DGS não autoriza Benfica a ter sócios na tribuna presidencial da Luz

SAD do Benfica critica “incompetência e incúria” da Liga, que acusa de não ter validado junto da DGS as normas que transmitiu aos clubes.

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Reuters

O Benfica não vai poder ter sócios e convidados na tribuna presidencial a assistir ao jogo com o Moreirense no Estádio da Luz deste sábado. Segundo a SAD do clube, a directora-geral da Saúde comunicou à Liga Portugal às 23h39 de sexta-feira que não havia autorização para a iniciativa.

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O Benfica não vai poder ter sócios e convidados na tribuna presidencial a assistir ao jogo com o Moreirense no Estádio da Luz deste sábado. Segundo a SAD do clube, a directora-geral da Saúde comunicou à Liga Portugal às 23h39 de sexta-feira que não havia autorização para a iniciativa.

“Consideramos absolutamente inadmissível e lamentável que afinal a Liga Portugal, numa recorrente demonstração de incompetência e incúria por parte dos seus principais responsáveis, não tenha validado junto da Direcção-Geral da Saúde e entidades competentes as normas que definiu e transmitiu como seguras aos clubes no manual das competições oficiais”, diz uma nota da SAD benfiquista, publicada este sábado

O Benfica-Moreirense deste sábado, a contar para a segunda jornada da I Liga, iria contar com a presença de sócios do clube “encarnado” na tribuna presidencial do Estádio da Luz. Foram convidados 20 sócios que tenham assistido a todos os jogos em casa na temporada passada e por critério de antiguidade, mais sete representantes das casas do Benfica espalhadas pelo país. Para além destes adeptos, foram convidados ainda representantes dos principais patrocinadores do clube para estarem na tribuna.

A SAD “foi informada” na manhã deste sábado pela Liga da “recepção por parte daquela entidade de um email datado de ontem às 23h39, proveniente da directora-geral da Saúde, dra. Graça Freitas, dando conta que não existia autorização” para o convite feito pelo Benfica “para a presença de um número limitado de sócios, casas do Benfica e patrocinadores no camarote presidencial”.

O Benfica manifesta “incompreensão” pelo facto de, “sendo conhecida há vários dias” a iniciativa de abrir a bancada presidencial a alguns adeptos, “só ontem [sexta-feira] à noite” a DGS “tenha expressamente informado a Liga dessa impossibilidade e da necessidade de existir um prévio pedido nesse sentido por parte do respectivo clube, o que nunca se perspectivou perante o que estava expressamente autorizado pelo manual das competições”.

A SAD benfiquista reitera que tomou esta iniciativa de acordo com o manual de procedimentos do regulamento da Liga Portugal definido para esta época, no qual “expressamente se refere a possibilidade de ocupação até 50% dos números de lugares das tribunas presidenciais”.

O Benfica diz que “a Liga Portugal, o seu presidente e os seus principais dirigentes responsáveis pela organização e gestão das competições devem assumir a plena responsabilidade pelo nível de amadorismo que revelam, ao definirem no manual da Liga normas e orientações expressas que não foram devidamente validadas junto das autoridades competentes, nem informando atempadamente os clubes por essa falha, prejudicando assim mais uma vez a imagem do futebol português”.

“Seria importante esclarecer como pensa a Liga Portugal implementar esta recomendação, uma vez que é do conhecimento público que, já na primeira jornada do Campeonato, vários clubes colocaram em prática esta autorização da Liga, em modelos que variaram de clube para clube”, acrescenta a nota.

A SAD benfiquista afirma não querer “entrar numa discussão sobre a coerência dos critérios que determinam as decisões das autoridades de saúde”, realçando “o exemplo de civismo, organização e rigor com que os clubes têm adoptado e gerido todas as orientações de salvaguarda e protecção da saúde pública, apesar dos recorrentes exemplos de incúria por parte da direcção da Liga Portugal”.

Os convidados já foram informados da decisão da DGS, manifestando a SAD do clube “o enorme desejo de, logo que possível”, se voltar “a ter o prazer do regresso gradual do público aos estádios, assim permita a evolução da situação”.

Liga responde

A Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) recusou-se a “esgrimir acusações públicas” com o Benfica, defendendo que o plano de retoma das competições não contempla “a presença de sócios ou adeptos” nas tribunas presidenciais dos estádios.

Em comunicado, o organismo liderado por Pedro Proença esclareceu o porquê de ter sido recusada a autorização para a presença limitada de convidados no camarote presidencial do Estádio da Luz. “A Liga Portugal remeteu para a Direcção-Geral da Saúde o plano [de retoma] em causa e não recebeu daquela entidade qualquer reparo ou recomendação de melhoria ao documento”, refere a LPFP, recordando que o documento “foi elaborado em conjunto” com os departamentos médicos de todos os clubes profissionais.

De acordo com a LPFP, ficou definido, no ponto 2.6 do anexo I do plano retoma, que as tribunas presidências dos estádios não podem exceder “uma lotação máxima de 50%” e que devem ser garantidos lugares aos “elementos regulamentarmente previstos para a equipa visitante”, a “dois elementos da Federação Portuguesa de Futebol (observador e observador de selecções”, bem como a “representantes da Liga Portugal em funções ao jogo”.

Desta forma, a LPFP defende que fica “claro que na ocupação da tribuna presidencial em nenhum momento se considerou a presença de sócios ou adeptos, mas sim o estipulado regulamentarmente e a orientação deste espaço para a presença de entidades regulamentares e/ou protocolares”.

“Qualquer interpretação distinta da que aqui está descrita é abusiva e desenquadrada daquilo que ficou acordado com as sociedades desportivas”, manifestou a Liga de clubes, salientando que “em relação às considerações expressas no comunicado publicado pela SAD do Benfica, a Liga Portugal, como tem sido seu tom ao longo das últimas épocas, não irá esgrimir acusações públicas com um dos seus associados”.

Os planos do Vitória

Na sexta-feira ao início da noite, o PÚBLICO escrevia que os planos de dois clubes, Vitória e Benfica, de convidarem alguns sócios para assistirem a um jogo de futebol na tribuna presidencial estavam a levantar dúvidas.

Por um lado, existe uma orientação da DGS segundo a qual a “presença de público nas competições desportivas é determinada pela legislação em vigor, de acordo com parecer técnico da DGS, sustentado na evolução da situação epidemiológica”; por outro, o regulamento da Liga estipula que a tribuna presidencial possa ter “uma lotação máxima de 50%” da sua capacidade.

Em declarações anteriores prestadas ao PÚBLICO, o Benfica insistia seguir “todas as orientações da DGS” e estar “de acordo com o regulamento da Liga”, não tendo visto, por isso, necessidade de informar ou solicitar um parecer prévio às autoridades de saúde locais ou regionais.

“Tanto quanto sei, não entrou nenhum pedido de parecer sobre se podiam ou não ter convidados a assistir ao jogo. Este é o ponto objectivo da situação”, disse na sexta-feira a directora da DGS na habitual conferência de imprensa sobre a evolução da pandemia. Mais tarde, porém, seguiria o email para a Liga Portugal a esclarecer o assunto.

As dúvidas e a confusão sobre o tema também já atingiram o Vitória de Guimarães que, depois de ter visto chumbado pela ARS Norte o plano para ter 40 adeptos na tribuna presidencial do estádio, apresentou uma nova solução àquela autoridade de saúde e aos organismos desportivos, que prevê que os convidados façam testes serológicos à covid-19, promovidos pelo clube.

A DGS e a Liga têm reunião marcada para 2 de Outubro para a avaliar a possível presença de público nos estádios, tudo dependendo do contexto epidemiológico. Para já, não é permitida a presença de espectadores.