As tecnologias e as relações sociais

Estaremos então a dispensar o contacto pessoal? Estaremos a prescindir do calor humano, substituindo-o pelo frio dos nossos aparelhos electrónicos? E até que ponto estamos a desistir uns dos outros?

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Vivemos na era digital. Como é que este facto tem vindo a afectar as nossas relações sociais? É verdade que muita da partilha actualmente se faz através do ecrã, mas parece que às vezes nem para isso arranjamos tempo. 

A verdade faz-nos mais fortes

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Vivemos na era digital. Como é que este facto tem vindo a afectar as nossas relações sociais? É verdade que muita da partilha actualmente se faz através do ecrã, mas parece que às vezes nem para isso arranjamos tempo. 

Preocupamo-nos com os likes, cuscamos as partilhas dos nossos amigos, acabamos a ver vídeos de DIY com ideias que até nos parecem tentadoras, mas para as quais nunca arranjamos tempo e, no fim, esquecemo-nos do contacto real. Estamos tanto tempo em frente aos dispositivos electrónicos e, no entanto, conseguimos passar dias sem saber como está aquele amigo que tinha uma consulta no médico ou aquela colega de trabalho que andava com problemas. Quando há silêncio do outro lado, tudo está bem, certo? A verdade é que muitas vezes há medo. Medo de partilhar, de incomodar. E não, muitas vezes nem tudo está bem. Mas passa-nos ao lado. 

Há uns anos, no seguimento de um trabalho para a faculdade, deparei-me com uma Ted Talk que falava sobre as relações humanas e a Internet. A sua oradora, Sherry Turkle, é professora no Massachusetts Institute Of Technology (MIT) e estuda essencialmente a forma como a tecnologia influencia os indivíduos e as suas relações sociais.

Esta palestra foca-se na dependência cada vez maior dos sujeitos para com os dispositivos móveis e na forma como estes têm um impacto negativo nas relações. Alerta também para o facto de muitos confundirem aquilo que é partilhado como uma forma de comunicação autêntica. Isto é, pensamos que estamos conectados uns com os outros, mas na realidade não estamos. Tudo não passa de uma ilusão, que muitas vezes se baseia no medo que o ser humano tem de se sentir sozinho e na consequente necessidade de ser ouvido e validado. 

Ora, até que ponto as nossas conversas e partilhas online são autênticas? A verdade é que nas interacções sociais não temos filtros, não podemos rectificar o que dizemos ou a forma como agimos. Se a Internet nos dá a capacidade de partilhar algo com o qual não nos sentimos tão confortáveis a dizer pessoalmente, também acabamos por abdicar, muitas das vezes, de um toque, de um olhar, de uma resposta mais honesta. Vivemos num mundo onde temos acesso a tudo à distância de um clique, mas no fim acabamos cada vez mais por nos isolar

Estaremos então a dispensar o contacto pessoal? Estaremos a prescindir do calor humano, substituindo-o pelo frio dos nossos aparelhos electrónicos? E até que ponto estamos a desistir uns dos outros? 

Por muito ocupados que estejamos, penso que se existir vontade, haverá sempre tempo. Haverá sempre cinco minutos para perguntarmos por quem gostamos, para beber o tal café que adiamos há meses, para abraçar quem precisa. E muitas das vezes quem mais precisa somos nós. O ser humano tem a necessidade e a capacidade de estabelecer conexões, mas parece que se tem vindo a esquecer como se faz tal proeza. Esquecemo-nos muitas vezes que lidamos com pessoas que, tal como nós, têm fragilidades e passam por dificuldades e acabamos por estabelecer relações superficiais com base nos likes, preocupando-nos mais com as histórias de pessoas que não conhecemos e das quais lemos, precisamente, online. 

É essencial aprender a conversar, aprender a partilhar, eliminar o estigma de “não querer incomodar” e, por outro lado, estarmos abertos também a ouvir, sem restrições. Há que encarar esta tarefa hercúlea, que é a importância de criarmos ligações reais, como algo que tem de ser feito, pelos outros, mas acima de tudo, por nós próprios.