Cartas ao director

Abateram os pinheiros-mansos do IC2

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Abateram os pinheiros-mansos do IC2

Enormes e frondosos, sombreando quem lá passava, aconchegando condutores e passageiros, esverdeando a paisagem. Um reduto de alegria em terras azafamadas. Prosperaram incautos livres da ira humana (seculares, dizem). Estes foram os afortunados – o normal é sucumbirem mais cedo ao zelo da moto-serra, pois as árvores são sempre culpadas até prova em contrário. Não há motivo de queixa, existe ainda a esperança de que outros, mais pequenos, possam vir ser plantados. Aliás, foi por uma boa causa. Sim, os pinheiros caíram que nem mártires! As copas cresceram desmesuradamente, gananciosas, e seriam pasto fácil para as chamas. Chamas que enfrentarão barreira agora inultrapassável, essa do IC2, e se deterão disciplinadas num dos sentidos. Foi tudo justificado. Os pinheiros centenários vão salvar os jovens eucaliptos que abundam nas redondezas. Vivemos confinados, amargurados com a incerteza, e a copa majestosa destas árvores já lá não estará para nos confortar. Recusei-me a acreditar. Ousaram mesmo abater mesmo os pinheiros-mansos do IC2.

Nuno Quental, Bruxelas

Henrique Pinto e Eugénio Fonseca

O fundador da CAIS e o presidente da Cáritas deram na RTP3 um corajoso contributo para a imperiosa urgência de chamar “os nomes aos bois” num movimento contrário ao da manutenção dos eufemismos em matéria de pobreza a que o país vem assistindo como que dormente ou narcotizado.

Deviam envergonhar-se os que assobiam todos os dias para o lado contrário ao da fome, da miséria e do abandono social. O número cada vez maior de deserdados das crises e esquecidos da protecção do Estado vai convergir garantidamente para cenários de conflitualidade social que a maioria do povo não merece, mas que os populismos de uns quantos gulosos de patuleias a revisitar, desejam e estimulam.

Henrique Pinto e Eugénio Fonseca insistiam, denodadamente, que na base dos mais de 2 milhões de pobres sinalizados em Portugal estava o mais elevado custo de vida da Europa versus os salários mais baixos desta mesma Europa e ainda que continuamente interrompidos pela senhora jornalista - que em vão tentava (ingenuidade ou missão?!...) derivar para as culpas exclusivas da pandemia de covid-19 - não abdicaram de o reafirmar como a grande causa do fenómeno da fome e da miséria social vigente no nosso país.

O exemplo da obscenidade de rendas de habitação a 600€ para gente que nem isso ganha por mês é tão ofensivo da dignidade humana como o silêncio dos culpados que para tal situação olham com “neutralidade” ou omissão de atitude cristã. Somos todos portugueses “ordeiros” e “disciplinados”…?! Faço minha a perplexidade dos entrevistados: onde está a nossa capacidade de protesto? Esgotou-se em Abril de 1974?

A fome do outro não é a minha?... e quando a minha chegar?

Conceição Mendes, Vila Nova de Gaia