Cartas ao director

E António Sérgio e Jorge de Sena? 

A verdade faz-nos mais fortes

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E António Sérgio e Jorge de Sena? 

Eduardo Lourenço era o mais importante ensaísta literário português vivo. Julgo que é consensual esta asserção, quer entre a comunidade académica, quer junto da opinião pública. Agora parece-me um exagero considerá-lo, sem discussão, o maior ensaísta português de todos os tempos. Há dois nomes que eu colocaria acima dele - António Sérgio e Jorge de Sena. 

António Sérgio, além do ensaísmo histórico e literário extenso que nos deixou nos Ensaios, foi muito mais profícuo no ensaio sobre temas sociais e económicos. O cooperativismo social, que defendeu nos seus textos, aplicou-se na sociedade civil portuguesa, ao longo das últimas décadas. Quanto a Jorge de Sena, amigo pessoal de Eduardo Lourenço, foi um dos mais importantes especialistas da obra camoniana, além de ter análises acutilantes sobre diversos temas e autores como Fernando Pessoa, Shakespeare, a literatura brasileira, inglesa ou americana. Se acrescentarmos o facto de ter sido um grande poeta, romancista e contista, não tenho dúvidas de que foi o intelectual português mais completo do século XX. 

Como escreve Luís Miguel Queirós, num dos textos que dedicou ao ensaísta falecido esta semana, é discutível esta unanimidade à volta de Eduardo Lourenço. A mim parece-me que tanto Jorge de Sena como António Sérgio foram mais relevantes ensaístas e pensadores do que o autor de O Labirinto da Saudade

Rui Marques, Porto

25 de Novembro de 1975

Li com muito interesse a crónica sintética sobre alguns acontecimentos que precederam o 25 de Novembro de 1975, escrita pela eminente historiadora Irene Flunser Pimentel.

O meu interesse, além de se justificar como cidadão, tem a ver com o facto de, desde Maio até Novembro de 1975, me reunir quase todas as semanas, designadamente, na Estalagem do Farol, junto à Boca do Inferno, com um conjunto de civis e de oficiais da Força Aérea Portuguesa, responsáveis por algumas das Bases Aéreas então existentes, com o objectivo de, face à escalada de acontecimentos contraditórios que punham em risco as instituições democráticas possibilitadas pela madrugada redentora do 25 de Abril, assegurar, pelo empenho activo dos democratas, a continuidade dessas instituições.

As referidas reuniões permitiram, em particular que, em momento apropriado, as aeronaves da Força Aérea, fossem, na generalidade, transferidas para a Base de Cortegaça, assegurando-se a sua logística operacional. Escuso de sublinhar a importância deste movimento, a par de outros, para a afirmação das forças democráticas no dia 25 de Novembro. Como a intenção afirmada pela ilustre historiadora é a procura da verdade histórica sobre os acontecimentos deste dia, permito-me sublinhar alguma falta de objectividade em duas passagens do texto por esta elaborado.

A primeira tem a ver com a atribuição ao General Pires Veloso, do epíteto de “general de direita”. Para não entrar em controvérsia basta lembrar o papel de Pires Veloso no processo de independência de São Tomé e Príncipe. A segunda diz respeito à atribuição às forças do Regimento de Comandos do ataque ao Quartel da Polícia Militar. A evidência que nos é trazida por todos os testemunhos a que tive acesso é a de que a iniciativa de abertura de fogo pertenceu aos militares da Polícia Militar.

Dada a limitação de espaço termino lamentando que o “25 de Novembro” não seja devidamente comemorado pelas forças democráticas empenhadas, nessa data, na defesa do Estado democrático.

Helder de Oliveira, Lisboa

Vitória de “pirro"

A campanha “PT perdeu” promovida pela rede Globo é, no mínimo, tendenciosa e falsa. Vencer eleição é uma etapa, governar é que são elas. Esses prefeitos vão encontrar o país em crise e suas prefeituras com finanças destruídas pela pandemia, descaso federal e projetos neoliberais. Eduardo Paes, por exemplo, governou com os bilhões de reais que o PT repassou para o PAN (Banco PanAmericano) e Copa do mundo. Nunca o Rio de Janeiro havia recebido um centavo do governo federal, desde 1960. Seu milagre de gestão foi esse. Agora vai receber o Rio com dívida de 10 bilhões. Em meses sua popularidade desaba. Assim a maioria das prefeituras. O destrutivo governo Bolsonaro, que tem apoio velado neoliberal (mercado financeiro e Globo), também vai entrar em crise profunda, devido à incompetência de sua gestão. Portanto, são vitórias de “pirro” nas eleições municipais. O PT é o único partido que mantém seus 30% de aprovação e apoio. 

Antonio Negrão de Sá, Rio de Janeiro