Há mais gente nos estádios da II Divisão alemã do que na I Liga

Clubes portugueses tiveram receitas de 18 milhões de euros em 2012 e apresentam défices muito superiores à média europeia.

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Média de espectadores na I Liga é inferior a dez mil pessoas Nuno Ferreira Santos

Os portugueses são dos europeus mais interessados por futebol mas vão muito pouco aos estádios. Um estudo publicado esta quinta-feira pela UEFA revela que os estádios da I Liga são menos frequentados do que os recintos de divisões secundárias da Alemanha e da Inglaterra, por exemplo.

Com uma média de 9.803 espectadores por jogo, durante a última época, a I Liga aparece no 16.º lugar entre 34 competições domésticas e duas europeias. À frente do campeonato português, estão os segundos escalões de Inglaterra (17.488) e da Alemanha (17.237 espectadores).

Apesar de não assistirem a muitos jogos ao vivo, os portugueses têm muito interesse pelo futebol. A um inquérito feito pela UEFA, 88% responderam serem “interessados” ou “muito interessados” na modalidade, acima da média europeia, de 82%. Portugal regista também o maior nível de concentração de apoio num único clube, neste caso o Benfica, com 47% de adeptos, ligeiramente acima do apoio dado ao Steaua Bucareste por 45% dos romenos.

O relatório da UEFA centrou-se na saúde financeira dos clubes e revela que os clubes europeus obtiveram receitas no valor total de 14,1 mil milhões de euros, durante o ano fiscal de 2012. São, sobretudo, os direitos televisivos (37%) e os patrocínios (24%) que garantem os encaixes dos mais de 700 clubes abrangidos pelo estudo.

Em Portugal, os clubes encaixaram em média 18 milhões de euros, registando uma queda de 11% em relação ao exercício anterior. No entanto, nos últimos cinco anos, os clubes do principal escalão alcançaram um crescimento de 6% das suas receitas. Em média, as receitas dos clubes europeus aumentaram 42% nesse período. À frente dos clubes nacionais estão, por exemplo, os suíços que encaixaram em média 19 milhões de euros.

Mais salários do que receitas

Apesar do crescimento global das receitas, as despesas salariais tiveram um aumento superior na Europa, nos últimos anos. Entre 2007 e 2012, os salários dos clubes aumentaram 59%. Portugal está em linha com essa tendência, com um crescimento de 52%. O estudo do organismo europeu sublinha a contenção salarial nos principais campeonatos, onde as oscilações não foram acentuadas. Contudo, para o aumento global das massas salariais muito contribuíram subidas superiores a 100% em países como a Rússia, a Turquia ou o Chipre.

O cenário continua a ser negativo para os clubes portugueses no que respeita aos saldos líquidos. Com perdas superiores a 20%, Portugal está muito acima da média europeia, que é de um défice de 6%. As perdas dos clubes portugueses significam que por cada 10 euros de receitas, os clubes gastam 12, o que, “se for frequente, os vai tornar fortemente dependentes de financiamento”, alerta a UEFA.

As boas notícias chegam apenas no capítulo das transferências. Desde 2010, os clubes portugueses registaram 15 vendas por valores superiores a 15 milhões de euros, ficando apenas atrás de ingleses, italianos e espanhóis.

O estudo do organismo que tutela o futebol europeu também se debruçou sobre a estabilidade dos treinadores nos clubes. Entre 2011 e 2013, os clubes europeus mudaram em média 2,7 vezes de técnico, mas há diferenças assinaláveis entre os países escandinavos, com mudanças inferiores a um, e alguns países dos Balcãs, com uma média superior a cinco. Em Portugal, os clubes mudaram entre duas a três vezes de treinador, nos últimos três anos.

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