Portugal decide em Junho se participa no maior radiotelescópio do mundo

Vai ter os seus aparelhos espalhados por África do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Portugal pondera neste momento a adesão a este telescópio, que começará a ser construído em 2016.

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Miguel Seabra diz que a FCT está a avaliar quais as infra-estruturas científicas internacionais que são importantes para Portugal Daniel Rocha

Até Junho de 2013, Portugal irá decidir se fará parte do consórcio do Square Kilometre Array (SKA), o maior radiotelescópio de sempre que começará a ser construído em 2016, disse nesta sexta-feira Miguel Seabra, presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

“O nosso timing é Maio ou Junho do próximo ano. A adesão a estas infra-estruturas tem sempre prazos relativos, podemos sempre entrar depois. Mas quanto mais cedo entrarmos, mais vantagens podemos retirar do projecto”, disse Miguel Seabra ao PÚBLICO, depois de ter dado uma palestra na Fundação Portuguesa das Comunicações, em Lisboa, durante o workshop sobre o Square Kilometre Array.

O SKA só deverá ficar pronto em 2024. O radiotelescópio será uma estrutura única, com três tipos diferentes de aparelhos que vão captar ondas de rádio vindas do Universo numa vasta gama de frequências. Estes aparelhos serão instalados na Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e noutros países africanos como Moçambique.

Espera-se cartografar mil milhões de galáxias com o SKA, para tentar saber mais sobre a matéria escura, que estará a acelerar cada vez mais a expansão do Universo. Numa segunda fase, o telescópio vai ainda procurar vestígios de moléculas orgânicas, que poderão indiciar vida noutros planetas. Mas para isso vai ser necessário muito dinheiro. A primeira fase de construção do telescópio, entre 2016 e 2020, custará 350 milhões de euros. A segunda fase de construção, que durará mais quatro anos, vai colocar o custo total nos 1500 milhões de anos.

Miguel Seabra diz não saber quanto será o custo da entrada de Portugal no consórcio, que já conta com África do Sul, Austrália, Canadá, China, Holanda, Itália, Nova Zelândia, Reino Unido e Suécia. Mas esse montante será cerca de “1,2 milhões de euros”, segundo o investigador Domingos Barbosa, do Instituto de Telecomunicações, que está ligado à Universidade de Aveiro, um dos organizadores não-oficiais da estratégia portuguesa do SKA, que conta com os astrofísicos Sonia Antón e Dalmiro Maia, ambos da Universidade de Porto.

Moura terá centro de testes
Para Barbosa, a adesão de Portugal ao consórcio deverá ser feita agora. “Como o projecto está no início, se Portugal entrar agora, tem a capacidade de retorno de 100%”, explica ao PÚBLICO. Ou seja, por cada euro que investir irá ter um euro de retorno.

Tanto Phil Diamond, director-geral da organização do SKA, como Daan du Toit, representante do Governo da África do Sul na União Europeia, defenderam a entrada de Portugal no consórcio nas suas palestras no workshop. “Temos esperança de que Portugal entre na organização do SKA”, refere Phil Diamond.

Miguel Seabra explica que a FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia) está a delinear um roteiro das infra-estruturas científicas internacionais a que Portugal poderá aderir - e o SKA é uma delas (o país já é membro de várias organizações, como o Laboratório Europeu de Física de Partículas ou a Agência Espacial Europeia). As duas componentes que determinarão as novas adesões, segundo este responsável, é a “excelência do projecto” e o “interesse para Portugal”.

“O interesse da comunidade científica no SKA, a sua organização e preparação, a presença de um centro experimental em Moura que já possibilitou o desenvolvimento de alguma tecnologia, tudo isto cria expectativa que vai ser possível Portugal entrar neste projecto. Mas a decisão não está tomada”, afirma Miguel Seabra.

O centro experimental de Moura vai começar a ser construído em Janeiro de 2013, com seis milhões de euros de financiamento da Comissão Europeia. A construção vai demorar três anos. Neste centro vai ser testado um dos três tipos de instrumento do SKA. Moura é um bom local para estes testes preliminares porque está isolada de ondas de rádio emitidas por instrumentos humanos e tem um clima semelhante ao da África do Sul e da Austrália.  

Neste momento, há cinco grupos científicos portugueses e três empresas que já têm uma ligação ao SKA. O projecto vai exigir o desenvolvimento de tecnologia nas áreas da energia e da informação e promete obter dados científicos que vão manter os cientistas ocupados nas próximas décadas. O que perde Portugal se não entrar neste comboio? “Nas primeiras descobertas, as mais excitantes e estimulantes, não vamos estar lá”, diz Domingos Barbosa, acrescentando que isto se reflectirá em artigos científicos publicados e, em parte, no financiamento futuro da ciência.
 
 
 

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