Greta Thunberg é influente, mas não lidera a luta pela acção climática, diz ministro do Ambiente

No último debate sobre os resultados da cimeira do clima de Glasgow, a jovem sueca foi alvo de comentários positivos em relação à sua influência na divulgação do problema das alterações climáticas. Contudo, a liderança dessa mesma luta não está nas ruas, pelo que “têm de ser mesmo as instituições, e os Estados, e as democracias liberais tanto quanto possível, a liderar este processo”, considera João Pedro Matos Fernandes.

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Greta Thunberg EPA/STEPHANIE LECOCQ

O ministro do Ambiente e Acção Climática, João Pedro Matos Fernandes, diz que a jovem activista Greta Thunberg fez muito mais pela divulgação do problema das alterações climáticas do que altos responsáveis políticos, mas nega que a liderança destas matérias esteja na rua.

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O ministro do Ambiente e Acção Climática, João Pedro Matos Fernandes, diz que a jovem activista Greta Thunberg fez muito mais pela divulgação do problema das alterações climáticas do que altos responsáveis políticos, mas nega que a liderança destas matérias esteja na rua.

Num debate sobre os resultados da cimeira do clima de Glasgow (COP26), do mês passado, João Pedro Matos Fernandes disse ser evidente que Greta Thunberg fez muito mais pela divulgação do problema da acção climática do que pessoas como Al Gore ou John Kerry (ambos ambientalistas, o primeiro ex-vice-presidente dos Estados Unidos e o segundo actual enviado presidencial especial dos Estados Unidos para o clima).

A influência da jovem activista sueca, disse na conferência, é nas gerações mais novas mas nas mais velhas também, exemplificando Matos Fernandes com os próprios pais, a quem Greta Thunberg ensinou mais, “ou pelo menos fê-los pensar muito mais”, do que Al Gore ou John Kerry, por muito que estes sejam “pessoas muito comprometidas com estas matérias”.

“Mas eu não consigo aceitar que me digam que a liderança está na rua. Porque no dia em que a liderança estiver na rua não haverá justiça climática, nem transferência de dinheiro para quem mais precisa. E por isso têm de ser mesmo as instituições, e os Estados, e as democracias liberais tanto quanto possível, a liderar este processo.”

O debate, promovido pela Fundação Res Publica, juntou além do ministro o presidente da fundação, o socialista Pedro Silva Pereira, que é vice-presidente do Parlamento Europeu, e Humberto Rosa, da Direcção-Geral do Ambiente da Comissão Europeia.

Humberto Rosa concordou que a liderança da luta contra as alterações climáticas não é nas ruas que está, mas avisou que os discursos políticos não estão a chegar a essas pessoas que estão nas ruas.

“Será que é preciso uma degradação das nossas condições de vida, maior, bastante maior, para haver o apoio político suficiente?”, questionou.

E acrescentou logo de seguida: “Concordo que a liderança não é nas ruas que está, mas vejo aqui factores de preocupação, vejo uma juventude angustiada, qualificada, com acesso a muita informação, sem esperança, excessivamente sem esperança, e temos de encontrar aqui um discurso” para essa juventude e para os que se possam sentir deserdados pelos “novos amanhãs”.

O objectivo da conferência foi fazer um balanço da COP26, com os três a salientarem os aspectos positivos da mesma, mais positivos do que negativos.

Matos Fernandes considerou que os resultados encaminham o mundo para um aumento menor de temperatura do que os conseguidos no Acordo de Paris de 2015, e disse que tal só não foi excelente porque hoje é preciso “andar mais depressa” e o mundo já aqueceu 1,2 graus.

“Direi que saio de Glasgow com a convicção de que é mesmo possível que a liderança destes processos esteja não na rua mas dentro das casas, e liderada pelas instituições”, tinha começado por dizer o ministro.

Humberto Rosa falou de outros sucessos da cimeira, salientou que se tenha apontado o dedo, pela primeira vez, aos combustíveis fósseis, e destacou a atenção cada vez maior que se dá ao tema, até porque as pessoas entendem as mudanças climáticas como uma ameaça à própria vida.

Por seu lado, o ministro lembrou também dados que indicam que os portugueses são dos mais preocupados e sensibilizados com as alterações climáticas, considerando que a mudança para as energias renováveis até pode não implicar grandes alterações de comportamento, mas avisou que essas alterações terão de acontecer na mobilidade.

“Só vamos conseguir ser neutros em carbono com esforço. Significa este esforço necessariamente uma perda de qualidade e vida? Eu quero acreditar que não, sobretudo se, por exemplo, nos habituarmos a partilhar mais as coisas”, disse também.