Não tem de ser Dia dos Namorados

Tenta celebrar o Dia dos Namorados porque estás nesse mood, não porque tens receio de desiludir a tua cara metade. Opta por levar o teu pai a almoçar quando queres realmente estar com ele, não porque tens receio de estar a falhar com as tuas obrigações.

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Ed Robertson/Unsplash

Aqui vamos nós outra vez. Mais um ano, mais um dia de São Valentim. À semelhança do seu primogénito, o Natal, esta festividade tem a subtil e sagaz capacidade de activar o nossa faceta “tem de ser”: celebramos porque tem de ser, oferecemos algo porque é suposto e publicamos uma foto nas redes sociais para oficializar a ocasião. Caso seja genuína intenção de ambos, óptimo. Está tudo certo. Mas quantos, com receio de eventuais danos colaterais, abdicam da vontade própria em detrimento do “parecer bem”? Pode parecer algo bastante inofensivo; no entanto, esta postura diz mais sobre nós do que imaginamos.

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Aqui vamos nós outra vez. Mais um ano, mais um dia de São Valentim. À semelhança do seu primogénito, o Natal, esta festividade tem a subtil e sagaz capacidade de activar o nossa faceta “tem de ser”: celebramos porque tem de ser, oferecemos algo porque é suposto e publicamos uma foto nas redes sociais para oficializar a ocasião. Caso seja genuína intenção de ambos, óptimo. Está tudo certo. Mas quantos, com receio de eventuais danos colaterais, abdicam da vontade própria em detrimento do “parecer bem”? Pode parecer algo bastante inofensivo; no entanto, esta postura diz mais sobre nós do que imaginamos.

Longe vão os tempos em que celebrava o Dia dos Namorados. Umas vezes mais satisfeito, outras mais por arrasto, mas lá estava eu, fiel à tradição. Numa destas celebrações, como dita a lei, fomos até um restaurante com um daqueles menus a condizer com a ocasião. Marcámos mesa com a devida antecedência, vestimo-nos a rigor e chegámos a horas. Afinal de contas, apesar de não o termos escolhido, aquele era o nosso dia. Vela no centro da mesa, sala à média luz e flores por todo o lado. Tinha tudo para ser uma noite daquelas, não fosse o ambiente “pesado” que se fazia sentir. Apesar da fraca iluminação e da miopia irreversível, conseguia ir observando o que se passava nas restantes mesas. Vi de tudo. Alguns casais estiveram agarrados ao telemóvel a refeição inteira, outros estavam com cara de quem ainda tinha 30 senhas à sua frente nas Finanças. Tudo aquilo me causou um enorme desconforto. Então não era suposto estarmos a celebrar o amor?

Ainda perdemos muito tempo a fazer fretes. De todos os presentes que ofereceste no Natal, quantos é que realmente quiseste dar? Quantas vezes foste almoçar com o teu progenitor no Dia do Pai sem vontade? A quantas festas de aniversário foste só para não parecer mal? Vais àqueles almoços de domingo porque queres ir ou porque tem de ser? É muito importante sermos verdadeiros connosco e com os outros. Não sou defensor do movimento “só faço o que me apetece”, não é disto que se trata. Refiro-me a estarmos por inteiro nos sítios onde vamos e nas acções que tomamos. Podemos julgar que nos estamos a sacrificar em prol de um bem maior, mas não podíamos estar mais enganados. Independentemente das circunstâncias, cada uma de nós continua a ser o eterno responsável pelo seu comportamento. E acreditem: tudo o que for derrubado pela honestidade é porque não tinha razão de existir.

Talvez se fossemos mais reais, transparentes e honestos, tudo seria mais natural e genuíno. Fazer porque sim é pouco. Já imaginaste como seria se cada um de nós estivesse onde deve estar, fizesse o que tem a fazer e fosse quem realmente é? Provavelmente, muitos dos que estão a ler esta crónica estão a pensar: “Pois, isso é muito bonito, mas...”. Sabem que mais? Não há mas, nem meio mas. Como é lógico, o mais fácil é vitimizarmo-nos e ignorar as várias alternativas. Ainda assim, experimenta oferecer algo porque sentes, não porque o calendário te obrigou. Tenta celebrar o Dia dos Namorados porque estás nesse mood,​ não porque tens receio de desiludir a tua cara metade. Opta por levar o teu pai a almoçar quando queres realmente estar com ele, não porque tens receio de estar a falhar com as tuas obrigações.

Obriga-te a ser livre — isso, sim, é amor.