Hoje todos plantam árvores pelo país fora mas poucos voltam para delas cuidar

Multiplicam-se pore todo o país as iniciativas de plantação de árvores, que a 21 de Março têm o seu expoente máximo. Mas o que se ganha em sensibilização perde-se muitas vezes no terreno porque são poucos os que acompanham o crescimento. Mas há excepções

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Nelson Garrido

No dia em que se celebra o Dia Mundial da Floresta, as acções de sensibilização e plantação de árvores multiplicam-se pelo país. No entanto, muitas são criticadas por não passarem de actividades isoladas, sem consequência. O projecto FUTURO – 100 mil árvores na Área Metropolitana do Porto nasce em 2011 pelas mãos de Marta Pinto e é uma iniciativa de sucesso neste campo. Porque nenhuma planta é deixada ao abandono nos dias ou nos anos que se seguem.

O projecto das 100 mil árvores germina, desde 2011, no contexto do Centro Regional de Excelência em Educação para o Desenvolvimento Sustentável da Área Metropolitana do Porto (CRE.Porto), com o objectivo de aumentar e melhorar a qualidade da área de floresta nativa desta zona. Embora a criadora seja Marta Pinto, investigadora no Grupo de Estudos Ambientais da Escola Superior de Biotecnologia, o FUTURO envolve autarquias, associações, instituições de ensino, entidades governamentais e cidadãos.

Este tipo de iniciativas brota por todo o país no dia em que, habitualmente, se saúda também a Primavera, sendo depois deixados ao abandono. Marta Pinto diz-se “muito céptica em relação à sensibilização pontual, vertical e puramente lúdica”. Apesar de considerar fundamental as acções de formação e o envolvimento da comunidade neste tipo de actividades, as acções têm de ser consequentes, isto é, “fazerem parte de um plano, resultarem da concretização de uma visão e, como resultado disso, terem continuidade, avaliarem e darem feedback dos resultados”, esclarece. O ambiente e a floresta não podem apenas servir de mote para acções “meramente comemorativas e pontuais” que, embora sejam “divertidas e dêem excelentes fotos”, correm o risco de ser “contraproducentes, perdulárias e desresponsabilizar os cidadãos”.

A criadora do projecto explica ao PÚBLICO que o importante não é só plantar, mas também o controlo de espécies invasores e a limpeza e marcação de áreas onde a regeneração natural está em curso, isto é, onde a flora se renova por si. “Se numa área em intervenção temos algumas espécies em regeneração natural, apenas as identificamos, limpamos a área em seu redor e estacamos. E não plantamos essa espécie nessa área”, esclarece a Marta. Assim, entre os meses de Outubro e Março decorre a plantação e entre Abril e Julho e Setembro e Outubro acontecem “acções de monitorização, manutenção das áreas já plantadas, eliminação de infestantes e recolha de sementes”. Assim, o acompanhamento é feito durante todo o ano e são feitas avaliações sobre o sucesso das plantações, quais as espécies que se adaptaram melhor aos locais e qual é a taxa da sobrevivência das espécies.

Até hoje, o projecto conta já com 30.650 árvores de 24 espécies nativas plantadas em dezenas de parcelas distribuídas por 13 municípios da Área Metropolitana do Porto. A investigadora calcula que estas árvores, quando adultas, ofereçam à região “cerca de 1.200.000 euros por ano em serviços ecológicos (apenas estimado para o seu papel na regulação hídrica, retenção de poluentes atmosféricos e armazenamento de carbono)”.

Na iniciativa estão envolvidas activamente 37 entidades e mais de 5000 participações voluntárias, o que se traduz, de acordo com Marta, numa média de 40 cidadãos envolvidos por semana. “Podia-se fazer o trabalho sem as pessoas, recorrendo apenas aos meios técnicos disponíveis, mas não seria a mesma coisa… E, por isso, o FUTURO foi desenhado para reunir, por um lado, o conhecimento de especialistas e os recursos das entidades com competências na área, com a vontade de aprender e a energia e empenho dos cidadãos”, diz.

As árvores autóctones, isto é, originárias do nosso país, são uma preocupação da equipa e são as únicas que são plantadas. Para Marta Pinto, são património cultural, o que só por si tem valor, uma vez que ocupavam o nosso território no passado. Para além disso, o objectivo passa por recuperar paisagens históricas, melhorar a paisagem natural – importante para o turismo e actividade de recreio e lazer ligadas à natureza –, garantir suporte à biodiversidade, optimizar os serviços de ecossistema que estas árvores podem oferecer e criar descontinuidades no território que funcionam como áreas de menor propagação do fogo. Assim, o carvalho, o sobreiro, o castanheiro, o pinheiro-manso, o freixo e o loureiro, são algumas das espécies privilegiadas. Cerca de 80% das árvores é fornecida através do Programa Floresta Comum.

O projecto das 100 mil árvores já foi reconhecido, em 2013, com o prémio Terre de Femmes, da Fundação Yves Rocher e apesar de ser um excelente incentivo para toda a equipa, Marta diz que não mudou em nada a sua actuação pois o que influencia verdadeiramente é a aprendizagem diária e o trabalho no terreno.

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