França vive clima de pré-euforia antes de defrontar Portugal de Ronaldo

Selecção nacional e a sua maior estrela têm um encontro marcado com a história esta noite em Paris. Ninguém aposta muito na equipa de Fernando Santos, mas também ninguém acreditava na Grécia no Euro 2004.

Foto
Os franceses não admitem sequer perder o título, por mais remota que seja a hipótese GEOFFROY VAN DER HASSELT/AFP

A data: 20 de Agosto de 2003. O local: Estádio Municipal de Chaves. O jogo: partida particular entre Portugal e o Cazaquistão. O resultado: 1-0, com um golo de Simão Sabrosa, aos 86’. A efeméride: estreia de Cristiano Ronaldo na selecção nacional, com 18 anos. Entrou na segunda parte e foi considerado o melhor elemento em campo. Passaram 12 anos e está hoje entre os maiores de sempre do olimpo do futebol. Comandará esta noite a selecção nacional num encontro marcado com a história. O país e o mundo têm os olhos postos neste madeirense que é, talvez, o português mais global de todos os tempos. Atrás de si está uma equipa e todo um povo que sonham com o título europeu. À sua frente um enorme obstáculo chamado França, que não equaciona sequer perder.

PÚBLICO -
Aumentar

É verdade que a selecção portuguesa não se resume ao seu capitão e é injusto remeter os seus 22 companheiros de aventura para um papel secundário. Mas é inevitável a fusão desta equipa com o seu líder, tal como o Portugal de Eusébio, o Brasil de Pelé, a Argentina de Maradona, a Holanda de Cruyff ou a França de Platini e Zidane, entre outros exemplos. Aos 31 anos, Cristiano Ronaldo, o eterno CR7, terá, provavelmente, a derradeira oportunidade de alcançar a glória com a camisola de Portugal. Mais do que no Europeu de 2004, quando não era ainda o grande protagonista da equipa das quinas, um papel então desempenhado pelo seu antecessor Luís Figo.

O contexto desta final é totalmente adverso a Portugal. Vai defrontar a selecção anfitriã no majestoso Stade de France, em Paris. Está longe de ser o favorito, ainda mais depois de o seu oponente ter derrotado a super-potência alemã, campeã mundial, nas meias-finais. Por outro lado, os desempenhos da equipa nacional na primeira fase do torneio foram decepcionantes, acabando aquele que seria o grupo teoricamente mais fraco da competição num pouco honroso terceiro lugar. Esteve muito perto de ficar por aí, mas Ronaldo renasceu das cinzas portuguesas para garantir, in extremis, que a campanha nacional não iria acabar em vergonha. O feliz destino colocou o conjunto de Fernando Santos no lado mais tranquilo do quadro competitivo, evitando os grandes “tubarões” em prova. Entre estes foi a França quem emergiu triunfante.

A história também não ajuda a reforçar a confiança das hostes portuguesas, que perderam os únicos três jogos oficiais com os “bleus”. E foram sempre derrotas traumatizantes. Nas meias-finais do Euro 1984, também disputado dentro das fronteiras francesas, a selecção viu fugir-lhe por entre os dedos o apuramento, depois de ter estado à frente do marcador até aos derradeiros seis minutos do prolongamento. A história iria repetir-se 16 anos depois, nas meias-finais do Euro 2000, organizado pela Bélgica e Holanda. A vencer até aos 51’, graças a um golo de Nuno Gomes (19’), a selecção foi obrigada a novo prolongamento, que acabou com um penálti de Zidane (actual treinador de Ronaldo no Real Madrid), a três minutos do apito final, a castigar uma mão na bola de Abel Xavier.

E Zinedine Zidane voltaria a fazer chorar os portugueses nas meias-finais do Mundial de 2006, na Alemanha, com um golo solitário, aos 33’, mais uma vez na transformação de uma grande penalidade, a castigar mais uma falta desnecessária, desta vez de Ricardo Carvalho. Se somarmos a estas partidas oficiais os encontros particulares realizados entre as duas selecções, Portugal perdeu sempre nos últimos 41 anos (em 10 oportunidades), totalizando apenas cinco triunfos e um empate nos 24 jogos disputados.

Uma estatística que, associada aos últimos resultados da selecção da casa, deixa os franceses em clima de pré-euforia. Pelo menos aqueles com quem o PÚBLICO tem falado nos últimos dias em Lyon e em Paris, que não admitem perder este título, por mais remota que seja a hipótese. O mesmo se passa com os jornalistas gauleses. Nas últimas duas conferências de imprensa com alguns jogadores e com o seleccionador francês as perguntas acerca de Portugal foram praticamente ignoradas, acabando por ser a comunicação social nacional a procurar solitariamente abordar o assunto. Ainda ontem, quando Fernando Santos fazia a antecipação da partida no Stade de France, uma jornalista estrangeira deixou entender que esta não era a final desejada para este Euro, segundo a opinião geral, sugerindo que a selecção nacional não teria mérito para estar no derradeiro jogo do torneio.

Restará a Portugal defender o seu orgulho, superar-se e contrariar vitórias antecipadas, como defendeu ao PÚBLICO o deputado Carlos Gonçalves (ver entrevista nas próximas páginas). Este político recordou a final da Taça dos Campeões Europeus de Viena, em 1987, entre o FC Porto e o super-favorito Bayern Munique. Na Alemanha e nas bancadas da capital austríaca já se fazia a festa antes de o jogo começar e, mais ainda, depois do golo dos bávaros, aos 25’. O júbilo terminaria abruptamente, aos 78’, com o calcanhar de Madjer, antes de Juary, dois minutos depois, provocar a estupefacção geral. Não haverá melhor fonte de inspiração para a selecção.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários