A Tubitek vai reabrir. Para quem não a esqueceu e para os que nunca ouviram falar dela

Mítica loja de discos da Praça D João I, no Porto, reabre a 5 de Julho, pela mão de um empresário da distribuição de música, Abílio Silva, que aposta no vinil e nos fundos de catálogo.

Fotogaleria
Abílio Silva é o dono da Compact Records, que vai reabrir a Tubitek, no Porto Miguel Nogueira
Fotogaleria
O Vinil, e as edições especiais, como esta, de Bob Dylan, vão ter espaço destacado na loja Tubitek Miguel Nogueira

A marca reapareceu no Primavera Sound, a vender vinil e a fazer lembrar o Porto de outros tempos. Tubitek. Melómanos mais ou menos empenhados, com mais ou menos carteira, conheceram essa loja de discos da Praça João I, onde os escaparates continham mais do que hit do momento, e atrás do balcão, alguém, olhando para a nossa t-shirt estampada, era capaz de fazer uma vintena de recomendações. Ok, o Spotify faz isso tudo agora, mas Abílio Silva, dono da distribuidora Compact Records, acha que não chega. E vai reabrir, no dia 5, esse espaço mítico, apostando no vinil, nos fundos de catálogo e na força de uma marca que perdurou na memória, década e meia depois do seu encerramento.

Os trabalhos decorrem normalmente e dia 5, às 17h, haverá garantidamente festa na Baixa. Os convites estão a seguir para músicos e antigos frequentadores da Tubitek que, numa área mais pequena que antigamente e desenhada pelo Atelier Marca Roskopf – vão encontrar uma selecção de música que até terá o dedo de um antigo funcionário da loja, Ricardo Salazar, que vai colaborar com Abílio Silva. A CDV – Tubitek segue-se à CDV – Audito, outra marca da Compact Records que permitiu manter aberta uma histórica loja de Leiria, e à loja CDV no Style Outlet de Vila do conde, na qual o distribuidor aposta essencialmente no vinil. E quer ser uma loja de referência, numa zona do Porto que, nesta década e meia, perdeu muitas lojas de discos mas ganhou outra coisa: Milhares de turistas.

É um negociador atento, mas sobretudo um antigo cliente, o homem que vai reabrir o espaço. Abílio Silva recorda-se de como ali por meados da década de noventa, recém-casado, seguia, aos sábados, uma rotina que, antes de apanhar a mulher no emprego dela, o levava à Tubitek – onze discos de uma assentada, a cada semana, para aproveitar o décimo primeiro à borla –  à Jo-Jo’s e à Melody, que oferecia o nono na compra de oito discos. É fácil de perceber que, quando abriu o seu negócio, tivesse lá por casa dois mil discos. E é fácil de acreditar que, como o próprio assume, abriu o escritório para, num primeiro momento, melhorar a sua própria colecção. Quando a Jo jo’s fechou, no final do ano passado, comprou a colecção de Cd’s da casa e ficou com o site CD’ Go, que é hoje a sua loja virtual.

A CDV – Tubitek vai apostar também no Vinil, um mercado em crescendo. Há muito que Abílio Silva percebeu essa tendência e tem trabalhado de perto com editoras como a holandesa Music on Vinil, responsável pela reedição de vários álbuns de outras editoras e de colecções especiais, em rodelas de grande qualidade. No festival Primavera Sound, onde o ressurgimento do nome tubitek foi motivo de conversa, foram muitos os clientes que compravam e pediam que lhes guardassem aqueles discos grandes, que não cabem num bolso, para os levantarem à saída, ali pelas três da madrugada. E estes representaram metade da facturação nos três dias do evento. Em Vila do Conde, se em quantidade são apenas 6 a 7 por cento das vendas, representam 15% no valor, contabiliza.

Abílio Silva garante que as lojas foram um extra que lhe apareceu pela frente, e que não recusou, como complemento ao circuito da distribuição. Os donos da Auditu eram um dos seus melhores clientes. Da Tubitek, já percebemos a história. Quando começou no negócio “havia umas 300 lojas independentes no país. Hoje há pouco mais de uma dúzia”, lamenta. E explica que lhe faz impressão chegar a uma mega-store e não ver nas prateleiras discos que considera essenciais, nas mais variadas áreas, e alguém capaz de lhe falar da melhor novidade ou do clássico imperdível. Negociador de sucesso, o empresário assume contudo que nunca esteve, nem estará, ao balcão, porque, muito provavelmente, como melómano que é, se lhe aparecesse um cliente com cultura musical, perderia horas a conversar, em vez de lhe vender qualquer disco.

Que discos terá a nova Tubitek?
Entre as cinco mil referências em CD, as 1500 em vinil, e as 500 em DVD, Abílio Silva consegue adiantar, olhando apenas para a sua playlist pessoal, algumas rodelas imprescindíveis.

Estará lá toda a obra de Nick Cave – inclusive o da fase “lamechas” –, To Bring you My Love e o resto de Polly Jean Harvey, Dummy, dos Portishead ou Rock Action e todos os outros discos dos Mogwai, uma banda por quem ele corre milhares de quilómetros, só para a ou(ver) ao vivo.

Os New Order têm também lugar na prateleira, tal como as duas obras maiores dos Waterboys, Fisherman’s Blues e This is the Sea, ou King for a Day dos Faith no More. Lou Reed, Radiohead e “qualquer um do Bruce Springsteen” têm lá espaço, tal como “boa música portuguesa”, na qual ele inclui, assim de repente, À flor da Pele dos UHF. O resto, é espreitar, a partir de 5 de Julho. 

Sugerir correcção
Comentar