Como é que uma mulher descobre que se transformou numa mãe?
Nunca mais vemos o mundo da mesma maneira depois de sermos mães.
Querida Mãe,
Sabe como é que se descobre que uma mulher é mãe? Não, não é por termos uma criança que vive em nossa casa 24 horas por dia, 365 dias por ano. Nós só nos tornamos verdadeiramente mães quando passamos a fazer estas coisas:
- Passamos a ter frio nos pés. É ridículo, andámos toda a nossa infância e juventude descalças mas, de repente, custa-nos andar sem meias e ver os nossos filhos descalços causa-nos frio físico.
- Quando ligamos a Netflix e só passado uns segundos percebemos que estamos a ver desenhos animados.
- Quando encontramos chuchas, carrinhos e chupas nos bolsos e no fundo da carteira.
- Quando estranhamos o silêncio e pensamos logo nos mil disparates que podem estar a acontecer.
- Quando vamos às compras para nós e só voltamos com roupa para os miúdos.
- Quando temos uma noite sozinhas com o nosso marido e a primeira coisa que queremos fazer é... dormir!
- Passamos a contar o “ir ao supermercado” como um “tempo para mim”.
- Limpamos o tablier do carro com dodots... quer dizer limpamos tudo com toalhitas para bebé.
- Quando ficamos mais nervosas a tentar fazer novas “amigas-com-filhos-da-mesma-idade-que-os-nossos”, do que quando começámos a namorar.
- Quando estivemos a brincar seis horas com o nosso filho, mas, afinal, passaram só cinco minutos!
Tem mais requisitos a acrescentar?
Querida Ana,
Obrigada pela tua lista, a que acrescento mais cinco provas irrefutáveis de que somos mães.
- Choramos de comoção quando vemos um parto na televisão, mesmo que seja num anúncio cómico.
- Nunca mais dormimos da mesma maneira.
- Nunca mais temos um pensamento com princípio, meio e fim, porque de uma ou de outra forma somos sempre interrompidas.
- A segunda-feira começa a ser o nosso dia preferido.
- Não resistimos a mostrar as fotografias dos nossos filhos a quem se cruza connosco — e se, dantes, era só a fotografia tipo-passe, que cabia na carteira, agora reconhecemos que é preciso fugir de uma mãe-babada com um telemóvel cheio delas.
Ui, podia continuar esta lista por aqui fora — de facto, nunca mais vemos o mundo da mesma maneira depois de sermos mães.
O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. As autoras escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990