Há centros a recusar segunda dose da AstraZeneca sem marcação. Gouveia e Melo garante normalização até ao final da semana

Ministra da Presidência quer urgência na vacinação completa de mais de 700 mil pessoas acima dos 60 anos que ainda só têm uma dose.

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Nelson Garrido

O coordenador da task force da vacinação, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, garantiu esta quinta-feira que até ao final da semana, o processo de aceleração da tomada da segunda dose da vacina da AstraZeneca vai estar a funcionar em pleno.

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O coordenador da task force da vacinação, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, garantiu esta quinta-feira que até ao final da semana, o processo de aceleração da tomada da segunda dose da vacina da AstraZeneca vai estar a funcionar em pleno.

“Nós neste momento estamos a organizar um processo, e a organização de um processo não é imediata. Apesar do espírito militar, da organização militar, e do máximo empenho, as coisas não acontecem de uma tarde para a noite”, disse aos jornalistas, no Funchal, durante uma visita a um centro de vacinação, ressalvando que em muitos centros de vacinação já é possível, sem necessidade de marcação, ser inoculado com a segunda dose da AstraZenaca, desde que já tenham sido cumpridas as oito semanas de intervalo desde a primeira toma.

“Já foi iniciado o processo. Portanto, em muitas regiões já está a acontecer isso. Agora há regiões em que ainda não aconteceu, mas vai acontecer”, explicou Gouveia e Melo, sublinhando que ninguém vai ficar para trás. “Para já eu estou focado no processo, em termos genéricos, para arrancar o mais rapidamente possível, em todo o território nacional. E depois os que ficarem para trás eu depois foco-me nesses centros para não ficarem para trás.”

O vice-almirante tinha anunciado na véspera, durante uma audição na Assembleia da República, sobre as medidas de combate à pandemia, que para evitar um “pesadelo logístico em termos de convocação das pessoas”, em vez do envio de SMS quem estivesse a aguardar a segunda dose da AstraZeneca bastaria dirigir-se ao centro de vacinação onde foi vacinado, a partir das 18 horas, para receber a segunda dose. 

Desde que a notícia foi publicada nesta quarta-feira, depois das declarações do vice-almirante no parlamento, e depois de o PÚBLICO ter reconfirmado junto de outra fonte da task force que de facto bastava dirigir-se aos centros de vacinação após as oito semanas da primeira toma da AstraZeneca sem necessidade de marcação, recebemos da parte de cerca de uma dezena de leitores de diversos locais do país a informação de que, ao dirigirem-se aos centros de vacinação ou aos centros de saúde, a sua vacinação tinha sido recusada.

As situações eram diversas: houve casos em que os utentes terão sido informados de que os centros não tinham indicação para dar a vacina sem marcação; outro caso em que no centro já não havia vacina disponível e pediram ao utente para voltar noutro dia, até ao caso de um leitor que, dirigindo-se ao seu centro de saúde, lhe terá sido dito que não sabiam sequer que o intervalo entre as duas doses da vacina da AstraZeneca tinha sido encurtado de 12 para oito semanas.

“Até ao final da semana o processo vai estar totalmente sobre carris”, frisou o coordenador da task force, depois de dizer que o processo de vacinação está a ser feito com o “acelerador a fundo”. Para acelerar mais, respondeu aos jornalistas sobre um eventual reforço do processo em Lisboa, devido ao aumento de casos nos últimos dias, seria preciso haver mais vacinas.

Uma outra fonte da task force da vacinação reafirmou ao PÚBLICO que “há centros que já estão a fazer” a vacinação da segunda dose da AstraZeneca a quem tem o intervalo mínimo de oito semanas - por exemplo o centro de vacinação da Amadora administrou na quarta e na terça-feira 400 vacinas por dia a pessoas nesta situação -, estando “outros a organizarem-se para o fazer”. E que “poderá também acontecer que alguns centros de vacinação não tenham no imediato vacinas desta marca disponíveis, podendo os utentes receber a indicação para se dirigirem numa data posterior para serem imunizados”. Esta vacinação deve ser feita no âmbito da “casa aberta” para que não se sobreponha aos restantes agendamentos. Os horários estão disponíveis no site da vacinação covid-19 criado pelo Ministério da Saúde.

Por isso, pelos incumprimentos no fornecimento, que têm sido reportados, e pela redução no número de vacinas que têm chegado ao país, e pelos atrasos que se têm verificado nessas entregas, Gouveia e Melo, admite que a data estabelecida de 8 de Agosto, para o país atingir a imunidade de grupo, possa ser adiada ou antecipada, 15 dias. 

“O que posso dizer é que a data de 8 de Agosto é a data intermédia em que pode andar duas semanas para trás ou duas semanas para a frente. Isto, com os dados que possuímos hoje”, enquadrou, repetindo que a task force não produz vacinas, e como tal está dependente das entregas dos laboratórios.

“Todas as vacinas que chegam a território nacional são imediatamente inoculadas”, frisou, dizendo que o plano tem sido seguindo: vacinar no mínimo 100 mil pessoas por dia, e, em esforço, até 140 mil pessoas por dia. “Isso nós já conseguimos, já o provámos e estamos a fazê-lo. Nesta última semana vacinamos, praticamente todos os dias, acima de 100 mil pessoas por dia”, contabilizou, deixando elogios ao centro de vacinação do Funchal onde, durante a visita, foi atingida a marca de 200 mil vacinas para toda a região autónoma, que tem uma população a rondar os 250 mil habitantes.

Mais de 700 mil pessoas com mais de 60 anos sem vacinação completa

Em Portugal existem ainda 720 mil pessoas com mais de 60 anos que não têm a vacinação completa contra a covid-19, segundo revelou esta sexta-feira a ministra de Estado e da Presidência, o que é uma preocupação acrescida dados os resultados de vários estudos que demonstram uma eficácia reduzidas das vacinas contra a variante Delta com apenas uma das tomas.

“Os resultados de estudos mostram que contra a variante Delta há uma boa resposta na vacinação completa, mas não na primeira toma”, alertou Mariana Vieira da Silva, revelando que o Governo prevê que no mês de Julho a vacinação dessa população esteja completa, impulsionada pela redução do intervalo (de 12 para oito semanas) entre as duas doses da vacina da AstraZeneca.

A ministra sublinhou que há uma “corrida contra o tempo” entre a vacinação e a pandemia e deixou uma “mensagem principal”: “É preciso manter a pandemia controlada para termos tempo para vacinar progressivamente as pessoas, particularmente as mais vulneráveis.”