Não estamos todos no mesmo barco: covid-19, pessoas LGBTQ+ e saúde mental

Vários factores contribuem para tal, desde condições educacionais e de emprego mais precárias, até um ambiente familiar que não acolhe a identidade LGBTQ+ dos filhos. A promoção da saúde mental das pessoas LGBTQ+ neste contexto pandémico deve assim ser feita em várias frentes

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Sabemos que as situações pandémicas têm efeitos perniciosos na saúde mental. Sabemos também que estes efeitos são mais pronunciados em pessoas que estão, à partida, numa situação de maior vulnerabilidade social. Este é o caso das pessoas LGBTQ+, cuja identidade sexual e de género é ainda estigmatizada. Cerca de nove meses depois do aparecimento dos primeiros casos de covid-19 em Portugal, quais são as consequências da pandemia para a saúde mental deste grupo de pessoas?

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Sabemos que as situações pandémicas têm efeitos perniciosos na saúde mental. Sabemos também que estes efeitos são mais pronunciados em pessoas que estão, à partida, numa situação de maior vulnerabilidade social. Este é o caso das pessoas LGBTQ+, cuja identidade sexual e de género é ainda estigmatizada. Cerca de nove meses depois do aparecimento dos primeiros casos de covid-19 em Portugal, quais são as consequências da pandemia para a saúde mental deste grupo de pessoas?

Um estudo sediado na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto tem recolhido dados sobre a forma como a actual crise sanitária está a afectar a vida das pessoas LGBTQ+, não só em Portugal, mas também a nível internacional (Reino Unido, Itália, Suécia, Brasil, Chile e México). Eis alguns dos resultados desta investigação.

Os/as jovens LGBTQ+ portugueses/as que estiveram confinados/as com os pais em Março e Abril deste ano apresentavam índices mais elevados de sintomatologia ansiosa e depressiva nas seguintes circunstâncias:
1) se não tivessem (ou não estivessem a frequentar) um curso universitário;
2) quando sentiam que a pandemia interferia mais com o seu quotidiano;
3) quando o seu ambiente familiar era negativo e não aceitante da sua identidade sexual e de género.

Em todos os países participantes, os níveis de depressão e ansiedade eram mais elevados, por exemplo, junto das pessoas LGBTQ+ mais novas, sem emprego, que reportavam um maior impacto emocional da pandemia e que não se sentiam confortáveis no seu ambiente familiar. Não frequentar o ensino superior estava associado a mais sintomatologia depressiva. Por sua vez, viver em casa dos pais e ter mais receio de vir a ser infectado/a com o novo coronavírus eram alguns dos factores associados a sintomatologia ansiosa.

Nesta tempestade global não estamos, portanto, todos/as no mesmo barco. Vários factores contribuem para tal, desde condições educacionais e de emprego mais precárias, até um ambiente familiar que não acolhe a identidade LGBTQ+ dos filhos. A promoção da saúde mental das pessoas LGBTQ+ neste contexto pandémico deve assim ser feita em várias frentes. As organizações não-governamentais, os serviços de saúde, as escolas e universidades, bem como as demais redes de apoio social, devem permanecer particularmente atentas e disponíveis para atender às necessidades das pessoas LGBTQ+.

Nota: Continuamos a recolher de dados e queremos agora chegar a mais participantes, inclusive pessoas heterossexuais e/ou que nunca questionaram o sexo atribuído à nascença. Portanto, basta ter entre 16 e 60 anos para participar nesta nova fase do estudo (por favor, clica aqui).