A barqueira destemida que uniu as margens do Douro no século XX

No tempo em que os transportes e vias de comunicação eram escassos ou insuficientes, Margarida Cancela, mais conhecida por “Guida Baeta”, assegurava a travessia do rio entre Crestuma, Vila Nova de Gaia, e Esposade, Gondomar. Na sua lancha seguiam operários das fábricas em redor, passageiros que iam fazer recados e namorados com encontro marcado do outro lado. A qualquer hora, com correntes fortes e até cheias, não deixava ninguém em terra. Viveu o rio até ao fim e hoje é quase património imaterial de Crestuma.

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Às vezes era noite cerrada quando um grito cortava o silêncio, vindo do outro lado do rio. “Ó Baeta!”, clamava o freguês que esperava na margem de Esposade, Gondomar, para fazer a travessia para Crestuma, Vila Nova de Gaia. Mesmo que tivesse acabado de pousar a cabeça na almofada, Margarida Cancela, mais conhecida por “Guida Baeta”, saltava da cama, enfiava a camisa e as três saias, amarrava o avental e a algibeira, calçava os chinelos, pegava na lamparina e descia apressadamente as ruas estreitas que iam dar à lingueta onde tinha a barca atracada. “O dinheiro que eu ganhava vinha todo do rio. Nunca conheci domingos nem feriados. Trabalhei sempre ao sol e à chuva e nem horários tinha”, relatava a barqueira, em Março de 1997, a poucos meses de completar 90 anos, em entrevista ao jornal local Controvérsia

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Às vezes era noite cerrada quando um grito cortava o silêncio, vindo do outro lado do rio. “Ó Baeta!”, clamava o freguês que esperava na margem de Esposade, Gondomar, para fazer a travessia para Crestuma, Vila Nova de Gaia. Mesmo que tivesse acabado de pousar a cabeça na almofada, Margarida Cancela, mais conhecida por “Guida Baeta”, saltava da cama, enfiava a camisa e as três saias, amarrava o avental e a algibeira, calçava os chinelos, pegava na lamparina e descia apressadamente as ruas estreitas que iam dar à lingueta onde tinha a barca atracada. “O dinheiro que eu ganhava vinha todo do rio. Nunca conheci domingos nem feriados. Trabalhei sempre ao sol e à chuva e nem horários tinha”, relatava a barqueira, em Março de 1997, a poucos meses de completar 90 anos, em entrevista ao jornal local Controvérsia