miguel Sousa Tavares que perguntou: “O jornalismo em teoria pode extinguir-se?” Momentos antes tinha sido a vez de Azeredo Lopes, ex-presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social e professor de Direito na Universidade Católica do Porto, perguntar: ”As redes sociais e os blogues estão a matar o jornalismo?”

Já se tinha falado muito de comunicação social e jornalismo, mas o debate ganhou um novo fôlego quando Miguel Sousa Tavares declarou que o "jornal é o barómetro da saúde dos doentes" e que "no dia em que acabarem acaba o jornalismo".

Sousa Tavares não deixou de reconhecer, contudo, a importância das plataformas digitais, mas advertiu que se “o fim dos jornais acontecer, isto transforma-se "numa selva”. Estas palavras foram pouco depois reproduzidas por Rui Rio, que abriu a conferência sobre “O jornalismo (que temos) serve a democracia?"

O ex-presidente da Câmara do Porto disse que a comunicação social tem cumprido a sua função "por acaso”. “Não cumpre o seu papel da forma como devia cumprir e [por isso] contribui para a degradação do sistema político”, afirmou.

“Há na sua actuação, muitas vezes, um claro défice de qualidade e de rigor na forma como as notícias são feitas. É assim que aparecerem títulos enganadores para vender e títulos enganadores para ser parcial, para beneficiar alguém ou prejudicar alguém", insurgiu-se o ex-deputado do PSD, denunciando a "parcialidade fantástica" do Jornal de Notícias nas últimas eleições autárquicas no Porto.

"Coisa só vista no tempo do PREC. Como é que é possível fazer a coisa tão mal, tão mal, tão mal que deu uma ajudazinha ao doutor Rui Moreira porque foi demasiadamente mal feito. Não exactamente os últimos 15 dias mas durante para aí dois ou três anos a tentar vender aquilo que lhes interessava", assinalou. E depois deteve-se nos "frequentes atropelos aos direitos básicos dos cidadãos", que criticou, afirmando "é tão inadmissível fazer isso a Leonor Beleza como a José Sócrates" e que "uma coisa é dar as notícias outra coisa é fazer perseguição às pessoas e fazer o julgamento na praça pública".

Sousa Tavares discordou em muitos aspectos de Rio, afirmando que “não há profissão tão escrutinada como a comunicação social, muito mais do que qualquer outra actividade”. Azeredo Lopes, que moderou o debate, rebateu esta afirmação, frisando que “o jornalismo não é escrutinado": "Não há uma prática de sanções aos jornalistas”.

O ex-director do Expresso Henrique Monteiro alertou para o facto de o “jornalismo se estar a transformar numa profissão instantânea". "Temos problemas graves que têm de ter solução”, alertou.

Por seu lado, Pacheco Pereira centrou parte da sua intervenção no jornalismo político, que - sublinhou - assenta “em fontes anónimas, na ausência de documentos e na intriga". Para o historiador e comentador político, “a maior parte da informação política transforma-se em recados”. Referiu depois que se “assiste a um acantonamento social" e que "a  maioria dos jornalistas nunca entrou numa fábrica”.

A questão do segredo de justiça foi também aflorada pelos convidados. Uns são a favor da violação do segredo de justiça  sempre que esteja em causa um assunto considerado de “relevância pública”, como Pacheco Pereira, e outros que se opõem a essa violação.

O ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro, que encerrou a conferência, declarou que a democracia enfrenta vários desafios na actualidade e evidenciou o papel da comunicação social na melhoria da "conversa democrática".

"É fundamental o papel da comunicação social, enquanto editores da esfera pública. É fundamental esse papel na melhoria do nível da conversa democrática em que assenta a nossa cultura política. De novo, não compete ao Governo definir como é que isso vai acontecer", afirmou o ministro, para quem “o grande desafio comum que o jornalismo e a democracia têm hoje é aquele de contribuir para um melhor debate público, de contribuir para um melhor espaço público".
 

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