Cartas ao director

​Eliminar Vladimir Putin?

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​Eliminar Vladimir Putin?

Com esta invasão da Ucrânia pelas tropas russas, nunca, na nossa existência, nos sentimos tão próximos de uma terceira guerra mundial e nunca nos sentimos tão vulneráveis e tão desamparados. Há poucos dias, Lindsay Graham, um senador americano, propôs, sem rebuço, a eliminação de Vladimir Putin para colocar fim à invasão da sacrificada Ucrânia. Naturalmente que a Casa Branca ou mais propriamente o presidente Joe Biden rechaçou liminarmente essa ideia perversa.

Em princípio, os fins não justificam os meios e tirar a vida é um acto repudiável sob o ponto de vista ético e moral, pese embora isso não afecte o sanguinário Putin que está aniquilando milhares de vidas que vão desde as indefesas crianças, a adultos e a velhos (como afirmou um ministro da Ucrânia, “os ucranianos são os judeus martirizados do século XXI”).

A legitimidade do tiranicídio já remonta à Idade Média. S. Tomás de Aquino afirmava que “quem mata ou executa um déspota deverá ser louvado e/ou recompensado”. Muito mais tarde, e na mesma linha, Thomas Jefferson afirmou que “a árvore da liberdade deve ser regada com o sangue dos tiranos”. Na base destes pressupostos – e doutros que seria fastidioso trazer à liça – poder-se-á justificar o assassinato de Putin para pôr fim a este genocídio? Não faltará, por certo, quem apele ao princípio da legítima defesa para acabar com um homem sem escrúpulos. Se o tiranicídio serve para evitar males incomensuráveis ou mesmo arbitrariedades intoleráveis, existirá, de facto, uma “legitimidade superior” para concretizar esse mesmo tiranicídio como já sustentava o padre Juan de Mariana ,no século XVI, na sua obre “De rege” ?

António Cândido Miguéis, Vila Real

"Jogar à defesa e entrincheiramento"

Procurei condensar num só título duas coisas, embora ambas se encostem, no momento que vivemos. O modo de “jogar” refere-se a Boaventura de Sousa Santos (B.S.S.) que, quando eu esperava que enfrentasse o artigo de Manuel Carvalho (M.C.), da véspera, que se opunha frontalmente ao que B.S.S. tinha escrito no dia anterior – tudo no PÚBLICO – se encolheu, preferindo a defesa suave, sem que não deixe de invocar o “pensamento complexo”, o seu que não o de Edgar Morin, que traz erudição e tenta minimizar M.C.

A colocação do PÚBLICO numa trincheira anti-comunista, feita pelo leitor Carlos Chaparro (C.C.) no dia 11, também é uma peça típica do PCP neste momento em que as coisas são bem mais lineares e existe um culpado único, morador no Kremlin e que, sendo comunista estruturalmente.... até verbera Lenine e se serve do capital selvagem para afirmar esse seu “comunismo”. O jornal de hoje (12/3) desdi-lo em toda a linha e, em quatro cartas, três são precisamente da “trincheira” onde C.C. se coloca. E mesmo a publicação da sua carta de ontem o prova.

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

Carmo Afonso

Que eu não conhecia antes, é uma das três articulistas que começaram há pouco a colaborar neste jornal. Congratulo-me por três mulheres da “área” da esquerda ocuparem, alternadamente, este espaço na última página. Tenho-as lido com muito interesse.

Dia 11 de Março, Carmo Afonso esclarece os leitores sobre se é ou não lícito serem renumerados os (e as) deputados/as, em regime de exclusividade, que escrevem para um jornal, ou participem regularmente em programas de comentário ou debate televisivo, ou radiofónico, creio.

A articulista demonstra que os ataques recentes da direita ao BE e ao PCP não são “inocentes”. Visam descredibilizar estes partidos que desde sempre se têm empenhado em defender os direitos da classe trabalhadora, esteja activa, desempregada ou na situação de pensionista; que se batem pelo aumento do salário mínimo, pela gratuitidade dos transportes, pela baixa das propinas, etc.

Domicília M.ª C. Costa, Vila Nova de Gaia

Pode ser-se anti-Putin sem glorificar a NATO?

Respondo à pergunta do título: pode. Considero Putin um criminoso perigosíssimo, mas não quero sentir-me coagido a fechar os olhos aos tremendos erros e faltas de cumprimento por parte da NATO e de grande parte dos seus países-membros, com os EUA à cabeça, sobretudo depois da queda da URSS. Não tenho espaço para os enumerar, mas todos os de boa-fé os conhecem.

É curioso que, em Portugal, a discussão da “questão ucraniana” esteja sub-repticiamente a deslizar para a acusação polarizadora do “quem é por quem”, como se, assim, se atenuasse a catástrofe humanitária já iniciada e com tendência para crescimento exponencial. A brutalidade da agressão russa à Ucrânia suscita alguma discussão? Não a mim. Mas existe o risco dos que sentem algumas dúvidas quanto ao comportamento da NATO serem acusados de “aliados do inimigo”, como fatal resultado de um imaginário plebiscito moldado em “pensamento único”.

Ficando-me por João Miguel Tavares e António Barreto, já vamos nos “russófilos”, “iliberais”, “espíritos perturbados”, “gente menor”, “charlatães do pensamento”. Ainda não chegámos às “bruxas”, mas talvez convenha começar a caçá-las…

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia