Sudão desiste de resgatar cem corpos soterrados numa mina em Darfur

Não foi possível usar máquinas porque o terreno pode abater ainda mais.

Foto
Imagem de uma reportagem da BBC sobre as minas em Darfur DR

Foram encerradas as buscas para encontrar uma centena de pessoas soterradas numa mina de ouro ilegal em Darfur, no Sudão.

A maior parte dos desaparecidos são mineiros que ficaram presos devido a uma derrocada, mas entre eles há nove socorristas que entraram no túnel de 40 metros que conduz à mina e que ficaram presos devido a um segundo deslizamento de terras.

"As buscas acabaram porque o trabalho é muito perigoso", explicou à AFP um mineiro que pediu anonimato. Este mineiro estava na mina de Jebel Amir, a 200 quilómetros da capital de Darfur do Norte, El-Facher.

O mesmo mineiro disse que tinham sido retirados oito corpos da mina, mas não soube explicar se se tratavam de colegas mortos no acidente ou de socorristas. "Segundo as informações que recolhemos ontem, não encontraram mais ninguém".

A derrocada de segunda-feira matara 60 pessoas. O presidente da câmara, Haroun al-Hassan, disse na terça-feira que não era possível usar máquinas para remover a terra e procurar os desaparecidos pois o terreno era muito instável e podia sucumbir.

Um mineiro que estava no exterior viu o terreno abater. "Começou na segunda-feira mas a derrocada mais importante foi na terça". Sendo a mina ilegal, não há registo de trabalhadores. "Não havia registo dos nomes dos que desciam. Só os colegas e os seus familiares sabem quem estava lá", disse o mesmo mineirto que pediu anonimato.

"Às vezes passavam-se três ou quatro semanas antes de encontrarmos [ouro]. Outras vezes encontrávamos logo ouro que podíamos vender por dez mil libras [cerca de 1600 euros]", disse o mineiro, explicando que a população e até as forças de segurança usam qualquer utensílio para escavar a terra.

O ouro que existe nesta zona ocidental do Sudão esteve na origem dos violentos combates no início do ano. Mais de 500 membros da tribo Beni Hussein foram mortos em Janeiro e Fevereiro. Sete semanas durou a violência entre esta e outra tribo, a Rezeigat. Segundo a Amnistia Internacional, os combates deveram-se a disputas sobre terrenos férteis em ouro.

O governo sudanês tenta dinamizar o sector depois de ter perdido o petróleo com a independência do Sudão do Sul. Mas a maior parte do ouro é retirado do solo por mineiros ilegais. O ministro das Minas, Kamal Abdel Latif, diz que os ilegais (cerca de 200 mil) tiraram do solo em 2012 41 toneladas de ouro e que este ano deverão tirar 50 toneladas.

Uma vez que este ouro é desviado, a economia e finanças do país continua em grande perda. A inflacção subiu 40% e a libra sudanesa foi muito desvalorizada, com o governo de Cartum a perder metade das receitas fiscais que deveria receber. 
 

Sugerir correcção
Comentar