Governador do banco central holandês admite “coronabonds” como opção

Depois de Mark Rutte ter garantido que “‘corabonds’, jamais!” e do ministro das Finanças holandês ter lançado dúvidas sobre as contas de Espanha e de Itália, Klaas Knot, governador do banco central, veio demarcar-se da posição do Governo da Haia.

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Mark Rutte e o seu ministro das Finanças estão contra os coronabonds. Banco central do seu país tem outra visão LUSA/BART MAAT

O governador do Banco dos Países Baixos, Klaas Knot, defendeu em entrevista ao jornal holandês NRC que a mutualização da dívida ao nível europeu no contexto de pandemia, através de “coronabonds”, é uma das vias possíveis para fazer face à crise económica provocada pela covid-19.  

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O governador do Banco dos Países Baixos, Klaas Knot, defendeu em entrevista ao jornal holandês NRC que a mutualização da dívida ao nível europeu no contexto de pandemia, através de “coronabonds”, é uma das vias possíveis para fazer face à crise económica provocada pela covid-19.  

“Este é um teste para a zona do euro”, disse Knot, em entrevista citada pela agência italiana Ansa. “Quando se vê o que se está a passar com o coronavírus em países como Itália e Espanha, creio que o pedido de solidariedade é extremamente lógico”.

A questão é “como é que se aplica” essa solidariedade no bloco, e essa, frisou Klaas Knot, “é uma decisão política: os ‘coronabonds’ são uma forma. Existem outras, como o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE)”, afirmou ao jornal NRC.

Ainda não há muitos detalhes, mas no Eurogrupo, reunido a 24 de Março, os ministros das Finanças da zona euro chegaram a um entendimento “amplo” para que os diversos governos possam recorrer a uma linha de crédito cautelar junto do MEE num valor correspondente a 2% do PIB de cada país para combater os efeitos negativos da pandemia do coronavírus, mas não sobre a emissão conjunta de dívida.

“A política monetária não pode fazer tudo sozinha: há limites para o nosso mandato”, recordou esta sexta-feira Klaas Knot. “Portanto, é certamente desejável que algo comum também emerja dos governos: uma resposta europeia à crise” e “em troca, podemos comprar ‘coronabonds’ ou novos títulos que o MEE emita”, explicou.

Para Klaas Knot, é preciso uma “conjugação de solidariedade e adaptação das economias onde é necessária a ajuda”, que pode ser feita “só através do MEE, que exige reformas em troca de apoio”. Mas, agora, “quando vimos camiões com cadáveres, a ênfase deve estar na solidariedade”, sublinhou.

A posição do governador do banco central dos Países Baixos é oposta ao do executivo de Haia, que no último Conselho Europeu irritou Itália, Espanha e Portugal, defensores da emissão de dívida conjunta na zona euro.

“‘Coronabonds’, jamais!”, garantiu o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, no início do Conselho desta quinta-feira, tentando antecipar a vontade de nove dos Estados-membros no sentido da mutualização da dívida, a que se opõe também Alemanha e Finlândia. A posição final após seis horas de intensas negociações não foi diferente: “Não antevejo nenhuma circunstância em que a emissão de eurobonds possa justificar-se”, afirmou o primeiro-ministro holandês, após a reunião por videoconferência.

Por seu lado, Wopke Hoekstra, o ministro das Finanças de Rutte, afirmou, durante a reunião com homólogos dos 27, que a Comissão Europeia devia investigar países, como Espanha, que afirmam não ter margem orçamental para lidar com os efeitos da crise provocada pelo novo coronavírus, apesar de a zona euro estar a crescer há sete anos consecutivos, segundo fontes europeias citadas na imprensa europeia.

“Repugnante” afirmação, reagiu António Costa no próprio dia aos jornalistas, reiterando-o um dia depois, e recebendo a solidariedade do Presidente da República.

“O primeiro-ministro indignou-se e eu também me solidarizo com a sua indignação. A Europa que têm tanto peso no mundo não é capaz de perceber que tem de estar unida, ser corajosa, ser determinada e solidária”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa. Para o Presidente da República, é inaceitável que, “num processo que deve ser de unidade”, existam “actuações que enfraquecem a Europa, num momento crítico e fundamental”.