TikTok limitava vídeos de utilizadores LGBTQ+, com excesso de peso ou cicatrizes visíveis

A TikTok diz que as regras faziam parte da política inicial da aplicação para diminuir o bullying online.

Foto
O TikTok diz que a política de limitação de conteúdo já não está em vigor

O TikTok, a aplicação de partilha de vídeos da China que é popular entre os mais novos, admitiu ter reduzido o alcance do conteúdo de alguns utilizadores para evitar bullying na plataforma. Incluir a sigla LGBT+, ser estrábico, mostrar sinais de deficiência visível, cicatrizes faciais, sinais ou excesso de peso diminuía o número de utilizadores a quem os vídeos eram mostrados. A prática durou, pelo menos, até Setembro deste ano. 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O TikTok, a aplicação de partilha de vídeos da China que é popular entre os mais novos, admitiu ter reduzido o alcance do conteúdo de alguns utilizadores para evitar bullying na plataforma. Incluir a sigla LGBT+, ser estrábico, mostrar sinais de deficiência visível, cicatrizes faciais, sinais ou excesso de peso diminuía o número de utilizadores a quem os vídeos eram mostrados. A prática durou, pelo menos, até Setembro deste ano. 

O caso foi exposto esta semana pela Netzpolitik, uma organização alemã que se foca em direitos e cultura digital. Documentos internos obtidos pela Netzpolitik mostram que os moderadores do TikTok deviam suprimir o alcance de vídeos de utilizadores que revelassem características do que a empresa categoriza como “risco 4” e que inclui “pessoas susceptíveis de bullying devido à sua condição física ou mental”. A empresa dava vários exemplos, incluindo aparentar ter sintomas de Síndrome de Down ou ser estrábico.

Uma das formas de suprimir o alcance de vídeos de utilizadores de “risco 4” era garantir que utilizadores fora do país de origem do criador do vídeo não o vissem. Outra estratégia era impedir o conteúdo de chegar à lista de conteúdo mais popular no TikTok. Como a duração limitada dos vídeos (o máximo é um minuto) podia dificultar a identificação de utilizadores de “risco 4”, muitos eram identificados por utilizarem bandeiras coloridas nas descrições dos seus perfis, ou utilizarem a hashtag #disability (inglês para deficiência)

A empresa admitiu a prática, mas diz que as regras faziam parte da política inicial da aplicação. “A abordagem não foi pensada como uma solução a longo prazo, e embora tenha sido criada com boas intenções, percebemos que não era a melhor abordagem”, disse um porta-voz do TikTok em declarações ao site Netzpolitik.

O PÚBLICO tentou contactar a equipa do TikTok para mais detalhes, mas não obteve resposta até à hora de publicação deste artigo. A equipa da rede social diz que as regras de moderação referidas pelo site estão desactualizadas. Os documentos revelados pela Netzpolitik têm cerca de quatro meses.

A notícia chega numa altura em que a aplicação é alvo de criticas por ter removido temporariamente um vídeo de uma adolescente americana que criticava o tratamento dado pelo regime de Pequim aos uigures, que são uma minoria muçulmana na China. A empresa já pediu desculpas, dizendo tratar-se de um erro e clarificando que o vídeo não incluía qualquer conteúdo proibido na plataforma.

Idade limite para oferecer presentes

Com três anos de existência, a equipa do TikTok nota que o foco actual é motivar os utilizadores a interagir positivamente uns com os outros. Uma das novas estratégias, anunciadas esta semana, inclui limitar o acesso de menores de 18 anos à funcionalidade de “presentes digitais” da plataforma.

Em causa está o facto de alguns dos utilizadores mais novos gastarem muito dinheiro para oferecer prendas digitais (compradas no TikTok com dinheiro real) aos utilizadores mais populares na plataforma em troca de serem mencionados nos seus vídeos. O caso foi exposto em Julho numa investigação da BBC, que compilava casos de vários jovens no Reino Unido (alguns com apenas 13 anos) que gastavam até centenas de libras por mês no TikTok, sem o conhecimento dos pais. Alguns pagavam para ter acesso ao número de telefone dos utilizadores que mais admiravam.

“Estamos a fazer estas mudanças para fomentar um ambiente seguro onde utilizadores de todas as idades podem apreciar um vídeo em directo sem encontrar abusos, como qualquer tipo de pressão para enviar presentes virtuais”, justifica a empresa em comunicado.

Lançada em 2016 na China e no ano seguinte no resto do mundo, o TikTok é uma aplicação da startup chinesa Bytedance utilizada para partilhar vídeos curtos, com cerca de 15 segundos, em directo. Muitas vezes, os vídeos mostram jovens a dançar ou a encenar sketches de comédia. 

Desde 2018 que a aplicação TikTok está disponível em 150 mercados, sendo a aplicação móvel mais descarregada nos EUA. De acordo com dados de 2018 da analista GlobalWebIndex, 41% dos utilizadores do TikTok tem entre 16 e 24 anos. Dados partilhados pela Similar Web referentes ao mês de Dezembro notam que em Portugal, a aplicação é a 16.ª aplicação gratuita mais popular na loja online do Google e a 22.ª na loja da Apple.