Brasil, a semana dos indecisos

Até às eleições de 5 de Outubro muitos votos mudarão ainda, numa escolha desprovida de paixão.

No próximo domingo, enquanto em Portugal se lembrarão como de costume as “glórias” da centenária república, cerca de 140 milhões de eleitores brasileiros vão enfim decidir quem ocupará a Presidência do país. Pode ser uma repetente, Dilma; a estreante Marina; ou o neto do mítico e malogrado Tancredo, Aécio Neves. Porém, olhando as sondagens vê-se que Dilma ressurge na frente, Marina se afunda e Aécio ganha peso aos poucos. É verdade: não é possível estabelecer um padrão com base em aparências. Quem, em Julho, viu os protestos e a mistura de raiva e desalento na “Copa das Copas”, diria que Dilma pagaria, no momento do voto, decisões impopulares, declarações triunfais sem retorno e um capital de descontentamento que se ia juntando em seu desfavor quando o Mundial de Futebol foi pretexto para manifestações e motins. Porém, como num passe de mágica, a revolta desses dias eclipsou-se ou foi canalizada para a disputa eleitoral. Até à tragédia que vitimou Eduardo Campos, o embate era um: o da continuidade de Dilma contra a novidade da “chapa” Campos-Marina; depois da tragédia, foi como se o calendário tivesse recuado quatro anos: Dilma iria enfrentar Marina de novo, mas uma Marina que de certo modo se representava menos a si própria e mais a aliança em que se envolveu. Quanto a Aécio, longínqua já a sombra tutelar de Tancredo, parecia estar condenado a um terceiro lugar na primeira volta. Ora por habilidades do “marketing” ou ziguezagues dos candidatos, os campos estão ainda a recompor-se. Talvez porque, como há dias dizia ao enviado do PÚBLICO, Manuel Carvalho, o professor de Ciência Política Adriano Oliveira, da Universidade do Pernambuco, os brasileiros vão escolher entre “três candidatos rejeitados. Dilma, porque estabilizou e não consegue a votação tradicional de Lula; Marina, porque despencou como uma esperança e depois não parou de perder votos; e Aécio, que não sai dos 20%.” Talvez seja isto que justifique a existência de um grau de apatia pouco usual em eleições do género. A raiva dos protestos não encontrou saída numa paixão clara por um candidato, não gerou um movimento transformador que mobilizasse multidões e daí o largo campo de indecisos ou “volúveis”: 41,5 milhões diziam, na passada semana, já terem escolhido o seu candidato mas admitiam mudar o sentido do voto entretanto. Tarefa para os chamados “marqueteiros”: explorar desejos, reforçar promessas, iludir fragilidades, fingir força onde reinam fraquezas. Não, nestas eleições o Brasil não terá um voto de glória, como não o teve nos relvados em Julho. Terá, isso sim, um voto de conformação com o que já conhece mas não idolatra (Dilma) ou de incerteza, com o que ligeiramente conhece mas receia (Marina). A hipótese de Aécio ir ganhando votos não parece ainda suficientemente forte para garantir a disputa da segunda volta com a candidata mais votada. O voto em Dilma, como se tem dito, será, para o bem e para o mal, uma aposta no Brasil “que está”. Mas estará, “assim”, nos anos próximos? Uma incógnita, mesmo com Dilma. E mais ainda com Marina.

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