Vacina da Johnson & Johnson vai ser dada em Portugal “sem constrangimentos”. Avaliação continua

Pessoas com cancro activo, diabetes e doença mental ganham prioridade no plano de vacinação.

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Ricardo Lopes

A vacina da Janssen, do grupo Johnson & Johnson (J&J), vai ser dada em Portugal “sem constrangimentos”. A decisão foi anunciada nesta quarta-feira, numa conferência de imprensa conjunta entre o Ministério da Saúde, Direcção-Geral da Saúde, Infarmed e task force para a vacinação contra a covid-19.

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A vacina da Janssen, do grupo Johnson & Johnson (J&J), vai ser dada em Portugal “sem constrangimentos”. A decisão foi anunciada nesta quarta-feira, numa conferência de imprensa conjunta entre o Ministério da Saúde, Direcção-Geral da Saúde, Infarmed e task force para a vacinação contra a covid-19.

O Infarmed não limitou nesta fase a aplicação da vacina a pessoas com mais de 60 anos, embora o presidente da autoridade portuguesa do medicamento, Rui Santos Ivo, tenha referido que, sendo nesta altura principalmente as pessoas com mais de 60 anos que estarão a ser vacinadas, serão essas a ser inoculadas com a vacina produzida pela Johnson & Johnson.

“Não há nenhuma razão para constrangimento da utilização das vacinas”, reiterou o presidente do Infarmed. A ministra da Saúde afirmou logo a seguir que “a avaliação da restrição etária da vacina ainda está a ser feita pelas agências nacionais do medicamento” e clarificou que a vacina da Janssen começará a ser distribuída depois de a comissão técnica de vacinação analisar toda a informação que se espera da Agência Europeia de Medicamentos.

“Conhecemos ontem o parecer da EMA. A comissão técnica da vacinação contra a covid, que funciona na dependência da Direcção-Geral da Saúde, vai rever as informações e verificar se há algum ajustamento a fazer para efeitos da aplicação da vacina e seguidamente começaremos a distribuir e a administrar esta vacina”, explicou a ministra Marta Temido.

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) reiterou nesta terça-feira a confiança na vacina, considerando que os benefícios são superiores aos riscos. Em causa está o surgimento de eventos tromboembólicos raros, que a EMA considerou terem “uma ligação possível” entre os mesmos e esta vacina. A EMA determinou que a vacina da Johnson & Johnson deve passar a ostentar um aviso acerca do efeito secundário raro da formação de coágulos sanguíneos, juntamente com a diminuição do número de plaquetas.

Rui Santos Ivo afirmou ainda que Portugal está a “avaliar toda a informação que foi recebida sobre a AstraZeneca” que permita perceber “ainda em mais detalhe a utilização nas diferentes faixas etárias”. Na sexta-feira, haverá uma comunicação da EMA sobre este assunto.

Estes eventos raros aconteceram em pessoas com menos de 60 anos, razão pela qual é feita esta recomendação, e num período de três semanas após a vacinação. Permanece em investigação o que leva a que algumas pessoas, entre os milhões que já receberam estas duas vacinas, desenvolvam este tipo de eventos raros. Na próxima sexta-feira, está marcada uma nova reunião de um comité independente de peritos que aconselha os Centros de Controlo e Prevenção das Doenças nos EUA, para deliberar sobre a retoma ou não desta vacina, que foi suspensa para avaliação.

Portugal recebeu até ao momento 31 mil doses da vacina da Johnson & Johnson, que se mantinham armazenadas à espera desta decisão, mas até ao final do mês serão 80 mil doses. A sua distribuição pode começar agora a ser feita.

Plano de vacinação revisto

O plano de vacinação também foi revisto e as alterações anunciadas nesta quarta-feira em conferência de imprensa. A idade passa a ser o principal critério para a convocatória, começando pelos mais velhos sem necessidade de doenças associadas, o que já estava a acontecer desde que a segunda fase do plano de vacinação arrancou em vários centros de saúde há pouco mais de uma semana. Portugal já tem mais de dois milhões de pessoas com pelo menos uma dose da vacina.

Deixam de estar na lista doenças mais prevalentes, como a diabetes tipo II e a hipertensão arterial, muito associadas à idade. Mas entram outras, mais raras, e sem limite de idade, como pessoas com “doença oncológica activa – a fazer quimio ou radioterapia –, pessoas em situação de transplantação – em alguns casos terá de haver um intervalo de seis mese entre o transplante e a vacinação –, pessoas com imunossupressão – com um grupo importante que são as pessoas com VIH ou sida –, pessoas com doenças neurológicas, com referência especial para as doenças neuromusculares, esclerose lateral amiotrófica e epilepsia refractária”, explicou Graça Freitas.

Vão estar na lista também “pessoas com doença mental, como esquizofrenia, a grande obesidade acima de 35 de índice de massa corporal e os diabéticos com diabetes tipo I e II com menos de 60 anos”. “A grande maioria dos diabéticos, os de tipo II, será vacinada pela sua faixa etária, porque a doença grave está associada a faixas etárias mais elevadas. No entanto, abaixo dos 60 anos há diabéticos tipo I e II que já podem ter doença grave e entrarão no critério de morbilidade”, explicou Graça Freitas.

O objectivo é dar maior rapidez à vacinação e maior protecção às faixas etárias com mais mortalidade associada à covid-19 e, por outro lado, proteger pessoas com doenças que em caso de infecção estão em risco de um prognóstico mais grave, independentemente da idade. O PÚBLICO já tinha noticiado a proposta feita pela comissão de especialistas da Direcção-Geral da Saúde, que sugeria a inclusão das doenças agora referidas.

Doentes recuperados chamados a partir do final de Maio

Já durante a fase das perguntas, a directora-geral da Saúde esclareceu que os doentes que tiveram covid e que já estão recuperados há mais de seis meses vão começar a ser chamados a partir do final de Maio, altura em que se estima que todos os que têm mais de 60 anos já estejam imunizados com pelo menos uma dose. “Numa fase em que as doses de vacinas disponíveis eram poucas, era preciso priorizar quem ainda não tinha imunidade”, disse Graça Freitas. A mesma explicou que “a evidência científica mostra que nesses seis meses a imunidade é muito boa, será melhor até do que a da própria vacina, e é por essa razão que será dada apenas uma primeira dose” a quem já teve a doença. Opção que Graça Freitas explicou com a imunidade natural que estas pessoas já têm e que não desaparece, embora diminua com o passar do tempo.

Com mais vacinas disponíveis, “rapidamente vamos vacinar as pessoas com mais de 60 anos”. “Nessa altura começaremos a vacinar as pessoas que tenham recuperado da doença há mais de seis meses”, explicou Graça Freitas. Perto de 900 mil pessoas já estão recuperadas da doença e não estão vacinadas.

Já o portal para auto-agendamento da vacinação vai ficar disponível na próxima semana. “Prevemos que para a semana o auto-agendamento possa estar a funcionar. De facto, pensávamos ter este processo disponível neste momento, mas houve a necessidade de fazer readaptações do agendamento de trabalho. Foi preciso fazer a alocação de recursos para a vacinação de pessoal docente e não docente”, disse. O auto-agendamento “será complementar ao agendamento feito pelas instituições de saúde”, já que o Governo estima que nesta fase existam mais de 90 mil vacinados por dia. “Isso exige combinação de processos”, disse Marta Temido.