Cantar os Reis em Ovar é Património Cultural Imaterial de Portugal

Tradição secular e diferenciadora, assim é considerado o Cantar os Reis em Ovar, uma prática reconhecida como Património Cultural Imaterial de Portugal. 2021 deveria ser o grande ano da celebração desta tradição, contudo, a actual crise pandémica obrigou a uma adaptação do programa.

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Apesar de partilhar algumas características com outras práticas em Portugal e na Europa, designadas de “Cantar os Reis” ou “Cantar as Janeiras”, em Ovar esta prática sofreu, ao longo dos anos, um processo de codificação artística, social e performativa, adquirindo um recorte cultural próprio, sofisticado ao nível da composição musical e poética, e especializado ao nível da performance. Foram estes e outros motivos que conduziram à classificação a Património Cultural Imaterial de Portugal, tendo sido publicada a inscrição em Diário da República (Anúncio n.º 265/2020 - Diário da República n.º 228/2020, Série II de 2020-11-23).

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Apesar de partilhar algumas características com outras práticas em Portugal e na Europa, designadas de “Cantar os Reis” ou “Cantar as Janeiras”, em Ovar esta prática sofreu, ao longo dos anos, um processo de codificação artística, social e performativa, adquirindo um recorte cultural próprio, sofisticado ao nível da composição musical e poética, e especializado ao nível da performance. Foram estes e outros motivos que conduziram à classificação a Património Cultural Imaterial de Portugal, tendo sido publicada a inscrição em Diário da República (Anúncio n.º 265/2020 - Diário da República n.º 228/2020, Série II de 2020-11-23).

Na impossibilidade de celebrar o Dia de Reis – 06 de Janeiro - com as troupes “reiseiras” em 2021, como é habitual, a Câmara Municipal de Ovar associa a efeméride dos 150 anos do nascimento de António Dias Simões, considerado, por muitos, o “pai fundador” desta tradição, ao Cantar os Reis, no presente ano, explorando e dando a conhecer a sua extraordinária capacidade criadora, associada a alguma leveza humorística que também o caracterizava, com um projecto que brota da comunidade e a tem como destinatária.

Assim, será apresentado o espectáculo multidisciplinar “Troupe de Reis António Dias Simões” nos dias 08 e 15 de Janeiro, pelas 21 horas, no Centro de Arte de Ovar. Com direcção artística de Pedro Martins, este espectáculo resulta do envolvimento e participação de diversas entidades e pessoas que, de forma briosa, trabalharam na criação de um espectáculo que parte da evocação da vida e obra de António Dias Simões e culmina na celebração da tradição do Cantar os Reis em Ovar.

O espectáculo é constituído por músicas do “Cantar os Reis em Ovar”, com letras e músicas originais e adaptadas de António Dias Simões e os descendentes Amélia Dias Simões e Edwiges Pacheco, e momentos de poesia e encenação/coreografia de excertos de livros/peças teatrais de António Dias Simões.

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D.R.

A história do Cantar os Reis em Ovar

A tradição das Troupes de Reis remonta aos finais do século XIX. Tinha inicialmente alguma semelhança com as «Janeiras» que têm lugar um pouco por todo o país, mas adquiriu características próprias e originais em Ovar. Em 1893, com o especial patrocínio de João Alves Cerqueira, um conceituado comerciante da praça vareira de então, nasceu a primeira Troupe – a dos “Reis dos Alves” ou “Troupe dos Velhos” e logo outras começaram a surgir.​

O Cantar os Reis em Ovar distingue-se dos restantes pelo facto de, apesar de serem imbuídas de um saudável amadorismo e surgidas de forma espontânea, as Troupes vareiras exigem de si mesmas o mínimo de qualidade interpretativa e melodiosa. Desta forma, as exibições são minuciosa e antecipadamente ensaiadas; o leque de instrumentos tocado é muito variado e inclui o violão, o bandolim, o banjolim, a bandola e até o violino; o desempenho vocal é muito importante e manifesta-se em belas exibições de solistas e coros; as toadas, em jeito de balada, têm letras inéditas e músicas inéditas ou adaptadas. Destaque ainda para a estrutura do Cantar dos Reis, que é constituído tradicionalmente por três trechos: A Saudação onde é louvada a Noite Santa dos Reis e são saudados os presentes; A Mensagem onde se celebra o nascimento de Jesus e os seus ensinamentos; e O Agradecimento, em tom bastante mais ligeiro, no qual são pedidas as ofertas habituais e é agradecida a hospitalidade.

A qualidade das Troupes de Reis vareiras desde cedo cativou e impressionou o público, e o que representava um simples acto de cantar as boas festas a favor de obras sociais cresceu e tornou-se num evento de cariz cultural. Assim, as Troupes passaram a apresentar-se num espaço comum, nas Praças, no Salão Nobre dos Paços do Município, no Cine-Teatro, no Centro de Arte de Ovar, onde todos podem assistir e apreciar uma tradição com mais de cem anos.