Dúvidas e expectativa sobre o futuro do teatro municipal no Porto

Depois da decisão do júri decorre um período de audiência de interessados, durante cinco dias, para eventuais dúvidas ou reclamações apresentadas pelos outros candidatos.

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A escolha de Tiago Guedes como director de programação do Teatro Municipal do Porto – Rivoli e Campo Alegre foi recebida com expectativa e dúvidas, entre os agentes culturais da cidade. Apesar de, formalmente, o concurso público ainda não ter terminado, por ainda decorrer o período de audiência de interessados, foi já divulgada a classificação final do júri, com o coreógrafo de Alcanena a aparecer classificado em primeiro lugar, como o PÚBLICO ontem revelou.

Tiago Guedes não quer, para já, fazer qualquer comentário aos resultados do concurso, uma vez que decorre ainda o prazo para que os concorrentes preteridos possam apresentar dúvidas ou reclamações ao júri. Mas, no Porto, a aproximação do momento em que o Rivoli terá um director de programação é já aguardada com expectativa. “A primeira coisa que quero salientar é que o Rivoli vai certamente ter uma direcção, o que é uma grande mudança. Temos estado sozinhos a atender a muitas solicitações e muito mais facilmente poderemos articular algumas questões existindo um director de programação no Rivoli”, disse ao PÚBLICO o director artístico do Teatro Nacional São João.

Sobre o coreógrafo e bailarino escolhido pelo júri para director de programação dos dois teatros municipais do Porto, Nuno Carinhas refere: “É uma pessoa capaz, com experiência, e se a ideia é, sobretudo, programar dança ou dar mais atenção às artes performativas e ao novo circo – que eram tradição do Rivoli – parece-me uma boa escolha”.

Já Carlos Costa, da Plateia – Associação de Profissionais de Artes Cénicas, prefere não se concentrar “nos nomes ou gostos que vão trabalhar no Rivoli”, realçando outro aspecto. “A nossa preocupação é, sobretudo, saber se o executivo municipal vai cumprir a promessa que estava no programa eleitoral da candidatura O Nosso Partido é o Porto e fazer da Cultura uma das suas marcas essenciais. As políticas têm de ser caucionadas por orçamentos e estamos expectantes para ver de que modo, já este ano, num orçamento rectificativo, ou no orçamento de 2015, esta promessa se vai reflectir em termos orçamentais”, disse.

Carlos Costa diz que “existiram, ao longo destes seis meses, sinais de mudança”, mas garante que a Plateia quer agora ver se “a cordialidade” do pelouro da Cultura se vai transformar em investimento no Rivoli e no Campo Alegre. “Precisamos de compreender que recursos municipais vão ser afectados ao programa do teatro municipal. A nossa expectativa é ver se a contratação de um director de programação é o início da contratação de uma equipa e da afectação de recursos municipais ou se ele será apenas um agente que deverá procurar recursos fora do município, porque neste caso, o teatro ficará ao sabor de políticas e opções orçamentais que não dependem da cidade do Porto”, alerta o responsável da Plateia.

Regina Guimarães, membro fundador da plataforma que lançou a petição “Teatro Municipal: Que Serviço Público?” e que, esta quinta-feira, promove um debate em torno desta questão, afirma que os membros da plataforma acordaram “não se pronunciar sobre este tema”, preferindo concentrar-se no “caderno reivindicativo” que poderá sair do debate marcado para as 18h à porta do Rivoli. Ainda assim, a escritora lembra que o executivo “eleito democraticamente” tem, por isso, “legitimidade democrática para escolher [o director de programação] e teria tido, também, para nomear alguém”. “O director de programação devia poder começar o seu trabalho numa atmosfera de optimismo, que não me parece que exista. O que interessa é, daqui para a frente, ver o que se vai fazer com aquele teatro. E isso, sim, conta muito”, diz.

O concurso público para a escolha do director de programação dos dois pólos do teatro municipal não foi isento de polémica. Uma das vozes mais críticas foi o antigo director do Teatro da Trindade, Carlos Fragateiro, que enviou mesmo uma carta aberta ao presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e ao líder do PS na autarquia, Manuel Pizarro, pedindo a anulação do processo. Agora, ao conhecer a decisão do júri, afirma: “Não me surpreende. O que eu não queria acreditar é que dois meses antes de abrir o concurso já era esse o nome em que se falava para o cargo. Isto é muito mau, porque descredibiliza o concurso e a política, sobretudo quando o executivo podia nomear a pessoa. Assim, fica um nevoeiro em que nada é claro, é tudo ilusão e uma aparência e isso é mau para o Porto.”

Tiago Guedes passou à segunda fase do concurso do Rivoli acompanhado de José Luis Ferreira, Ana Figueira e Pedro Jordão, cuja proposta foi excluída da avaliação por não estar acompanhada de uma assinatura digital. Após a classificação do júri, existe um período de audiência de interessados, durante cinco dias. Se não existirem reclamações ou se, existindo, o júri mantiver a decisão inicial, Tiago Guedes será contratado como director de programação pelo prazo de três anos.

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