"CREL da água" já abastece Grande Lisboa

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A nova infra-estrutura vai permitir abastecer os concelhos de Loures, Amadora, Oeiras, Sintra e Cascais sem as habituais falhas de Verão, garante a EPAL Público

Em vez de rodar uma torneira, o primeiro-ministro vai hoje carregar no botão que, simbolicamente, fará entrar água nas tubagens do Adutor da Circunvalação, em Castanheira do Ribatejo. No entanto, o gesto de António Guterres vai ser mesmo só para a fotografia. A chamada "CREL da água", a nova conduta de abastecimento à Grande Lisboa, já está a funcionar em pleno há três semanas, distribuindo cerca de 240 mil metros cúbicos de água por dia pelos concelhos de Loures, Sintra, Amadora, Oeiras e Cascais.

O investimento da EPAL (Empresa Portuguesa de Águas Livres) rondou os 25 milhões de contos e deverá acabar com os Verões "secos" a que estes cinco concelhos já se habituaram. "As situações de falta de água prolongadas são para esquecer", garante o porta-voz da empresa, Joaquim Fitas. O novo adutor, classificado pela EPAL como "a primeira grande obra do século XXI, que dará continuidade às quatro grandes obras do passado" - aquedutos das Águas Livres, do Alviela e do Tejo, e Adutor de Castelo de Bode -, tem uma extensão de 48 quilómetros e vai proporcionar "melhorias significativas" no abastecimento de água aos concelhos da Grande Lisboa, num total próximo dos dois milhões de habitantes.
Esta "CREL" - pegando na designação rodoviária da Circular Regional Exterior de Lisboa - tem início no chamado Recinto de Vila Franca (na freguesia de Castanheira do Ribatejo), onde foi construída uma nova estação elevatória orçada em cerca de 1,4 milhões de contos. Estende-se depois pelos concelhos de Vila Franca, Loures, Lisboa e Amadora até chegar ao reservatório final, instalado junto à povoação de Vila Fria, em Porto Salvo, concelho de Oeiras.
Nas palavras de Joaquim Fitas, o Adutor da Circunvalação permitirá "reforçar a segurança e a fiabilidade dos actuais sistemas de abastecimento", bem como "aumentar a capacidade de transporte de água, passando a entregar directamente a água aos concelhos limítrofes, sem que esse caudal passe pela rede de distribuição da cidade de Lisboa". Eliminam-se assim as incontornáveis perdas nas condutas - que em alguns concelhos atingem os 30 por cento, mas cuja média na região rondou, em 2000, diz a EPAL, os 17 por cento. Sempre que haja uma ruptura, o abastecimento às zonas ocidentais da região já não é afectado. Até aqui, a água era conduzida para o reservatório de Telheiras, seguindo daí depois para os outros concelhos por duas condutas, uma na direcção de Loures e outra, que só se ramificava alguns quilómetros mais à frente, para Amadora, Sintra, Oeiras e Cascais.

Verões mais sossegados

A nova conduta poderá transportar até cerca de 410 mil metros cúbicos de água por dia, em regime misto (elevatório e gravítico), capacidade que só deverá ser utilizada em pleno Verão, quando o consumo na Grande Lisboa dispara. "Em 2000, houve dias em que a EPAL distribuiu 820 mil metros cúbicos, utilizando a última parte do adutor que já estava concluída [Santo António dos Cavaleiros-conduta da Costa do Sol] e levando ao limite os adutores do Tejo e de Vila Franca de Xira-Telheiras", explica o porta-voz da empresa. A abertura do Adutor da Circunvalação permitirá também estabelecer programas regulares de manutenção e reabilitação nestes dois adutores e no do Alviela, sem que essas intervenções condicionem o abastecimento à região. A "CREL da água" foi sempre apresentada pela EPAL como a solução para os problemas de abastecimento. Garante a empresa que está projectada para responder às necessidades do aumento populacional, estimado em 15,6 por cento nos próximos 20 anos. Para ajudar a fornecer ao adutor os 410 milhões de litros de água por dia, foram reforçadas as captações do Tejo e da estação de tratamento de Vale da Pedra, e será construída uma nova conduta a partir da albufeira de Castelo de Bode
Agora que a "CREL" está terminada parecem acabar as justificações para as faltas de água constantes no Verão. No entanto, o cenário pode não ser bem assim. Os reservatórios são poucos, as redes municipais de distribuição estão velhas e a manutenção nem sempre é suficientemente cuidada. Segundo Joaquim Fitas, os municípios "têm respondido ao esforço da EPAL melhorando a sua capacidade de recepção e armazenamento", mas as redes internas, incluindo as ligações entre os vários reservatórios, são por vezes deficientes.
Apesar do investimento de 25 milhões de contos na nova infra-estrutura - a que se somarão, até 2005, mais 40 milhões em outras obras -, a EPAL garante que não irá reflectir os seus gastos nas facturas dos consumidores. "Comparativamente a 1993, os preços de hoje estão sete por cento mais baratos, pelo que irá haver uma tendência para a actualização, mas nunca em função do investimento. Até porque o aumento do consumo irá, com certeza, compensar os gastos", afirma Joaquim Fitas.

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