Desassoreamento do Mondego afectou passagem para peixes de Coimbra

Número de lampreias e sáveis a utilizar a estrutura caiu a pique em 2019, ano em que a seca contribuiu para a diminuição.

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ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

Em 2018, houve 11.259 lampreias e 5446 mil sáveis a usar a passagem para peixes da ponte-açude de Coimbra. Este ano, os números desceram vertiginosamente: foram menos de 1000 lampreias e menos de 500 sáveis a utilizar a estrutura que permite ultrapassar a barreira física instalada à porta da cidade.

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Em 2018, houve 11.259 lampreias e 5446 mil sáveis a usar a passagem para peixes da ponte-açude de Coimbra. Este ano, os números desceram vertiginosamente: foram menos de 1000 lampreias e menos de 500 sáveis a utilizar a estrutura que permite ultrapassar a barreira física instalada à porta da cidade.

A lampreia é um animal particularmente sensível aos períodos de seca. Daí que as passagens tenham atingido números mínimos em 2017 (foram 295), quando no ano anterior tinha sido de 9412. Mas a seca, só por si, não explica os números de 2019, aponta o professor da Universidade de Évora e investigador do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, Pedro Raposo de Almeida.

A questão é que, no ano anterior, foram depositadas areias a jusante da ponte-açude, provenientes da operação de desassoreamento do rio Mondego, precisamente a montante do mesmo açude. Esse transporte estava previsto e tinha como objectivo fazer reposição sedimentar do rio a jusante de Coimbra. “Como não choveu, o leito ficou assoreado”, explica Raposo de Almeida, que trabalha com o sistema de observação da passagem para peixes do Mondego no âmbito do projecto An@dromos.pt, um programa financiado pelo MAR2020. E foi esse assoreamento a jusante que obstruiu o acesso dos peixes migradores, como o sável, a lampreia-marinha ou a truta à passagem para peixes de Coimbra.

A passagem para peixes, uma estrutura da Agência Portuguesa do Ambiente, veio ajudar a resolver um problema que existia desde a construção da ponte-açude, nos anos 1980, fornecendo às espécies piscícolas migradoras um meio de ultrapassar a barreira. A passagem foi inaugurada em 2011, sendo que há um sistema activo desde 2013 que faz a contabilização de algumas das espécies que por ali sobem o rio.

“Temos duas situações”, resume o investigador do MARE: “um ano de seca e o leito completamente assoreado. Ora isto fez com os números da passagem de peixe fossem absolutamente desastrosos”. Pior, sublinha, é que os peixes anádromos, como o sável e a lampreia, embora se desenvolvam no mar, reproduzem-se em água doce. Assim, o número destes peixes que se reproduziu este ano “foi baixo”, refere o académico.

Quando os trabalhos de desassoreamento estavam a decorrer, Pedro Raposo de Almeida diz que procurou avisar a ARH do Centro do potencial impacto da colocação de inertes naquela zona, mas sem efeito. Não foi o único. Em Julho de 2018, a Quercus publicou um comunicado alertando para o depósito de areia no leito do rio a jusante da cidade, referindo que poderia ter “grandes impactos ambientais e sociais que não foram acautelados”. O PÚBLICO procurou obter esclarecimentos junto da APA, mas não obteve resposta.

Tendo como objectivo prevenir novas cheias, o desassoreamento do rio Mondego custou quatro milhões de euros, teve início em Agosto de 2017 e terminou em 2018, um ano antes do previsto.