Em prova: Tintos que despertam paixões

Os tintos da região dos Vinhos Verdes mantêm-se sobretudo como referência no seu reduto regional. Despertam paixões, mas teimam em fechar-se ao consumo exterior. As suas características étnicas, consumidores aguerridos e uma tradição quase medieval têm bloqueado um consumo alargado, pese embora a surpresa para muitos que passam a região.

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Recentemente, um grupo de sommeliers vindos de todos os continentes adoptava como grito comum o “vinho uau”, associando o sentimento de agradável surpresa ao “vinhao”, como pronunciavam o nome da casta. É certo que provaram sobretudo vinhos de preparação enológica cuidada, mais elegantes e equilibrados, que conquistam pela frescura frutada, paladar vivo, equilíbrio. Mas essas são as características da casta, que a actual viticultura e enologia não têm dificuldade em evidenciar.

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Recentemente, um grupo de sommeliers vindos de todos os continentes adoptava como grito comum o “vinho uau”, associando o sentimento de agradável surpresa ao “vinhao”, como pronunciavam o nome da casta. É certo que provaram sobretudo vinhos de preparação enológica cuidada, mais elegantes e equilibrados, que conquistam pela frescura frutada, paladar vivo, equilíbrio. Mas essas são as características da casta, que a actual viticultura e enologia não têm dificuldade em evidenciar.

Há, por isso, verdes tintos em garrafeiras de referência e grandes restaurantes de todo o mundo, mas que se produzem em quantidades mínimas, já que por cá não têm reconhecimento. Diz-se, por isso, que o verde tinto é, afinal, vítima do próprio sucesso, uma vez que os mais valorizados pelos consumidores continuam a ser os mais duros e rústicos.

Outro problema é agora, também, a escassez de encepamento. Face ao avanço dos brancos, muitas vinhas de tinto foram destruídas, mas os responsáveis da região preparam-se para avançar com um plano de replantação de castas tintas, com vista ao alargamento do consumo e exportação.

Curioso é constatar que todo este cenário tinha sido reportado em 1866 pelo Visconde de Vila Maior no célebre relatório sobre os vinhos em Portugal, propondo que no Minho se produzissem dois tipos de tintos. Identificando os de então – tal como muitos dos que hoje são ainda apreciados – como “ásperos e com pouca espiritualidade”, referia a sua importância para o consumo local, ao mesmo tempo que apontava para a “potencialidade para se tornarem comparáveis aos vinhos franceses”.

Sugeria, por isso, que a região avançasse para a produção de dois tipos de vinho: “ásperos, rascantes e com agulha”, para os consumidores locais; “mais delicados leves e macios”, para serem exportados e para os apreciadores de vinhos, indicando como mais aptos para estes últimos os concelhos de Cabeceiras e Celorico de Basto, Monção e alguns da ribeira do Lima.

Com excepção de Monção, é precisamente dessas zonas que vêm os vinhos que chegaram à Comissão dos Vinhos Verdes, que foram provados às cegas para esta edição da Singular. Mostram que muita coisa mudou e que está na altura de os tintos dos Vinhos Verdes se abrirem ao mundo. É o “vinho uau” e os apreciadores agradecem.


Este artigo foi publicado no n.º 3 da revista Singular.