Cartas ao director

Rio quer transformar o Chega no que o Chega não é

Se, para muitos o líder actual do maior partido da oposição ficou como um símbolo de integridade na Câmara Municipal do Porto, agora, irá ficar como “quem" trouxe a extrema-direita/populista para o palco da governação. E já não há recuo. Está feito e muito mal feito. E haverá que dar mérito e relevo a muitas figuras do CDS e do próprio PSD que por escrito declararam estar totalmente contra “este acordo com o Chega”.

Marcelo Rebelo de Sousa, que é social-democrata, supostamente não estará nada agradado com este imbróglio criado pelo actual chefe do partido a que pertence.

Augusto Küttner de Magalhães, Porto

Hipocrisia política

Já lá vão quarenta anos sobre a minha desfiliação partidária. Há muito que me curei do “clubismo político” e posso exibir, aqui e agora, a minha ignorância sem o receio de ferir lealdades. Não tenho a mínima simpatia pela personagem André Ventura e muito menos por algumas das suas bandeiras. Ele sabe bem que não são concretizáveis, mas servem-lhe às mil maravilhas para arrecadar votos anti-sistema. Acho inteiramente normal a “solução açoriana”, ainda que a julgue pouco inteligente.

Mas este foi um bom teste à amplitude democrática de dirigentes políticos e de convencidos comentadores. Um “cordão sanitário” ou “linha vermelha” para o Chega? É negar aos seus votantes, que o legitimam, participar na negociação política. Uma infâmia! Não nos podemos esquecer que o Bloco de Esquerda ganhou força como movimento anti-sistema, populista, e até, pela voz da sua ala UDP, renegou uma “Constituição burguesa”. Mas actualizou-se e chegou ao ponto de se proclamar social-democrata. E o Partido Comunista, que pretendeu no PREC tomar o poder por via revolucionária, que contestou a existência de eleições e que tentou boicotar a Constituição, sequestrando os deputados constituintes no Parlamento?

Mas também é importante lembrar, a seguir ao 25 de Novembro, a sensata e corajosa afirmação de Melo Antunes de ser o PCP indispensável à democracia portuguesa. E confirmou-se o importante papel deste partido.

São colocadas linhas vermelhas pela nossa diplomacia em relação a países que admitem a pena capital? E António Costa não negociou com Viktor Órban e fez questão de com ele se deixar retratar para que todo o mundo assistisse a um diálogo, que acho normal?

Isolar o Chega é fazer o seu jogo, é promover a onda anti-sistema. O caminho adequado é, obviamente, combater as suas alarvidades e ajudar a que se torne um partido de direita civilizada onde nunca contarei votar. Mas isso não convém a quem, hipocritamente, pretende que o Chega cresça, mas dentro de uma bolha estanque para não permitir que se construa qualquer alternativa à actual maioria tendencial.

Há uma grande franja de “bem-pensantes” que admite uma democracia mas apenas dentro dos quadros estritos dos seus preconceitos e dogmatismos. São uns moralistas que se julgam detentores de toda a verdade, os únicos legítimos defensores da liberdade e da democracia. Mas pouco democratas, na verdade.

José Mendes, Coimbra

Mortos-vivos

O planeta foi invadido por um vírus que mata os mais fracos, enfraquece os mais fortes. A falta de resposta científica a esta ameaça tem levado governos a tomarem medidas de forma a conterem o mais possível a propagação. A pretexto dessa preocupação, assistimos a políticos e a elementos das autoridades sanitárias a decidirem e a darem conselhos para todos os gostos. Rasgam-se Constituições, enterram-se os direitos, liberdades e garantias do Homem, impõem-se regras no que resta de convívio dentro e fora de casa, receando-se a criminalização da abertura da boca, no antigo exercício da fala. Tudo isto sujeito à multa por qualquer fiscal e até prisão.

A covid-19 tirou a máscara à incoerência e à negociata no que concerne à saúde pública. Uns dias autorizam-se eventos com público, noutros proíbe-se assistência, sendo que nos caucionados resultou quase sempre aglomerações de pessoas e portanto potenciados os contágios. Em Portugal regista-se dois fins-de-semana de confinamentos à tarde empurrando-se as pessoas para ajuntamentos de manhã com as previsíveis piores consequências que qualquer ser dotado mesmo com um minúsculo cérebro concluirá. À distância física sobrepôs-se a social. Abrir a boca e respirar são fontes de perigo. Bom senso precisa-se.

Aristides Teixeira, Almada

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