Afinal, não haverá piscina de Souto de Moura em São João da Madeira

Oposição socialista e independente chumba obra avaliada em 5,7 milhões de euros por uma questão de números e prioridades

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Esboço daquilo que seria a piscina de Souto de Moura

A piscina desenhada pelo arquitecto Eduardo Souto de Moura para São João da Madeira ficará apenas no papel. A oposição, em maioria na câmara, chumbou o avanço da obra avaliada em 5,7 milhões de euros.

Numa reunião extraordinária, os três vereadores do PS e o eleito do Movimento Independente SJM Sempre votaram contra a construção do equipamento, ficando os três eleitos do PSD em minoria. A infra-estrutura vai por água abaixo depois de Souto de Moura ter apresentado publicamente o seu projecto na Casa da Criatividade, em Setembro, após a aprovação de uma moção da assembleia municipal que recomendava ao executivo a realização da obra. Mais recentemente foi divulgado um manifesto a favor da construção da piscina assinado por mais de 110 pessoas – entre as quais, o designer de moda Miguel Vieira e o arquitecto paisagista Sidónio Pardal. 

A decisão era política e os políticos espremeram os seus argumentos. O PSD fez contas e garantiu que a nova piscina não representaria um custo anual superior ao da actual piscina. O PS elaborou outros cálculos, somou mais parcelas, e avisou que a obra ficaria um milhão de euros mais cara do que os 5,7 milhões anunciados. O movimento independente avisou que a autarquia não teria capacidade financeira para suportar uma obra desta dimensão. A primeira piscina coberta de Souto de Moura não passará assim dos esboços apresentados nos últimos meses.

Na hora da decisão, o PSD voltou a lembrar que a actual piscina, com 27 anos, é “comprovadamente insuficiente para a procura” e que os custos de exploração representam uma factura de 208 mil euros por ano. “Consciente da desactualização da piscina, da baixa eficiência energética, dos elevados custos de funcionamento e dos pesados custos de manutenção, desenvolveu o município estudos técnicos arquitectónicos e orçamentais para a reabilitação e ampliação da piscina, tendo a conclusão apontado claramente em favor da construção de novas piscinas, não só pelo menor custo de investimento inicial, como também pela muito melhor eficiência energética e eficiência de operação”, defendeu o PSD, pela voz do presidente da câmara, Ricardo Figueiredo.

O autarca lembrou que o projecto obteve três milhões de fundos comunitários, o parecer favorável da Federação Portuguesa de Natação e uma declaração formal, quanto à afirmação do interesse supramunicipal da piscina, assinada pelos cinco presidentes de câmara da região de Entre Douro e Vouga. 

O PS olha para a questão por outro prisma e questiona números e prioridades. “A piscina custa 5,7 milhões, mas a este valor é preciso acrescentar um conjunto de parcelas”, refere ao PÚBLICO Luís Ferreira, vereador socialista. Ou seja, especifica, 150 mil euros para acessos e taludes, 400 mil euros de juros para o empréstimo a pedir pela câmara, 150 mil euros para a transferência dos courts de ténis, e outra quantia para transformar as actuais piscinas num pavilhão desportivo.

O socialista considera ainda que a comparticipação dos fundos comunitários é baixa e que os cofres do município não têm capacidade para aguentar o investimento. “O retorno desta operação apenas se verificaria num período de tempo superior a cinco mandatos autárquicos, hipotecando a capacidade das próximas gerações em orientar os recursos municipais”, escreveu o PS na sua declaração de voto. 

Luís Ferreira fala também em prioridades. “Onde se poderia aplicar este dinheiro em vez de se gastar numa piscina?”, pergunta, munido de várias respostas. Na sua opinião, essa verba poderia ser canalizada para a área social ou para a manutenção de vários espaços e equipamentos municipais. O socialista imputa responsabilidades ao PSD por, nos últimos anos, não ter feito qualquer “intervenção de manutenção nas actuais piscinas”. 

Jorge Lima, o único eleito pelo SJM Sempre, votou igualmente contra por várias razões. Por a piscina de Souto de Moura não ser olímpica, por a câmara não ter condições financeiras para suportar a obra, e pelas dúvidas que mantém por, como refere numa nota enviada à imprensa, o “maior volume de construção” do equipamento estar “sobre o traçado da ribeira da Buciqueira, entubada, e à cota das garagens previstas nesta proposta de empreendimento, com as consequentes implicações técnicas e financeiras daí decorrentes e imprevisíveis”.

Piscina chumbada, o presidente da câmara reagiu. “Há quem se mova por interesses próprios ou corporativos e há quem se mova por causas. Prevaleceu o primeiro. O interesse dos são-joanenses foi preterido”, disse Ricardo Figueiredo na sua declaração de voto. 

 

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