Porque já fomos um dia ou porque os temos à nossa volta, toda a gente sabe algumas das complexas características de um adolescente. Gosta de correr riscos, toma decisões impulsivas e com critérios muito duvidosos, desafia os limites e regras, ignora os perigos, pode reagir de forma agressiva às tentativas de o disciplinar e, por vezes, é preguiçoso, não faz a cama e não apanha a roupa do chão. Enfim, uma longa lista de traços mais ou menos difíceis de gerir e que afectam a sua vida e a dos outros. É claro que também há adolescentes tranquilos (poucos, mas há), mas não é desses que quero falar.

Feito o preâmbulo, vamos ao que interessa ao Azul: o nosso planeta. Agora juntem as duas ideias e a conclusão é fácil. Os decisores políticos ou líderes mundiais, se preferirem, estão a comportar-se como adolescentes na nossa casa, este pequeno ponto azul na nossa galáxia. Perdi a conta aos textos publicados ao longo deste mês sobre recordes e catástrofes. Desde temperaturas insuportáveis da China aos EUA, passando pela Europa, a tempestades, inundações e incêndios sem precedentes. Vidas que se perderam, terras e casas transformados em montes de cinzas.

Para acabar a semana em tristeza, duas das mais importantes organizações ligadas ao clima confirmaram que este foi o mês registado mais quente de sempre. Citado no comunicado, o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas, é claro: "As condições meteorológicas extremas que afectaram muitos milhões de pessoas em Julho são, infelizmente, a dura realidade das alterações climáticas e um prenúncio do futuro. A necessidade de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa é mais urgente do que nunca. A acção climática não é um luxo, mas uma obrigação."

Sei que nada disto é novo. Mas é irritante. Irritante como alguns adolescentes conseguem ser. Não quero ser injusta nem ingrata, sobretudo quando vemos que, actualmente, são os "verdadeiros" adolescentes que parecem mais interessados e empenhados na acção climática. Que saem à rua, que berram mais alto, que fazem escolhas mais sensatas para o seu modo de vida, que falam e acreditam num futuro diferente.

Enquanto isso, os nossos queridos (e eleitos) "adolescentes" que governam no mundo assobiam para o lado. E esta fase de crescimento e de imaturidade no poder está a durar tempo de mais. Continuamos à espera que assumam responsabilidades, que paguem as contas, que tratem de limpar o que sujam, de reparar o que estragam.

Porém, o empurrão para a idade adulta pode agora estar mais perto que nunca. À medida que o rastilho da crise climática queima, as contas começam a chegar. Aliás, esta é uma das maneiras que muitas vezes usamos para travar um adolescente: indo-lhes ao bolso. Não há dinheiro, não há farra. E acreditem que esta crise climática vai-nos sair caro.

A crise climática não é uma doença crónica que piora no Verão e depois melhora. O caos que se instalou durante este mês de Julho tem e terá graves consequências económicas para todos. Esta, tal como disse o primeiro-ministro grego esta semana durante os dramáticos incêndios nas ilhas, é outra guerra que estamos a travar.

Há danos menos visíveis e menos imediatos que não aparecem nas fotogalerias que fazemos de uma onda de calor ou de um incêndio alimentado por um clima desregulado que parece impossível de controlar. Há, por exemplo, os riscos de grandes perdas simultâneas de colheitas em diferentes regiões do mundo, que vão afectar todo o sistema alimentar, a disponibilidade e os preços dos alimentos. Quando o adolescente abrir a porta do frigorífico pode não restar nada.

E há um impacto tremendo nos ecossistemas naturais e nos cultivados, onde não se pode ligar o ar condicionado. Há a destruição silenciosa debaixo do mar cada vez mais quente e que também tem um impacto irreversível em terra firme. Já para não falar no impacto que a crise climática tem na saúde de todos os que vivem nesta casa, sobretudo os mais vulneráveis. Há pontos sem retorno. Já tocámos alguns e a viagem não promete melhorar.

Este mês de Julho não foi só mais uma lição ou mais um sermão, agir é mesmo uma obrigação. E, sim, confesso que tenho um adolescente em casa e que, às vezes, me dá algum trabalho. Mas não tanto e tão desolador como me dão os adolescentes que governam o mundo.