Exército da Venezuela anuncia "libertação" de San Cristóbal, o epicentro dos protestos anti-Maduro

O presidente da câmara já estava detido e afastado do cargo por apoio aos manifestantes. Agora, as forças do regime entraram pelos bairros de oposição e removeram as barricadas.

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Forças anti-motim entram pelos bairros de oposição em San Cristóbal AFP/George Castellano

Numa operação conjunta das forças da polícia e do Exército venezuelano, a cidade de San Cristóbal, epicentro dos protestos contra o Governo do Presidente Nicolás Maduro que já duram há dois meses, foi “libertada” das barricadas dos manifestantes, anunciou o chefe do Comando Estratégico Operacional das Forças Armadas, general Vladimir Padrino López.

No domingo, os efectivos da Guarda Nacional e da Polícia Bolivariana recuperaram o controlo de uma área de mais de 70 quarteirões conhecida como a “zona de resistência”; retiraram os bloqueios que impediam a circulação pelas avenidas Carabobo e Ferrero Tamayo, o “ground zero” da oposição e tomaram o bairro popular de Sucre, que fora rebaptizado de “Sucrânia” numa alusão à revolta popular que fez cair o Governo da Ucrânia.

Nos três dias anteriores, as forças do regime já tinham lançado uma ofensiva contra outros bairros de oposição – Pueblo Nuevo e Los Pirineos, onde ao contrário do que sucedeu no domingo, se registaram confrontos violentos com os manifestantes que terminaram com pelo menos uma vítima mortal. As autoridades anunciaram a detenção de onze pessoas.

“Limpamos os escombros das ruas. Acabamos com o recolher obrigatório imposto pelos terroristas”, declarou Padrino López, garantindo o “regresso a normalidade” na cidade de 300 mil habitantes que serve de capital ao estado de Táchira, uma região Andina no Noroeste do país que faz fronteira com a Colômbia. O general acrescentou que os bairros da oposição foram declarados “zona militarizada” e manteriam uma presença permanente de 120 soldados.

O governador, José Vielma Mora, agradeceu a intervenção militar mandatada pessoalmente pelo Presidente Nicolás Maduro, que segundo a imprensa venezuelana deverá visitar a cidade ainda esta semana para declarar a vitória do Governo sobre as “guarimbas”, o nome dado às barricadas. “O melhor presente que nos podiam oferecer era que as crianças de San Cristóbal pudessem regressar à escola e a população ao trabalho”, declarou o político, eleito pelo Partido Socialista Unido Venezuelano.

Distribuídas por San Cristóbal estavam mais de uma centena de barricadas que impediam a circulação e levavam vários negócios a manter as portas fechadas. No início do mês, o autarca Daniel Ceballos estimava à BBC Mundo que 40% do território estivesse “afectado” pelos bloqueios dos manifestantes – há duas semanas, o dirigente municipal foi detido e afastado do cargo, sentenciado a 12 meses de prisão por causa do seu apoio às acções anti-governamentais na cidade e recusa em ordenar a remoção das barricadas.

Apesar das iniciativas governamentais contra os manifestantes em Táchira e também no estado de Zula, o fim-de-semana voltou a ser marcado por protestos contra a carestia de vida, a escassez alimentar e a repressão do Estado. Na capital, Caracas, os opositores de Maduro marcharam até à sede do Ministério Público para exigir a libertação do líder do partido Vontade Popular, Leopoldo López, enquanto os apoiantes do chavismo, vestidos como sempre de vermelho, se concentraram em frente do palácio presidencial de Miraflores, para reclamar dos prejuízos dos protestos de rua.

Esta segunda-feira, a Procuradoria-Geral da República apresentou um novo balanço das vítimas dos protestos contra o Governo de Nicolás Maduro, que ascende agora aos 37 mortos (28 civis e oito militares), 559 feridos, 168 detidos e 2153 acusados. O Governo venezuelano admitiu ainda a existência de 81 casos de abusos e violência policial contra manifestantes. A esmagadora maioria dos casos registados pelo Estado diz respeito a tratamento cruel de prisioneiros, mas há pelo menos dois casos de tortura e dois de homicídio.

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