Raha foi a primeira mulher saudita a alcançar o cume do Evereste

Expedição de Raha Moharrak é um marco para a Arábia Saudita, onde o desporto ainda está interdito à maioria das mulheres.

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A mulher de 25 anos alcançou o cume de 8848 metros de altura Desmond Boylan/Reuters

Raha Moharrak, de 25 anos, foi a primeira mulher saudita a alcançar o cume do Evereste, a mais alta montanha do mundo, no Nepal, informaram as autoridades de turismo nepalesas.

Raha alcançou o cume do Evereste, a 8848 metros de altura, no sábado com outras 12 pessoas que participaram na expedição, disse uma porta-voz do Ministério do Turismo do Nepal, citada pela agência AFP.

O pai de Raha disse à mesma agência noticiosa que a filha, que partiu a 3 de Abril da sua cidade natal, está exausta e que está a descansar, salientando que a família está muito feliz com a sua conquista e com o que ela representa em concreto para as mulheres. O progenitor disse ainda que a filha realizou, assim, o seu “objectivo de escalar o cume de sete montanhas em todo o mundo”, depois de já o ter feito na Europa, Tanzânia e Argentina. Esta expedição tinha como objectivo a angariação de donativos para apoiar projectos educativos no Nepal.

De acordo com a organização não governamental Human Rights Watch, a Arábia Saudita, um reino muçulmano conservador, é o único país do mundo que ainda proíbe a participação de mulheres em actividades desportivas nas escolas públicas.

Em 2012, duas atletas sauditas participaram pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Londres e, no início deste mês, o Governo permitiu que algumas estudantes de escolas privadas participassem em actividades desportivas, mas pediu às escolas que elas vestissem “roupa decente” e praticassem desporto em “áreas adequadas”.

No final de Março a Arábia Saudita já tinha dito que pretendia autorizar clubes desportivos femininos pela primeira vez, num passo importante para um país ultra-religioso onde os clérigos são contra o exercício físico feminino.

Estreia nos Jogos Olímpicos com hijab

No ano passado, o reino islâmico conservador – onde as mulheres têm de ter autorização de um parente do sexo masculino para tomarem grandes decisões – só enviou atletas femininas para os Jogos Olímpicos, pela primeira vez, por pressão de grupos internacionais de direitos humanos. Em Agosto de 2012, em Londres, duas atletas sauditas, uma judoca e uma velocista, tornaram-se nas primeiras a representar o país. Ambas usaram o hijab durante as provas – uma decisão que não foi pacífica e que levou mesmo a que os responsáveis do Comité Olímpico Internacional (COI) e da Federação Internacional de Judo (FIJ) abrissem uma excepção, impondo apenas um design específico para o lenço.

Até agora, as instalações para a prática de desporto feminino, incluindo ginásios, tinham de ter uma licença por parte do Ministro da Saúde da Arábia Saudita e eram designados como “centros de saúde”.

Em 2009, um membro do alto conselho dos clérigos da Arábia Saudita disse que as mulheres não deviam praticar desporto para “não perderem a virgindade”. As escolas de raparigas do Estado não têm aulas de desporto. Em Janeiro de 2013, o rei Abdullah nomeou 30 mulheres para o conselho Shura, um órgão que debate a futura legislação e depois dá um parecer não vinculativo ao governo. Abdullah é visto como um impulsionador da educação das mulheres e de maiores oportunidades de trabalho, por vezes, em face da oposição de poderosos clérigos conservadores.

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