Pedida condenação de homem que disparou sobre família na auto-estrada, em Gaia

Arguido, envolvido numa discussão de trânsito, alegou aos juízes que acreditava que estava a ser perseguido por traficantes a quem tinha roubado droga.

Um homem que começou a ser julgado no Tribunal de Gaia esta terça-feira por ter disparado quatro tiros sobre uma carrinha, em 2011, durante uma discussão de trânsito, garantiu aos juízes que acreditava que estaria a ser perseguido pelos traficantes a quem tinha roubado cocaína no Bairro do Aleixo, no Porto.

“É verdade que disparei. Senti-me em perigo e disparei. Eles meteram um ferro de fora da janela, aproximaram-se e bateram com ele no meu carro. Pensei que fossem os traficantes”, disse Rodrigo Oliveira, de 29 anos, acusado de quatro crimes de homicídio qualificado na forma tentada, condução de veículo sem habilitação legal e posse de arma proibida.

O arguido sublinhou ao tribunal que três dias antes tinha roubado 150 gramas de cocaína a um traficante e que “há três dias que não dormia” e “só consumia coca”. O incidente ocorreu na A44, em Dezembro de 2011, pouco antes do túnel junto ao El Corte Inglés, em Vila Nova de Gaia. Na carrinha alvejada, seguiam três adultos da mesma família e uma menina de nove anos que escaparam ilesos. Os disparos atingiram apenas a viatura que seguia poucos metros à frente de um carro-patrulha da PSP quando tudo aconteceu.

Rodrigo explicou ainda que apenas pretendia atingir a carrinha que tinha “vidros escuros e parecia um carro de bandido”. “Só queria que me deixassem em paz. Depois deitei a arma, que um traficante me emprestou, fora”, disse.

O Ministério Público pediu a sua condenação e admitiu que Rodrigo, com vasto cadastro por roubos e tráfico de droga, possa ser condenado apenas por um dos quatro crimes de homicídio tentado. Já a advogada do jovem defendeu que o mesmo não deveria ser condenado por homicídio qualificado, mas simples, o que diminui a moldura penal a aplicar.

A advogada chamou ainda a atenção do tribunal para as “circunstâncias especiais” do jovem, que está em prisão preventiva, ter confessado os crimes. No final, Rodrigo pediu desculpa às vítimas. “Não queria disparar”, alegou o jovem, que, questionado pelo juiz-presidente sobre o “rumo que irá seguir no futuro”, recusou “ajuda” e disse precisar apenas de “liberdade”.

O condutor e o irmão que seguiam na carrinha também testemunharam esta terça-feira. “Saiu de uma estrada sem prioridade e não cedeu a passagem. Se eu não tivesse travado, batia-lhe no carro. Foi tudo muito rápido. Chamei-lhe maluco. Não me deixava ultrapassar. Quando consegui, ele disparou logo”, explicou Fernando Fernandes. Já o irmão deste, Tiago, confirmou apenas que se baixou “mal ouviu os tiros”. Ambos rejeitaram terem ferros no carro.

Dois agentes da PSP, ouvidos esta terça-feira pelo tribunal, também confirmaram não terem encontrado ferros no automóvel, mas admitiram que a revista à carrinha foi feita alguns quilómetros depois do local do incidente, já na Ponte do Infante, no Porto.
 

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