Morsi, deposto, foi condenado a 20 anos de prisão pela morte de manifestantes

Ex-Presidente egípcio teve a primeira condenação num conjunto de cinco processos e escapou, por agora, à pena de morte. Sissi aperta o cerco contra oposição e Irmandade Muçulmana.

Foto
Ex-Presidente egípcio ainda aguarda o veredicto de mais cinco processos judiciais Amr Abdallah Dalsh/Reuters

O primeiro Presidente no Egipto a chegar ao cargo através de eleições foi condenado esta terça-feira a 20 anos de prisão pelo envolvimento na morte de dez manifestantes por apoiantes da Irmandade Muçulmana, em 2012. Morsi foi condenado por incitamento à violência e intimidação e escapou às acusações de incitamento à morte, que poderiam ter resultado na pena de morte para o antigo Presidente.

Esta é a primeira condenação para o líder egípcio deposto num golpe militar, em Julho de 2013. Morsi ainda será julgado por mais cinco crimes, alguns deles poderão comportar penas pesadas, como as acusações de espionagem, de ter conspirado para levar a cabo actos terroristas e de ter posto em causa a segurança nacional.

Para além de Morsi, foram condenados outros 12 membros da Irmandade Muçulmana. A pena foi a mesma: 20 anos de prisão. Entre eles estão Mohammed al-Beltagi e Essam el-Erian, dois destacados membros do movimento islamista.

O julgamento de Morsi começou em Janeiro de 2014 e, ao longo do processo, o líder deposto apresentou-se como o legítimo Presidente do Egipto, recusou a autoridade do tribunal e lançou-se várias vezes em acusações contra o regime de Abdel Fatah al-Sissi. Sissi, o actual Presidente egípcio, aproveitou uma vaga de manifestações contra o Governo em funções para fazer um golpe militar em 2013 contra Morsi, retirando-o do poder. Era então ministro da Defesa e chefe do Exército de Morsi. 

Para Morsi e seus apoiantes, é Abdel Fatah al-Sissi a grande figura da repressão e o principal responsável pela morte de centenas de manifestantes. Um ponto central para os apoiantes da Irmandade Muçulmana e algo que os réus tentaram demonstrar durante a leitura da sentença. 

Morsi e os seus apoiantes, julgados por incitamento à morte de dez manifestantes, quiseram virar as acusações contra al-Sissi. Durante a sessão desta terça-feira, os membros da Irmandade Muçulmana elevaram quatro dedos no ar, o gesto que se tornou simbólico em homenagem à morte de mais de mil manifestantes na Praça Rabaa-Adawiya, no Cairo, numa concentração de apoio a Morsi na sequência do golpe.

No seguimento do derrube de Morsi que levou Sissi à presidência, o Exército egípcio respondeu violentamente aos protestos dos apoiantes da Irmandade Muçulmana. Morreram perto de 1500 pessoas em ataques a várias concentrações.

O momento mais sangrento aconteceu na Praça Rabaa-Adawiya, a 14 de Agosto de 2013. A polícia abriu fogo sobre centenas de manifestantes que protestavam, sentados na praça, contra a tomada de poder de Sissi. De acordo com a ONG Human Rights Watch, que defende que os eventos na Rabaa-Adawiya devem ser considerados “crimes contra a humanidade”, morreram pelo menos 817 pessoas.  

O primeiro veredicto contra Mohamed Morsi surge num momento em que se aperta o cerco do executivo de Sissi  a quem lhe faz oposição, entre activistas de várias correntes e membros da Irmandade Muçulmana no Egipto, entretanto ilegalizada e declarada uma organização terrorista.

No início do mês, o líder do movimento islamista e outros 11 elementos da confraria foram condenados à morte. Por outro lado, 23 activistas foram condenados a prisão perpétua, entre eles um cidadão com dupla nacionalidade egípcia e norte-americana, Mohamed Soltan.

“O sistema estava calculado politicamente desde o início”, diz o jornalista egípcio Yehia Ghanem à Al-Jazira. Na sua opinião, o julgamento de Morsi e seus apoiantes “passa a mensagem aos egípcios e ao resto do mundo de que não existe futuro para a lei civil”.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários