Angola

"Porque é que a nossa opção pelo bem custa-nos tão caro?"

Domingos da Cruz foi um dos 17 activistas angolanos condenados por “actos preparatórios” de rebelião e atentado contra o Presidente de Angola, Eduardo dos Santos. A sua pena foi a mais elevada do processo: oito anos e seis meses. Os livros ajudaram-no a manter a sanidade e a disfarçar a solidão dentro do sistema prisional, onde várias pessoas lhe disseram: "Vocês têm que continuar a lutar".

Esta quinta-feira, Domingos da Cruz, licenciado em Filosofia e Pedagogia, lançou o livro “Angola amordaçada”, que tem como base o seu trabalho final de mestrado, na Universidade Federal da Paraíba, no Brasil. "Se sinto que Angola está amordaçada? Eu não sinto, eu vivo o amordaçamento. É uma realidade", diz o escritor e professor universitário ao PÚBLICO. Enquanto ele e os outros 16 activistas presos aguardavam a decisão do Superior Tribunal sobre o pedido de anulação da condenação, foram abrangidos por uma amnistia. Mais tarde, Domingos da Cruz foi informado de que não poderia continuar a leccionar na Universidade Independente de Angola. "Não sei se a minha vida se poderá dificultar mais do que já está. O pouco tempo de vida que tive no mundo e em Angola permitiu-me ver o suficiente", diz. Mas há uma coisa que Domingos da Cruz ainda espera ver. Uma Angola democrática, "onde a dignidade humana esteja acima de todos os interesses".

"Agora, quanto tempo levará a construirmos esta Angola democrática? Não sei", diz. "Mas ninguém é capaz de sofrer eternamente".